sexta-feira, 14 de setembro de 2012

RAINHA DA COCAÍNA: ASSASSINADA MULHER QUE INTRODUZIU DROGA NOS EUA


 
Griselda Blanco
 

GRISELDA BLANCO INSPIROU PABLO ESCOBAR
 
 Por Ailton Medeiros
 
Paulo Nogueira resgata a história da colombiana Griselda Blanco, traficante famosa na década 70, espécie de Corleone de saia, morta há poucos dias em Medelim, onde vivia depois de passar vinte anos numa prisão em Miami.
 
Foi ela que introduziu, nos anos 1970, a cocaína nos Estados Unidos em escala industrial. A droga saia da Colômbia direto para a Flórida. Griselda tinha 69 anos de idade. Segue o texto na íntegra:
 
Griselda Blanco só não pode ser acusada de ter passado em branco pela vida, brutalmente encerrada em Medelim poucos dias atrás quando ela saía de um açougue.
 
O resto ela fez. Matou dois maridos, batizou um filho de Michael Corleone, amealhou uma das maiores fortunas do mundo nos anos 1980, deu a seu mastim o nome de Hitler, comprou jóias que pertenceram a Eva Peron e promoveu orgias nas quais se divertia com homens e mulheres sob o estímulo de doses épicas de cocaína. Calcula-se que ela tenha sido a responsável por 240 mortes ao longo de uma carreira que desafiaria a imaginação de qualquer roteirista criativo de cinema.
 
Grisela, apelidada “Madrinha”, inventou o traficante de drogas tal como o conhecemos hoje. Pablo Escobar foi seu discípulo. Foi ela que introduziu, nos anos 1970, a cocaína – vinda da Colômbia — nos Estados Unidos em escala industrial. Segundo o tablóide londrino Sun, foi ela também que trouxe a novidade em pó para os ingleses.
 
Era um tempo em que a fiscalização na alfândega era quase que inexistente. Num certo momento, Grisela chegou a empregar 1 500 traficantes. Sua base era Miami. A série Miami Vice de alguma forma é filha de Grisela.
 
Grisela inventou, também, um tipo de crime que se alastraria: os assassinos se aproximavam de seus alvos numa moto, um dirigindo e o outro com a arma, e faziam o serviço na hora certa. A fuga era fácil.
 
Grisela, em seus anos de opulência em Miami, fez a felicidade de muitos policiais, brindados com propinas enormes. A vida começou a ficar dura quando entraram em cena os agentes do DEA, o departamento da polícia americana dedicado a combater o tráfico.
 
Como é tão comum, Grisela começou cedo, como prostituta em Medelim. Adolescente ainda, casou com um vigarista que vendia passaportes falsificados. Matou-o numa disputa de negócios. Não era seu primeiro assassinato: aos 11 já tinha matado um homem. O casamento seguinte foi com um traficante, com o qual ela viu que droga dava muito mais dinheiro que passaporte.
 
O segundo marido começou numa determinada hora a achar que ela estava ficando com muito poder. Irritou-o, particularmente, o apelido de Madrinha, tirado do filme O Poderoso Chefão. As desinteligências se acentuaram, e eles acabaram trocando uma saraivada de tiros como se fosse uma cena de Scarface de Pacino. Ele morreu, e ela quase. Acabou se recuperando de uma bala no estômago, e viveria os anos de ouro de sua carreira no tráfico. A melhor maneira de combater a concorrência, para Griselda, era simplesmente matando-a.
 
O DEA acabou por prendê-la em meados dos anos 1980. Na época, vivia com o último marido, um afro-americano bem mais jovem que ela. Grisela passou vinte anos na cadeia em Miami, e ao final da pena foi deportada sob completa discrição para evitar o inevitável — a vingança de tantos inimigos que fizera. Voltou à sua Medelim já transformada fisicamente numa abuela – avó – gorda. Tinha feito plásticas e contava não ser reconhecida. Tinham sobrado algumas propriedades que lhe trariam uma aposentadoria tranquila.

 Até que alguém – não se sabe ainda quem — a reconheceu, a despeito de todos os anos e todas as plásticas.
 
O fim teve uma justiça poética. A Madrinha foi alcançada por criminosos numa moto, exatamente no estilo que ela inventara e popularizara.
 
Tinha 69 anos.
 
Seu legado estará para sempre presente nas narinas de adeptos da cocaína, a droga que ela transformou para uma elite festiva internacional num produto de consumo quase tão chique e glamuroso quanto Gucci, Prada e Chanel.

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