Fui visitar Seu Antônio de Luzia.
João, seu filho, João de Antônio de Luzia, a quem eu encontrei, antes, na Pedra do Mercado, me preveniu: "tá falando muito pouco e escutando demais."
"Por que?"
"Sei não. Eu pergunto o que é e ele, sentado naquela cadeira de balanço, estira a mão para cima e sacode os dedos como se estivesse espantando mosca."
Seu Antônio estava lá no mesmo lugarzinho de sempre, na calçadinha de sua casa de tijolos crus, olhando o tempo, cumprimentando os passantes com um balançar de cabeça para cima e para baixo.
"Boa tarde, Seu Antônio, como vão as cousas?".
"Boa tarde!"
E eu me danei a falar e ele só escutando, olhando e calando.
Lá para as tantas, perguntei: "o Senhor perdeu o gosto de falar?"
Ele ficou calado um tempão, pigarreou e disse: "tem muita gente sabendo de tudo, falando muito; eu, quanto mais vivo, menos sei das coisas."
Parou, pigarreou, tomou um gole de café, cuspiu no chão de barro da rua do Sítio Canto, e rematou: "O pouco que sei faço com as mãos: cortar um capim, debulhar um feijão, pegar um balde d'água no poço..." João só olhava.
Mais não disse.
Ficamos os dois, cismarentos, enquanto a tarde ia e a noite chegava.
A noite e os mosquitos.
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