A Princesa do meu Reino
Parece que foi ontem, mas você tinha ainda quatro ano:
- Papai,
o medo pode transformar a gente em herói, não é?
- Como
assim, Bárbara?
- Como
Mogli, papai.
- O
que é que tem Mogli?
- Ora,
papai, ele estava com medo dos bichos e aí ele fez muitas coisas.
- Como
Mogli?
- Sim
Papai. Você não gosta de Coragem, o Cão Covarde?
- Gosto.
- Então?
Coragem não é medroso? E ele sempre não salva sua dona?
Minha filósofa...
Não pude perceber, não tinha como, não é, naquele momento, sua inteligência fulgurante, a rapidez e a profundidade do seu raciocínio, sua propensão para a abstração. Não pude pressentir, ali, sua capacidade de viajar da matemática para a literatura, fazendo conexões complexas, com a simplicidade que somente alguns privilegiados possuem...
Minha bela...
E essa sua beleza moreno-clara que chama a atenção pela simplicidade harmoniosa dos traços, esse rosto suave emoldurado pelo sorriso luminoso que é uma das suas características físicas mais marcantes?
Minha amiga e confidente...
Não é assim que nós somos? Amigos desde sempre? Não nos divertimos em longos debates espirituosos e tortuosos, com todas as armas retóricas possíveis, cheios de estratégias e táticas inimagináveis? Não nos consolamos mutuamente, quando a tristeza quer nos arrebatar? Não nos escutamos mutuamente quando o dia ensolarado insiste em se fazer noite tempestuoso? Não já beijei suas lágrimas? Não fui abraçado forte e carinhosamente por você nos meus cansaços?
Minha inspiração...
Que dizer do seu apurado senso social? De sua indignação com as injustiças? De sua tristeza com a miséria, com a humilhação, com a opressão? Do quanto você me inspira? Do quanto você me impediu, muitas vezes, de entregar os pontos?
Conclusão:
Tudo foi, minha princesa, uma eternidade que passou como em um piscar de olhos, de tão feliz: cada segundo, cada minuto, hora, dia, anos, desde o momento mágico em que a tive pela primeira vez nos braços, tão frágil, tão indefesa, tão pequenina, até hoje, quinze anos depois, quando eu a olho e abraço, e meu coração se contrai, acelera, e percebo a menina-moça encantadora que você se tornou.
Deus lhe abençoe, meu amor: que a vida lhe seja leve!
Honório de Medeiros
4 comentários:
Belíssimo! Dizer mais o quê? Belíssimo! Do tio, François.
Que lindo, Honório! Parabéns a todos vcs! Muitas saudades!
"Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo. "
J. Petit Senn. Parabéns parabéns a todos.
"Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo. "
J. Petit Senn. Parabéns parabéns a todos.
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