Eduardo
Aires Berbert Galvão *
O governo federal, amparado por um estudo do Banco Mundial, prepara um projeto
para diminuir a remuneração inicial de todas as carreiras do poder executivo
federal. O argumento é que a remuneração de ingresso no serviço público é
desarrazoadamente maior que a remuneração inicial de um profissional na
iniciativa privada.
Como servidores de carreira, louvamos ações que diminuam gastos
públicos, privilegie investimentos e estimule a economia. Também compartilhamos
da indignação de saber das distorções absurdas que existem na folha do
funcionalismo, as quais, infelizmente, tornam-se invisíveis quando discutem-se
médias salariais.
Somos favoráveis a cortes de gastos, mas não compactuamos com a
disseminação de informações imprecisas, muitas vezes resultantes de perguntas
mal formuladas, das quais só podem surgir respostas equivocadas. Discutir
com base em truísmos populistas, que soam doces aos ouvidos, mas que não
enfrentam o problema, foi e continua a ser a atitude preponderante que nos
trouxe ao atual cenário econômico, de crise.
Que a
remuneração inicial na carreira de gestor governamental e todas as outras do
Governo Federal estão acima da média inicial de um advogado, engenheiro ou
economista recém-formados, não há duvidas. E não poderia ser diferente, já que
a comparação é descabida. Os aprovados em concursos públicos de carreiras são,
em sua maioria, profissionais com mais de uma década de experiência, 34 anos de
idade (em média), detentores de títulos de pós graduação lato sensu e, não
raramente, stricto sensu.
Uma
discussão séria também deve ter em conta que o aprovado em concurso não está
sendo contratado por um escritório sem know how (como ocorre com a grande maioria de
profissionais recém-formados), com meia dúzia de profissionais. Estamos falando
de uma megaorganização, com centenas de milhares de trabalhadores.
Dito isso, os valores de referência para discussão são outros,
pois tratamos do recrutamento de profissionais sênior, egressos do mercado para
uma grande corporação.
Quando uma grande empresa, que busca a excelência e
ótimos resultados, abre o processo de seleção para profissionais sênior, não o
faz em busca do profissional mais baratos e nem cogita colocar em posições
estratégicas recém-formados. Elas buscam o profissional mais qualificado e essa
é a razão da opção pelo concurso público e não uma licitação tipo menor preço.
Se os gestores não estão em cargos e desempenhando papel de gestão
– como o próprio nome sugere – é devido a uma dificuldade do governo, e não do
servidor público. Ao buscar o valor da remuneração média do profissional com
esse perfil – e existem esses estudos em nosso país –, um advogado sênior em
cargo de direção e assessoramento receberá uma remuneração entre R$ 11 mil e R$
41 mil, a depender de sua área de atuação, e para ficar somente na profissão de
advogado.
Por óbvio que o subsídio do Governo Federal não é nivelado por
baixo, mas está rigorosamente dentro da média do mercado. Quanto mais se primar
pela qualidade do profissional, mais atrativa deve ser a remuneração – e claro
que a população não é desejosa da diminuição da qualidade das contratações no
serviço público, que já deixa a desejar por completa falta de estrutura e
investimento.
Servidores não desejam e muito menos aceitam que o patrimônio
público seja dilapidado – razão pela qual somos favoráveis a correções de
eventuais distorções e estamos abertos ao diálogo e à construção de
alternativas. Mas até o momento o governo não se mostrou disposto a enfrentar o
problema. Somente movimentou-se em busca de melhorarias de sua imagem,
espalhando “verdades” fáceis e palatáveis aos que desconhecem a dinâmica da
administração pública.
* Presidente da Federação Nacional de Carreiras de Gestão de
Políticas Públicas (Fenagesp) e do Sindicato dos Gestores Governamentais
de Goiás (SindGestor).
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