segunda-feira, 9 de abril de 2012

CONHECIMENTO E LIBERDADE

Liberdade!
vedanta.pro.br

Por Honório de Medeiros

                               Uma das consequências do mundo virtual de hoje, ou pós-modernidade, se assim o quiserem denominar, é que seremos todos ignorantes no geral e conhecedores no particular. Saberemos cada dia mais, acerca de cada dia menos, e, nesse ritmo, talvez saibamos, um dia, individualmente, quase tudo acerca de quase nada.
                   Isso me lembra algo vivido na adolescência: um Congresso Internacional de Fitopatologia, promovido pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), para o qual se anunciava a presença de um belga, professor-doutor, especialista na reprodução de um tipo de mosca sazonal, existente nos nossos litorais. Ou seja, quase tudo acerca de quase nada.
                   A verdade é que nosso cérebro possivelmente não suporta fazer a síntese de todo o conhecimento específico ao qual temos acesso, para estabelecer generalizações consistentes.
                   Os troncos quem compõem o nosso conhecimento geral, Marx, Freud, Darwin, Einstein, e alguns outros, para ficarmos no século XX, aos poucos estarão de tal forma diluídos na nossa memória, que o conhecimento específico possível e atual, individualmente, consequências dessas teorias fundantes, de tão afastado do original que os precedeu, dele somente guardará, se guardar, pálida lembrança.
É o caso, por exemplo, de citações de trechos descontextualizados desses pensadores, possíveis de serem encontrados em trabalhos acadêmicos, com os quais guarda vaga relação.
                   Vejamos o exemplo da produção dita científica nos mestrados e doutorados: de tão especializada se apresenta que seus elaboradores passam a ver a realidade por um olho só, quando deveriam ser como o monstro guardião do Pomo das Haspérides, na mitologia grega, que tinha cem olhos.
                   Caso queiramos pensar em profundidade, estabelecendo as conexões possíveis do presente com o passado intelectual comum à espécie humana, teremos sempre que nos reconstruir teoricamente, buscando reiteradamente nossas fundações intelectuais, em uma escala que não tem fim, dado o conhecimento existente.
Onde iremos parar?
Não há tecnologia que nos permita esse maciço empreendimento de inferências, de intuições e deduções, partindo-se de premissas gerais que nos conduzam às conclusões possíveis, após relacioná-las com as infinitas possibilidades que são os fatos ou fenômenos atuais, permitindo-se, então, um permanente e denso saber.
 Experimentem teclar, por exemplo, no Google, o verbete “marxismo”, e constatar a quantidade de textos ao qual o leitor tem acesso!
                   Assim, em consequência, encastelados em nichos de saber, seremos cada vez mais manipuláveis, posto que os fundamentos do conhecimento que alicerçam nossa compreensão acerca do que nos cerca, como a questão da liberdade, está se esgarçando rapidamente.
                   Acaso as novas gerações se dão conta das causas e do contexto no qual surgiu a discussão acerca da liberdade? Sabem do titânico choque de ideias entre Platão e os Sofistas no que diz respeito à relação entre o Homem e sua Realidade Moral? Entendem que a vitória de Platão e o consequente exílio intelectual dos sofistas conduziu a civilização ocidental a um longo período de trevas no que diz respeito à liberdade?
Esgarçar que ocorre, também, em decorrência da necessidade inexorável de vivermos vertiginosamente uma realidade que não compreendemos, de tão fugaz e complexa, e não podemos parar para compreendê-la, o que torna possível a reconstrução diária, por parte de quem controla a mídia, por exemplo, do sentido do que seja liberdade. Tal é o processo do qual são criadores e criaturas as elites dominantes.
                   Não vivemos, pois; sobrevivemos enquanto espasmos. Somos iludidos e nos auto-iludimos. Estamos hoje tão nus quanto nossos ancestrais mais remotos, quando lutavam em meio hostil, caçando e coletando, muito embora as selvas, os desertos e o gelo, onde nos debatemos hoje, sejam de outro tipo.
                   Como não podemos Conhecer, com C maiúsculo, somos manipuláveis.
Somos crianças com os conhecimentos específicos necessários para sobrevivermos e alimentarmos a realidade que nos nutre e da qual nos alimentamos. Sabemos, como dito acima, cada dia mais acerca de cada dia menos. Sabemos quase tudo, certo dia, sobre quase nada. Este é nosso destino, nossa glória, nosso ocaso...
                   E como sabemos cada dia mais acerca de cada dia menos, e somos impelidos a tal, e aceitamos, para sobrevivermos na superfície da realidade, com uma extrema especialização decorrente da divisão do trabalho que nos é imposta, perdemos o contato com o restante do todo, e, em nossa ignorância quanto a esse fato, nos curvamos aos que vêm nos dizer o que nós somos e como devemos fazer em relação às pessoas e às coisas e fenômenos.
                   Somos instados, manipulados, a não perguntarmos acerca do que nos dizem ou escrevem, para não escutarmos que se não nos perguntam acerca do que conhecemos, porque devemos indagar acerca do que não conhecemos? Cada qual com seu cada qual... É dessa forma que as finanças públicas, constituídas pelo nosso suor, às vezes nosso sangue, são um verdadeiro mistério. Razões de Estado, diriam...
                   Viveremos, no futuro, como os seres humanos de Matrix, sonhando que viviam, quando viviam para sonhar, enquanto a máquina que os mantinha imersos em sonhos, e que é uma alegoria do Estado, se nutria desse sono eterno?

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