Por Rostand Medeiros
Em 9 de janeiro de 1980, o jornalista pernambucano Nilson
Deocleciano Pereira Lima falecia no Hospital Geral de Urgência de Recife . O
jornalismo nordestino perdeu então um profissional de espírito irrequieto,
considerado um ótimo repórter e que se foi com apenas 38 anos.
Nilson Pereira Lima atuou em veículos de comunicação como os
jornais “O Globo” (Rio de Janeiro), “Diário de Pernambuco” e “Jornal do
Comércio” (Recife), além de ter atuado nas revistas “O Cruzeiro”, “Veja” e
“Manchete”. Esteve também em redações de emissoras de televisão. Seu trabalho
foi laureado com o Prêmio Esso de Jornalismo.
Segundo a reportagem sobre a sua morte, publicada no “Jornal
do Comércio”, edição de 10 de janeiro de 1980, entre as décadas de 1960 e 1970
Nilson viajou muito pelo interior do Nordeste . Deste período o jornal destaca
uma reportagem feita no Rio Grande do Norte, onde ele apresentou o “Sindicato
da Morte”. Este era um grupo de pessoas que se especializou em contratar “mão
de obra qualificada”, que atuavam no Seridó e Oeste potiguar, matando quem quer
que fosse e preços a serem combinados.
A reportagem do “Jornal do Comércio” informa que em suas
viagens, Nilson Pereira Lima não deixava passar a oportunidade de entrevistar
pessoas que estiveram envolvidos com cangaceiros, ou foram vítimas destes. Para
este fim utilizava os velhos e pesados gravadores de fitas K7, daqueles que a
energia provinha de quatro pilhas das grandes e era transportado a tiracolo.
Batalhador, ele não deixava de buscar uma boa informação sobre o cangaço,
Lampião, coronéis e outros personagens nordestinos, indo buscar as fontes nos
rincões mais isolados.
Consta que ele foi a última pessoa a entrevistar Francisco
Heráclio do Rêgo, o famoso coronel Chico Heráclio, do município de Bom Jardim,
Pernambuco, considerado o derradeiro coronel nordestino.
Anda sobre o cangaço, Nilson Pereira Lima possuía um vasto
acervo de gravações e fotografias, conquistado em uma luta de muitos
quilômetros de estrada. A reportagem informa que ele desejava escrever uma
biografia de Lampião, onde buscaria dar um enfoque diferenciado a vida deste
bandoleiro.
Tempos depois após seu falecimento, mais precisamente no dia
12 de maio de 1980, na coluna do jornalista Paulo Fernando Craveiro, na página
A-6 do Diário de Pernambuco, publicou uma pequena nota informando que o acervo
de Nilson Pereira Lima sobre o cangaço seria doado a Fundação Joaquim Nabuco.
Efetivamente, em 28 de outubro de 1981, segundo o site desta
instituição (http://www.fundaj.gov.br/docs/indoc/icono/npl.html) a viúva do
jornalista, a Senhora Cristina Maria Fills Pereira Lima, entregou a esta
respeitada entidade o material de seu esposo.
Segundo o site, constam no inventário da Fundação Joaquim
Nabuco 165 fotografias, com uma abrangência que abarcar os anos entre 1930 a
1974, com autores como os fotógrafos Pedro Luiz e Alcedo Lacerda e outros não
identificados. O site ainda informa que algumas destas imagens mostram áreas do
Rio Grande do Norte, como a região de Mossoró, Angicos e as nossas salinas.
Relativo ao cangaço nesta coleção, o site informa que
existem “fotos de cangaceiros com familiares e captores”.
Sobre as gravações, não existe nenhuma referência.
Busquei contato com esta entidade através de telefone, onde
fui muito bem atendido, mas não obtive nenhuma resposta se, no momento da
entrega do acervo do jornalista Nilson Pereira Lima, o material gravado foi
igualmente entregue.
Realmente esta coleção, na mão de um esforçado pesquisador,
poderia render ótimos frutos e ótimos trabalhos. Para este pretenso
pesquisador, ele nem precisaria viajar ao interior para procurar as fontes e
isto lhe facilitaria muito a sua vida.
Um adendo.
Segundo site da Fundação Joaquim Nabuco, que no seu estatuto
informa ser uma “entidade vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, sem
fins lucrativos”, que apregoa em seu site ter como missão “Produzir, acumular e
difundir conhecimentos, resgatar e preservar a memória e promover atividades
científicas e culturais, visando à compreensão e ao desenvolvimento da
sociedade brasileira, prioritariamente a do Norte e do Nordeste do país”, chega
a cobrar até R$ 92,00 pelo serviço de reprodução digital (em resolução 300 DPI)
de cada uma das fotos da coleção do jornalista Nilson Pereira Lima, ou de
qualquer outra imagem de suas variadas e raras coleções de fotografias.
No site da Fundação encontramos a informação que
“Diversificar e ampliar as ações de comercialização de bens e serviços para
elevar a arrecadação de recursos próprios é uma das prioridades estratégicas da
Fundação Joaquim Nabuco”.
Realmente “prioridade” não é a mesma coisa que “missão”.
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