Do portal Observatório da Imprensa
O jornalismo passou por muitas mudanças durante as
últimas cinco décadas, por uma revolução devido à televisão e por outra, devido
à internet. O caso Watergate também desempenhou um papel, alterando a função da
imprensa, com os repórteres ficando mais agressivos e duros e cada vez mais
críticos aos líderes dos governos.
Entretanto, uma importante mudança tem sido
subestimada nas avaliações da mídia – o número crescente de artigos
jornalísticos mais analíticos. Na década de 50, as matérias tinham por foco, em
grande parte, o “quem, o que, onde e quando”, mas atualmente, e cada vez mais,
os textos fornecem as informações de bastidores.
Consequentemente, os leitores recebem muito mais do
que somente os fatos. Recebem também os “e daí” e os “por quês”.
Dando a esse novo estilo de reportagem o nome de
“jornalismo contextual”, os professores Katherine Fink e Michael Schudson, da
Universidade de Columbia, fizeram um levantamento de três jornais – o New
York Times, o Washington Post e o Milwaukee Journal
Sentinel – durante os anos de 1955, 1967, 1979, 1991 e 2003.
Os pesquisadores fizeram uma análise de conteúdo de
cerca de 1.900 matérias individuais, agrupando-as em gênero ou tipo. No estudo
que resultou desse trabalho em 2013, “The Rise of Contextual Journalism,
1950s-2000s”, que foi lançado na revista acadêmica Journalism,
os autores destacam que os jornalistas adicionam cada vez mais interpretações
aos principais fatos de uma matéria.
Mudança ainda está aberta ao debate
Entre as questões apontadas pelo estudo, estão:
** A “reportagem contextual”, caracterizada por
maior análise e interpretação, cresceu de cerca de 10% em todos os artigos, em
1955, para cerca de 40% em 2003.
** As matérias convencionais, com foco no “quem, o
que, quando e onde”, diminuíram de 80% ou 90%, nas três publicações, para cerca
de 50% no mesmo período.
** O número de artigos por página diminuiu 53%, de
13,5 em 1955, para 7,3 em 2003. Parte dessa queda pode ser atribuída ao tamanho
cada vez maior dos artigos, mas também ao fato de se acrescentarem fotos e
material promocional à medida que os jornais se esforçavam para refletir o
estímulo visual da televisão.
** Embora o número de matérias investigativas na
primeira página tenha crescido – não havia matéria alguma na amostra de 1955
examinada, mas sete em 1991 e quatro em 2003 –, continuou sendo muito pequeno o
número de artigos investigativos devido ao tempo e esforço gastos para
produzi-los.
** Matérias de empatia social aumentaram de 1% do
total de cobertura para 6% em 1991, percentual que foi mantido em 2003.
Embora alguns críticos argumentem que acrescentar
comentários a matérias jornalísticas pode representar uma violação dos padrões
e normas jornalísticos (que os repórteres deveriam limitar-se a apresentar os
fatos), Jonathan Stray escreve, num artigo para o Nieman Journalism Lab, da Universidade de
Harvard, que essa mudança pode ser apropriada.
“Ninguém precisa de uma organização jornalística
para saber o que a Casa Branca está dizendo, uma vez que todos os despachos de
imprensa são repassados para o YouTube”, escreve Stray. “O que precisamos é de
alguém que nos diga o que isso significa. Em outras palavras, o jornalismo deve
atualizar a cadeia alimentar da informação.”
Katherine Fink e Michael Schudson avaliam que o
veredicto sobre o lado positivo da mudança na direção do “jornalismo
contextual” ainda está aberto ao debate. “O jornalismo contextual emergiu como
um companheiro poderoso e predominante da reportagem convencional. O impacto
que ele tem sobre a maneira das pessoas compreenderem seu mundo ainda tem que
ser explorado.”
Nota do Blog – O jornalismo contextual, ou analítico-opinativo,
tem sido o forte deste Blog.
Foram seus próprios webleitores que através dos
anos foram definindo esse perfil e tendo papel colaborativo, o que concorre
para formação de uma bolha crítica e quebra do monopólio da opinião.
Assim, nunca existe uma notícia-postagem de cima
para baixo, definitiva e sem retoques, mas uma espécie de “linha de montagem”
industrial.
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