Honório de Medeiros
Quando
Hélio Xavier de Vasconcellos assumiu a Secretaria de Educação do Estado do Rio
Grande do Norte, no Governo José Agripino, eu era recém-formado e tinha sido
seu aluno na disciplina Direito do Menor, no Curso de Direito da Federal.
Vivíamos
o começo dos estertores da Ditadura.
Contratado
pela Prefeitura Municipal do Natal, um pouco antes, gestão Marcos César
Formiga, graças a instâncias de Avany Policarpo, a quem tinha sido apresentado
por Eri Varela, para criar e desenvolver uma ação social por nós denominada “Projeto
Juventude”, estava entregue à sonolência burocrática desde que a movimentação
gerada pelos concursos literários, shows, recitais, teatro de arena, enfim,
música, literatura e politização de lideranças jovens, e desenvolvida nos
bairros populares, começou a incomodar os vereadores “da situação” e sua
hegemonia ambulatorial. Pediram minha cabeça. Avany não admitiu. Esvaziaram-me
completamente.
Hélio,
tão logo convidado para a Secretaria de Educação, me telefonou e convidou para
fazer parte do que ele chamou de “meu gabinete”: eu, enquanto assessor “especial”,
seu Chefe de Gabinete Virgílio Fernandes, hoje Desembargador do Tribunal de
Justiça do Rn, e Omar Pimenta, seu grande amigo e companheiro, Coordenador dos
Núcleos Regionais e Educação.
Hélio
fez uma gestão notável, apesar de todos os pesares, mesmo torpedeado pela
esquerda e direita, incompetentes como sempre, do Rn. A esquerda dizia que ele
se vendera; a direita, que não era confiável. Não preciso esmiuçar esse momento
da história do nosso Estado. Quem vale a pena saber, sabe. Espero que o tempo
lhe faça justiça.
Daquele
período, tirante o trabalho em si, dois momentos foram inesquecíveis, para mim.
No primeiro, Hélio me chama em seu Gabinete e diz: “o Governador mandou me
chamar para perguntar se era verdade que você estava trabalhando comigo.
Confirmei e lhe perguntei se tinha algum problema. Ele me disse que um grupo de
vereadores (os mesmos que boicotaram o Projeto Juventude) tinha lhe dito, em
audiência, que você era do PMDB autêntico, tinha trabalhado na campanha de
Aluízio, e era comunista. Eu respondi que, de fato, você tinha trabalhado na
campanha de Aluízio, e integrava o PMDB Autêntico, mas era de minha inteira
confiança. Quanto a ser comunista, eu disse se fosse por ser comunista, o
primeiro a ter que sair era eu, que não negara esse fato quando recebera o
convite para ser Secretário. Zé Agripino riu e mudou de assunto”.
Eu
fiquei até ir para Brasília, integrar o Governo da Nova República.
O
segundo momento foram vários, muitos, sempre com o mesmo feitio: terminava o
expediente, tarde da noite, e lá íamos Hélio, Omar, eu e Virgílio tomar uns
dois ou três uísques nos bares da noite, a repassar o presente, projetar o
futuro, e rir à bandeiras despregadas das estórias que o “Vermelhinho”, como o
chamava Virgílio, contava com uma maestria insuperável, “causeur” de primeira,
como o era.
Duas
delas, de tão boas, eu lamento muito não poder contar aqui...
Dos
professores que tive, alguns foram muitos importantes; poucos, essenciais;
muito poucos, além de essenciais, eu trago em meu coração com respeito,
admiração e afeto.
Jales
já se foi. Hélio é um deles.
3 comentários:
Bravo, amigo! Gratidão e muito bem querer pelo "Vermelhinho"...
lmangela@ig.com.br
Justa homenagem. Também foi um homem de excelente humor. Faz muita falta ao povo potiguar por ser um ser exageradamente humano, solidário e com essa característica que vai se perdendo sufocado por grosserias: um homem de posições e um humor gaiato...
Marcos Dionisio Medeiros Caldas
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