* François Silvestre
Não me lembro de ter usado
esse espaço da Prosa do Domingo, desde os tempos do Novo Jornal, para tratar da
política eleitoral do Rio Grande do Norte.
Faço isso hoje. Vejo nas
folhas que os senadores José Agripino e Garibaldi Alves ofereceram apoio à
candidatura de Carlos Eduardo Alves, prefeito de Natal, ao governo do Estado.
Carlos Eduardo tem chances
reias nessa disputa? Sim. Ninguém nega isso. O problema é saber com qual
companhia ele pretende enfrentar a disputa. A companhia dos anônimos, vítimas
das oligarquias e de si próprios, pela culpa in elegendo, ou a companhia
dinástica dos mesmos de sempre?
Imagino Agnelo perguntando:
“Se José Agripino visse a chance de eleger um governador com seu apoio, quem
seria esse candidato senão Felipe Maia”? Ou “se Garibaldi Alves tivesse
idêntica chance, qual seria seu candidato a não ser Walter Alves”?
Ajudo Agnelo: “E se ambos se
sentissem com peso de elegerem um governador, não seria entre eles a escolha de
um dos filhos”? Ou não é assim que raciocina a dinastia?
Nas oligarquias, os
sobrinhos vêm depois dos filhos. Se o prêmio é bom e fácil vai para o filho.
Mas se for carne de pescoço, tem cunhado, sobrinho e até irmão. Filé é do
filho. O eleitor e o assessor ficam com o arrasto do fato, tripas e miúdos.
Também vejo, nas folhas, que
o argumento dos dois senadores parece razoável. Disseram ao prefeito da
Capital: “Você tem uma chance ímpar e talvez não tenha outra”. Tudo por conta
da garantia de apoio dos dois “generosos” senadores.
Faz sentido? Não. Só parece.
Basta ver a história recente, das últimas eleições, para concluir que o sentido
é outro. A generosidade é apenas a esperteza fantasiada de desprendimento.
Nas eleições passadas, os
dois senadores estavam juntos. E ainda com Wilma de Faria. Com tudo que era
prefeito. Mandaram um recado a Robinson Faria: “Você tem a vice-governança,
algumas secretarias e facilidades para a eleição do seu filho. Fora disso, você
não tem a mínima chance”.
Quem transmitiu essa
mensagem? O deputado Getúlio Rego. Se for mentira, não é minha. Foi o próprio
Robinson quem me contou, num restaurante da cidade, na presença do jornalista e
escritor Alex Medeiros.
Naquele dia eu fui prestar
um serviço, gratuitamente, ao governador eleito, em quem eu não votara.
Serviços gratuitos que prestei, ao longo da vida, a outras oligarquias e outros
oligarcas. Alguns desses serviços eu repetiria; de outros, eu faço autocrítica.
Robinson não aceitou “a
única chance” e derrotou todo mundo. Ganhou o desconhecido, pois o eleitor
mostrou-se cansado da esperteza manjada dos conhecidos. Infelizmente, ao
tornar-se conhecido, Robinson mostrou-se apenas uma repetição decepcionante.
Conseguiu a proeza de produzir saudade do governo anterior.
Portanto, Carlos Eduardo tem
uma chance. A de mesmo sendo conhecido, não se tornar o boi de piranha dos
parentes e aderentes espertos, que buscam a própria salvação. E não o interesse
público. O boi distrai as piranhas e os espertos atravessam o rio. Pequeno do
Norte.
O envelhecimento de
Garibaldi Alves e Agripino Maia não é físico ou mental. É fruto de um tempo que
eles construíram de enrugamento político, cansaço histórico e o poder a
qualquer custo. O tempo e os fatos oferecem aos dois uma saída digna, que é a
abstenção de candidaturas. Se não quiserem sepultar os últimos esperneios das
próprias dinastias.
Se Carlos Eduardo decidir a
candidatura por essa via, já começa declarando sua aliança com a fisiologia
eleitoral. Não será novidade nem ofertará esperança. Será apenas, se vencer, a
visita da saúde, ao Estado moribundo.
E vai pastorear um rebanho
de carneiros deslanados, condenados ao embuste, num curral de mourões
apodrecidos. Té mais.
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