• Honório de Medeiros
Somente precisamos entender, e aceitar, que não necessariamente precisamos dar nossa opinião quando ela não for solicitada.
O silêncio incomoda muito mais.
@honoriodemedeiros honoriodemedeiros@gmail.com
"Sapere Aude"
• Honório de Medeiros
Somente precisamos entender, e aceitar, que não necessariamente precisamos dar nossa opinião quando ela não for solicitada.
O silêncio incomoda muito mais.
@honoriodemedeiros honoriodemedeiros@gmail.com
Quanto menos novo fico, quanto
mais o tempo passa, aumenta o meu fascínio pelo Eclesiastes. Texto poético
belíssimo, sapiencial, denso, condena muitos livros a sua real e diminuta
dimensão. Incita-nos a questionarmos nossa vaidade tola em um mundo cujos
alicerces estão firmados de tal forma, que parecem inexoráveis e eternamente incompreensíveis,
alheios à nossa vontade e capacidade de entende-los.
1. Palavras § de
Qohélet filho de Davi rei § em Jerusalém
2. Névoas de nadas § disse
O-que-Sabe
névoa de nadas § tudo névoa-nada
3. Que proveito § para o homem
De todo o seu afã §§
fadiga de afazeres § sob o sol
(...)
7. Todos os rios § correm para o
mar §§
e o mar § não replena §§§
Ao lugar § onde os rios § acorrem
§§
para lá § de novo § correm
(...)
9. Aquilo que já foi § é aquilo
que será §§
e aquilo que foi feito §§ aquilo
§ se fará
E não há nada de novo § sob o sol
10. Vê-se algo § se diz eis § o
novo §§§
Já foi § era outrora §§
fora antes de nós § noutras eras
(...)
QOHÉLET/O QUE SABE
ECLESIASTES
Transcriado por Haroldo de Campos
A pandemia impulsionou
as "lives". São de todo o tipo e modelo. Abordam desde culinária a
física quântica. Acrescentou a possibilidade de visualizar os participantes, e
isso é significativo. Tornou o debate mais fragmentado, curto (tempo), democrático
e raso. Bastante raso. Golpeou fundo esse velho companheiro, o livro,
principalmente aquele que expressa o pensamento vertical, difícil de ser
horizontalizado, próprio dos livros canônicos.
C'est la vie, c'est la belle vie, c'est la vraie vie, c'est ça la vie...
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Em Ficções, Borges pondera:
“Desvario laborioso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de explanar em quinhentas páginas uma idéia cuja exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que estes livros já existem e apresentar um resumo, um comentário. Assim procedeu Carlyle em "Sartor Resatus" (...) Mais razoável, inepto, ocioso, preferi a escrita de notas sobre livros imaginários."
Borges cita Carlyle, de quem, possivelmente absorveu a técnica.
Entretanto Dumas pai, que foi contemporâneo do célebre ensaísta inglês, também a utilizou.
Em Os Quarenta e Cinco, lá para as tantas, ao relatar uma correspondência imaginária enviada por Chicot a Henrique III, e comentar a excentricidade do seu estilo, convida: “Quem quiser ter conhecimento dela encontra-la-á nas Memórias de l’Étoile”.
Ou, quem sabe, terão existido mesmo essas Memórias de l’Étoile e elas
ocupam algum escaninho empoeirado do “Cemitério dos Livros Esquecidos” que
Carlos Ruiz Zafón localizou em Barcelona, na saborosa e definitiva tetralogia iniciada com A Sombra do Vento?
Só o vento sabe a resposta...
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Não há nada de novo sob o sol. Seguimos aparentemente em frente para destino ignorado, permanecendo os mesmos de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, e os meios que são criação nossa, mas dos quais somos reféns para lidarmos conosco, os fenômenos e as coisas, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um "vir-a-ser", como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.
Essência imutável, forma evanescente.
Leio em Os Crimes de Paris, de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior que sua vida. "Depois de cometer vários crimes na juventude, trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Sureté, o equivalente francês do FBI, e modelo para vários personagens da literatura", dizem-me eles.
Fascínio antigo esse meu por Vidocq. Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira agência de detetives do mundo, o "Bureau de Reinseignements", ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência de detetives com esse nome?
Vidocq inspirou Maurice Leblanc na criação do célebre “Arsène Lupin, O Ladrão de Casaca”, que eu lia, fascinado, na adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró, minha Macondo particular, que não existe mais, pelo menos neste plano.
Inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac, Vautrin, presente em vários livros da Comédie Humaine.
Vautrin, o mesmo que em certo momento, lá para as tantas, explica o mundo:
"-E que lodaçal! - replicou Vautrin. - Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia e à justiça para manter essa moral... Bonito, não é?"
Assim falava minha mãe: "vão-se os anéis, permanecem os dedos..."
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
* honoriodemedeitos@gmail.com
Estamos cansados. Encenamos uma peça que não escolhemos, no teatro da vida, com parceiros que nos impuseram ou não soubemos selecionar, e uma finalidade que não é aquela que nosso coração escolheria. A razão ansiosa, sim, o coração, não. Lutamos pela admiração alheia, deixando de lado o olhar melancólico do nosso verdadeiro eu, que nos olha do espelho com olhos surpresos pelos nossos fracassos. E, quando menos esperamos, o tempo passou, tudo aquilo pelo qual valia a pena viver se foi como uma bolha de sabão ao sabor do sol, porque chegou o inverno, a última das estações da vida...
Sir Karl Raimund Popper
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)