sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"NO CAMINHO DE SWANN", PROUST


Proust

"Até então, como muitos homens cujo gosto artístico se desenvolve independentemente da sensualidade, houvera uma estranha disparidade entre as satisfações que concedia a uma e outra coisa, gozando na companhia de mulheres cada vez mais grosseiras, a sedução de obras mais e mais refinadas, levando, por exemplo, uma criadinha a um camarote reservado, para assistir à representação de uma peça decadente que ele tinha vontade de ouvir ou a uma exposição de pintura impressionista, e persuadido, aliás, de que uma mulher do mundo cultivado não compreenderia muito mais do que a criada, mas não saberia calar-se tão gentilmente.
(...)
Tendo aliás deixado enfraquecerem as crenças intelectuais da sua juventude, e havendo o seu ceticismo de mundano penetrado até elas, sem que o soubesse, pensava (ou pelo menos o pensara tanto tempo que ainda o dizia) que os objetos do nosso gosto não possuem em si mesmos um valor absoluto, mas que tudo é questão de época, de classe, tudo consiste em modas, as mais vulgares das quais valem tanto como as que passam por mais distintas."

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