Honório de Medeiros
Alguns
políticos são líderes de um sistema de forças políticas.
Porque
sistema? Para diferenciá-lo de conjunto, um aglomerado de alguma coisa reunido
sem qualquer propósito específico. Um monte de pedras, por exemplo, largados em
algum lugar.
“Forças
políticas”, por sua vez, são segmentos constituídos por militantes expostos ou
não, que embora integrantes do todo que é o sistema, atuam em espaços e tempos
distintos: há o âmbito municipal, o estadual, o federal; há o judiciário, o
legislativo, o executivo; há a Igreja Católica, a Evangélica, o Candomblé; há
os homossexuais, os negros, as mulheres, os jovens; há os intelectuais, os
técnicos, os carregadores-de-piano, há os servidores públicos e os celetistas;
há as associações de classe e os sindicatos, e assim por diante. Cada segmento
desses é uma força política em si mesma.
O líder de
um sistema de forças políticas possui seguidores firmes, no topo e/ou na base,
em todos esses segmentos, que são elos de ligação, pontos de intersecção,
núcleos irradiadores e receptores da teia ou rede que é como visualmente
podemos conceber o ambiente e o tempo onde o sistema se espraia ou se concentra.
Tais seguidores podem ter herdado seu próprio “status” ou mesmo tê-lo
conquistado ao longo de um processo às vezes demorado, às vezes rápido, mas
plenamente absorvível, desde que respeitada a tessitura, o bordado que o compõe
e que é seu limite natural de sobrevivência.
Sabe-se acerca
da existência de um sistema de forças políticas por intermédio de vários meios,
mas o apropriado, realmente, é utilizar o princípio da exclusão ao se analisar
o quadro político onde supostamente ele estaria inserido. Basta, então, nos perguntarmos,
ao analisarmos um determinado espaço delimitado geograficamente, como o Rio
Grande do Norte, qual grupo político nele não poderia faltar, sob pena de descaracterização
da pesquisa.
Da mesma forma, podemos utilizar o mesmo
princípio da exclusão para localizarmos, sem qualquer dúvida, qual o verdadeiro
líder de um sistema político: será sempre aquele sem o qual há um vazio de
poder inaceitável, uma fragmentação de toda a rede ou teia, um desmoronamento
de todo arcabouço construído.
Obviamente
dentro do próprio sistema de forças políticas às vezes o líder é conduzido,
embora sempre pareça o oposto; da mesma forma, pode ocorrer, em vida,
abruptamente ou não, o deslocamento do bastão de comando das mãos do antigo
líder para as de outro mais jovem. Em sistemas de forças políticas
razoavelmente sofisticadas, apesar de alguns abalos de percurso, esse processo
ocorre naturalmente, embora também haja o contrário, situação esta que, o mais
das vezes, conduz a rupturas que iniciam o seu desmanche.
O certo é
que há políticos, em contraposição, que não lideram sistemas de forças, mas um conjunto
de agregados, vez que não comandam, coordenam ou dão direção à teia, rede, ou
malha, com algum propósito que não seja a mera e instintiva sobrevivência.
Não possuem núcleos de Poder nos quais
se firmem; não conhecem intercessões técnicas nos processos nos quais estão
inseridos; não recebem e enviam informações através de mecanismos de busca e
recepção confiáveis.
Por não possuírem recursos humanos
qualificados dos quais se valham em qualquer situação, tais líderes políticos supõem
comandar quando, na realidade, são pautados ou manipulados a uma distância além
da possibilidade do seu entendimento; por não compreenderem que o instante não
faz a história; a força não cria o Poder; a circunstância não elabora o
definitivo; o presente não engendra o futuro ansiado; o efêmero não constrói o
permanente; e a decisão solitária não tece a sabedoria.
Firmam-se, em contraposição à
perenidade concreta dos sistemas planetários, para usar uma analogia pobre, mas
consistente, como cometas[1]
que brilham majestosos por algum tempo, mas logo se desfazem em pó, sequer
deixando sua marca no imenso espaço do Universo.
[1]
Introdução aos Cometas (http://www.if.ufrgs.br/ast/solar/portug/comet.htm): cometas são corpos pequenos, frágeis e irregulares, compostos de uma mistura
de grãos não-voláteis e gases congelados. Eles têm órbitas altamente elípticas,
que os trazem para muito perto do Sol e os jogam profundamente no espaço,
freqüentemente para além da órbita de Plutão.
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