Um estudo de Caso: o cangaceirismo
* Honório de Medeiros
A hipótese do “Outsider” que diz “Não!”, aplicada ao estudo da história. Um método.
Lampião, porém, era um rude guerrilheiro, um gênio em
estratégia, inteligência e astúcia (...) um homem do seu tipo surge de cem em
cem anos (Lampião Cangaço e Nordeste, Aglae Lima de Oliveira)[1].
Nesse sentido, a mesma revisão feita sobre tantas das
revoltas políticas, sociais e religiosas brasileiras cabe no que toca ao
chamado banditismo rural nordestino, de cuja realidade ontológica também se
pode dizer gilbertianamente tratar-se de agressão à cultura primitiva,
recalcada, porém não destruída (Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço, Frederico
Pernambucano de Mello)[2].
Na terra seca, o homem é castigado pela inclemência climatérica, mas tem a compensação da liberdade individual imensa, formando-se uma humanidade altiva, de uma independência quase selvagem, indisciplinada, sem submissões ao trabalho, sem vida sistematizada. Cada homem é dono de suas ventas e, acostumado aos horizontes largos, para ele o mundo é grande e Deus é maior. E Deus é a aventura. É a possibilidade de fazer de suas apragatas verdadeiras botas de sete léguas, que poderão ser utilizadas deserto adentro para os lados em que o sol se põe, sem nunca chegar à serra por detrás da qual ele se deita. Nessa direção, o sertanejo pode vagabundar num verdadeiro caminho para o infinito, fugindo da coerção que lhe venha da polícia ou do trabalho organizado (Brejos e Carracais do Nordeste, Limeira Tejo, citado em Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil, por Frederico Pernambucano de Mello)[3].
Introdução
É
sob esse prisma, o dos inconformados (irresignados) que se revoltam e dizem
“Não!”, transgridem e, a partir de então, são considerados “Outsiders”, que
poderia ser estudado, por exemplo, o cangaceirismo...
CONTINUA...
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