Griselda Blanco
GRISELDA BLANCO INSPIROU PABLO ESCOBAR
Por Ailton Medeiros
Paulo Nogueira resgata a história da colombiana Griselda
Blanco, traficante famosa na década 70, espécie de Corleone de saia, morta há
poucos dias em Medelim, onde vivia depois de passar vinte anos numa prisão em
Miami.
Foi ela que introduziu, nos anos 1970, a cocaína nos Estados
Unidos em escala industrial. A droga saia da Colômbia direto para a Flórida.
Griselda tinha 69 anos de idade. Segue o texto na íntegra:
Griselda Blanco só não pode ser acusada de ter passado em
branco pela vida, brutalmente encerrada em Medelim poucos dias atrás quando ela
saía de um açougue.
O resto ela fez. Matou dois maridos, batizou um filho de
Michael Corleone, amealhou uma das maiores fortunas do mundo nos anos 1980, deu
a seu mastim o nome de Hitler, comprou jóias que pertenceram a Eva Peron e
promoveu orgias nas quais se divertia com homens e mulheres sob o estímulo de
doses épicas de cocaína. Calcula-se que ela tenha sido a responsável por 240
mortes ao longo de uma carreira que desafiaria a imaginação de qualquer
roteirista criativo de cinema.
Grisela, apelidada “Madrinha”, inventou o traficante de
drogas tal como o conhecemos hoje. Pablo Escobar foi seu discípulo. Foi ela que
introduziu, nos anos 1970, a cocaína – vinda da Colômbia — nos Estados Unidos
em escala industrial. Segundo o tablóide londrino Sun, foi ela também que
trouxe a novidade em pó para os ingleses.
Era um tempo em que a fiscalização na alfândega era quase
que inexistente. Num certo momento, Grisela chegou a empregar 1 500
traficantes. Sua base era Miami. A série Miami Vice de alguma forma é filha de
Grisela.
Grisela inventou, também, um tipo de crime que se
alastraria: os assassinos se aproximavam de seus alvos numa moto, um dirigindo
e o outro com a arma, e faziam o serviço na hora certa. A fuga era fácil.
Grisela, em seus anos de opulência em Miami, fez a
felicidade de muitos policiais, brindados com propinas enormes. A vida começou
a ficar dura quando entraram em cena os agentes do DEA, o departamento da
polícia americana dedicado a combater o tráfico.
Como é tão comum, Grisela começou cedo, como prostituta em
Medelim. Adolescente ainda, casou com um vigarista que vendia passaportes
falsificados. Matou-o numa disputa de negócios. Não era seu primeiro
assassinato: aos 11 já tinha matado um homem. O casamento seguinte foi com um
traficante, com o qual ela viu que droga dava muito mais dinheiro que
passaporte.
O segundo marido começou numa determinada hora a achar que
ela estava ficando com muito poder. Irritou-o, particularmente, o apelido de
Madrinha, tirado do filme O Poderoso Chefão. As desinteligências se acentuaram,
e eles acabaram trocando uma saraivada de tiros como se fosse uma cena de
Scarface de Pacino. Ele morreu, e ela quase. Acabou se recuperando de uma bala
no estômago, e viveria os anos de ouro de sua carreira no tráfico. A melhor
maneira de combater a concorrência, para Griselda, era simplesmente matando-a.
O DEA acabou por prendê-la em meados dos anos 1980. Na
época, vivia com o último marido, um afro-americano bem mais jovem que ela.
Grisela passou vinte anos na cadeia em Miami, e ao final da pena foi deportada
sob completa discrição para evitar o inevitável — a vingança de tantos inimigos
que fizera. Voltou à sua Medelim já transformada fisicamente numa abuela – avó
– gorda. Tinha feito plásticas e contava não ser reconhecida. Tinham sobrado
algumas propriedades que lhe trariam uma aposentadoria tranquila.
Até que alguém – não
se sabe ainda quem — a reconheceu, a despeito de todos os anos e todas as
plásticas.
O fim teve uma justiça poética. A Madrinha foi alcançada por
criminosos numa moto, exatamente no estilo que ela inventara e popularizara.
Tinha 69 anos.
Seu legado estará para sempre presente nas narinas de
adeptos da cocaína, a droga que ela transformou para uma elite festiva
internacional num produto de consumo quase tão chique e glamuroso quanto Gucci,
Prada e Chanel.
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