No capítulo da ‘Resistência ao Cangaço’, em Mossoró, há mistérios que ainda não foram desvendados pelos historiadores e/ou pesquisadores.
Além de Isaías Arruda, de Aurora – CE, quem mais deu apoio ao ataque de Lampião e seu bando na Paraíba, no Pernambuco e no RN?
Quem realmente arquitetou o plano (que sempre foi divulgado ser da responsabilidade de Massilon Leite)?
Qual o motivo principal, além da arrecadação do dinheiro, e por quê a agência do Banco do Brasil foi sequer molestada com um tiro?
Qual a razão da trincheira de Rodolpho Fernandes ter sido o alvo principal e, será por isso que a mesma foi a melhor preparada para o revide?
Somando-se a isto há indícios de que o intendente de então, Rodolpho Fernandes, tinha a certeza de que seria o principal alvo deste ataque, devido a avisos e correspondências recebidas da Paraíba.
Raul Fernandes em A MARCHA DE LAMPIÃO, escreveu à página 29, que “em dezembro de 1926, Joaquim Felício de Moura, sócio da firma Monte & Campos; Primo, viajava pelo interior da Paraíba. Na cidade de Misericórdia (atual Itaporanga), encontrou-se com destacado comerciante e fazendeiro, Antonio Pereira de Lima” e este lhe contou do plano de Jararaca, Sabino, Massilon e Lampião de assaltarem Mossoró com 400 homens.
Inteirou-se sobre a possibilidade de defesa da cidade e lhe pediu que informasse ao prefeito Rodolfo Fernandes esses fatos. Rodolpho, ao tomar conhecimento deu ciência aos familiares e amigos mossoroenses; novamente Raul cita: “Daí por diante os boatos se sucederam. Dos remotos sertões de Pernambuco, Paraíba e do Ceará surgiram indícios dos agenciadores da vergonhosa empreitada”.
O que nos leva crer na citação de nomes dos prováveis coiteiros.
Essa carta foi levada ao conhecimento dos amigos de confiança do prefeito que estavam preparando a estratégia para a formação das trincheiras nos pontos principais da resistência. Dentre eles, Joaquim Felício de Moura, Afonso Freire de Andrade e outras pessoas mais chegadas confirmaram tê-la visto nas mãos do Coronel Rodolfo.
Para a família, dias após o ataque, Rodolfo Fernandes fez referências sobre a missiva do amigo paraibano de Pombal.
Outra confirmação do envio da carta está no artigo: “Major Argemiro Liberato de Alencar: o amigo de Rodolfo Fernandes", escrito pelo seu neto Geraldo Alves de Alencar, hoje residente em São Luiz do Maranhão, que cita o seguinte sobre o avô: “Era fazendeiro, proprietário da Fazenda “Estrelo”, situada em sua cidade natal. Exercia também a profissão de comerciante, trazendo da Paraíba algodão transportado em costas de burros e vendido em Mossoró, estado do Rio Grande do Norte. O principal comprador era a firma cujo maior acionista era seu amigo e compadre o Cel. Rodolfo Fernandes. Em suas viagens como almocreve retornava a Pombal com sal e outros gêneros. Mesmo tendo um sobrinho nas hostes do cangaço, o qual atendia pelo nome de Ulisses Liberato de Alencar, Argemiro era profundamente contra o banditismo rural, chegando inclusive a avisar ao Cel. Rodolfo Fernandes, quando este era prefeito de Mossoró em 1927, que o cangaceiro tencionava atacar a cidade considerada capital do oeste potiguar. Declaradamente anti-Lampiônico, Argemiro Liberato de Alencar nunca chegou a ser perseguido pelo “rei do cangaço” porque Lampião sabia da amizade existente entre ele e o Padre Cícero.”
Afora essas cartas, há o registro dos famosos bilhetes trocados antes do ataque, um deles escrito pelo Coronel Antonio Gurgel, refém de Lampião, e respondido por Abel Freire Coelho a pedido do Prefeito, e o famoso, de Lampião, escrito de próprio punho, com a resposta à altura e escrita, desta vez, por Rodolpho.
Essa documentação foi, à época, publicada no jornal Correio do Povo, do jornalista José Octávio Pereira de Lima, como um Suplemento especial. Afinal, quem era o coiteiro de Lampião no Rio Grande do Norte? A dúvida continua após mais de 80 anos da resistência.
Fontes de Pesquisas:
ALENCAR, Elidete. Informações sobre Argemiro Liberato de Alencar. Natal/RN: Mimeo.(inéd.), 2003. 2 p.
FERNANDES, Raul. A Marcha de Lampião. Coleção Mossoroense. 6ª edição. 2005.
MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol: O banditismo no Nordeste do Brasil. Recife/PE: Ed. A Girafa, 2004.
(*) Pesquisador, sócio da SBEC e do ICOP.
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