segunda-feira, 6 de junho de 2011

EM "DOUTOR PASAVENTO", DE ENRIQUE VILA-MATAS

Robert Walser


"Em Walser, o discreto príncipe da seção angélica dos escritores, eu pensava com freqüência. E já fazia anos que ele era meu herói moral. Admirava a extrema repugnância que lhe causava todo tipo de poder e sua precoce renúncia a qualquer esperança de sucesso, de grandeza. Admirava a sua singular determinação de querer ser como todo mundo quando na realidade não podia ser igual a ninguém, porque não desejava ser ninguém, e isso era algo que sem dúvida lhe dificultava ainda mais o desejo de ser como todo mundo. Admirava e invejava sua caligrafia, que no último período de sua atividade literária (quando se entregou àqueles textos em letra minúscula conhecidos como microgramas), foi se tornando cada vez menor e o levou a substituir o traço da pena pelo do lápis, porque sentia que este se encontrava 'mais perto da desaparição, do eclipse'. Admirava e invejava seu lento mas firme deslizamento em direção ao silêncio. O escritor mexicano Christopher Domínguez Michael chegou a dizer que em meus livros a aparição rotineira de Robert Walser era tão necessária como a de Sandokan no ciclo salgariano."

Enrique Vila-Matas, "Doutor Pasavento"  

Nenhum comentário: