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Reuters
A vitória era necessária. O paradoxo
de jogar pelo resultado em amistoso é um dos maiores problemas do Brasil país
sede, sem eliminatórias. Desde Mano Menezes.
Luiz Felipe Scolari precisa entrosar a base que escolheu, mas também fazer
experiências. A conclusão é que o grupo é bom, mas não há o time.
Ao menos conseguiu a tão esperada vitória contra uma seleção forte ou
tradicional. Mesmo a desfalcada e retrancada França, que mostrou respeito em
Porto Alegre repetindo o 4-1-4-1 compacto e fechado de quando enfrenta a Espanha
bi da Europa e campeã mundial.
Quantas fases vitoriosas de times e seleções não começaram com um triunfo sem
brilho, mas que resgata a confiança?
No entanto, para que o bom momento se consolide é preciso mais do que fazer
Neymar voltar a render com a camisa verde e amarela e produzir além dos três
gols e das três assistências em 2013.
A seleção tem que definir uma maneira de jogar. A dificuldade continua sendo
criar espaços. Mano apostava em linhas avançadas, trocas de passe e
movimentação. Dunga, o antecessor, adiantava a marcação, pressionava,
incentivava os chutes de fora da área e jogadas aéreas até abrir o placar e
depois matar o oponente nos contragolpes.
Felipão investe nas laterais. No primeiro tempo, o Brasil girou a bola e
atacou os franceses com o quarteto ofensivo - Hulk pela direita, Oscar mais por
dentro e Neymar à esquerda atrás de Fred - e mais Daniel Alves e Marcelo. Ora
abertos, ora procurando o centro para ocupar o espaço que seria de Paulinho
chegando de trás. Nem sinal dos "80% ataque" que Luiz Gustavo diz ser o pedido
do técnico ao volante do Corinthians.
O time tende a jogar bolas na área procurando o centroavante ou definir com o
meia aberto buscando a diagonal. Porque não há um elemento aparecendo de
surpresa pelo centro ou se apresentando como opção para a virada de jogo mais
rápida. Por isso a exigência de volantes que saibam jogar. No meio, eles têm
espaços para avançar e não sobrecarregar o meia de ligação. Scolari convocou os
melhores, mas os subutiliza no 4-2-3-1/4-4-1-1 presos bem próximos aos
zagueiros.
Olho Tático
Tudo se resolveu na segunda etapa quando a França enfim abriu as linhas, Luiz
Gustavo roubou, Fred se deslocou em aceleração e Oscar aproveitou o espaço
deixado. O gol que facilitou as mudanças e, principalmente, os contragolpes.
Com Fernando e Hernanes no meio e Lucas e Jô se juntando a Neymar no ataque,
saiu o contra-ataque que quase deu errado quando Paulinho, mais avançado, não
foi preciso no passe para Lucas, mas Neymar acertou a assistência e Hernanes o
chute que bateu na trave antes de vencer Lloris.
Olho Tático
No final, a experiência de David Luiz como volante mais plantado - não
terceiro zagueiro, nem um "novo Edmilson 2002" - e a velocidade de Bernard pela
esquerda que abriu espaços para a arrancada de Marcelo em diagonal que terminou
no pênalti convertido por Lucas. Fim do jejum.
Olho Tático
A repetição da palavra "espaço" é proposital, não um erro deste que escreve
na composição do texto. O bom futebol é o que melhor o administra.
Rinus Michels, da célebre Holanda de 1974, foi o primeiro a exigir o que se
faz hoje: reduzir o campo de ação do adversário sem a bola e alargar o próprio
quando a retoma. Adiantar as linhas defendendo e voltar atacando, recuando até o
goleiro se for preciso para obrigar o oponente a sair.
No Brasil isso é motivo para vaias. Ainda mais no sul do país, onde se
pratica um jogo intenso e vertical desde sempre. Então é bola para frente, ainda
que seja para bater no muro de defensores. Ou esperar o erro para responder
rápido e com espaço, sempre ele. Nem sempre acontece. Se o rival for às redes
antes, então...
É este o cenário da seleção repleta de dúvidas, mas com a certeza de que
invariavelmente entrará em campo, já a partir da estreia na Copa das
Confederações contra o Japão, com o favoritismo e a obrigação de vencer em casa
para superar o trauma do Maracanazo de 1950.
O desafio maior é saber lidar com esse peso. Nos pés e na cabeça.
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