sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DE FÁTUOS E FÚTEIS



Honório de Medeiros


                                      Um certo conhecido meu confunde necessidade de auto-afirmação com vaidade. E, dessa forma, por banalizar aquilo que o recato considera mal-gosto, pretende não somente o beneplácito de todos quantos instados a lhe dar a atenção da qual é tão carente, como – suprema ousadia – transformar sua atitude em algo perfeitamente natural.

                                      Não por outra razão sua própria mentira terminou sendo, por ele mesmo, acreditada. Aquilo que é pura e simplesmente necessidade de alto-afirmação passa, por vaidade, e esse, digamos assim, pequeno desvio de conduta - segundo os padrões morais dos discretos - por algo até mesmo louvável.

                                      No final das contas, aquilo que para meu conhecido é vaidade termina sendo para os outros – não todos, é pena, por que alguns sucumbem ao modelo que ele exporta – pura chatice. Somos condenados a ver e ouvir demasiadamente as firulas da astúcia de sua pacholice quando gostaríamos, isso sim, de deixarmos o ambiente ser preenchido pela suave diversidade da contribuição, na conversa, de cada um.

                                      Esse tipo de chato, em dias como os de hoje, são quase onipresentes: a nossa realidade é, em decorrência da lógica do capital, excessivamente competitiva, e os homens, surpreendidos com o excesso de competidores nos ambientes sociais, tendem ao artificialismo da sofisticação para demarcar seu espaço, agindo como ansiosos pavões emplumados, por não saberem o que é requinte. Ao silêncio, optam pelo barulho; à discreção, preferem o exibicionismo; à gentileza, escolhem a arrogância.

                                      Assim é que nos tempos de hoje os homens se comportam cada vez mais como caricaturas de si mesmos. Exibem ostensivamente os sinais de sua ascensão social e se tornam plenos de vulgaridade em seu habitat superlotado. Tornou-se comum, por exemplo, a exibição grosseira do hábito de fumar charutos, quando tal não faz parte de nossa cultura; discutem vinhos, quando o costume de bebê-los não tem sequer uma geração em suas próprias famílias; expõem carros, roupas, festas e jóias, sem que sejam capazes de estabelecer a diferença entre o infinitivo e o gerúndio. Querem parecer "cidadãos do mundo" anunciando viagens à Europa e emudecem quando, em conversas, por essa ou aquela razão, lhes é exigido mais conhecimento do que a leitura de algumas orelhas de livros ou a leitura de jornais e blogs.

                                      Essa futilidade paga um preço – o desdém dos poucos para os quais eles nada mais são que atores de quinta categoria em uma peça de mau gosto em um teatro mambembe. E, embora pareçam ou não se incomodar, ou depreciem os críticos, a verdade é que a simplicidade de quem estabelece distância desse modus vivendi os desarma e desconserta.

 Dia desses um deslumbrado qualquer, ao chegar a uma roda, soube que comentavam acerca de um churrasco ao qual ele não se fizera presente. Imediatamente disse: “não sou homem de freqüentar churrascos, acho deselegante”. Alguém que escutava o ir e vir da conversa solta se virou para ele e retrucou: “meu caro, não há churrasco elegante ou deselegante, pela simples razão de uma coisa não ser feia ou bonita em si mesma; somos nós que damos elegância ou deselegância às coisas; tanto o é que cachaça, por exemplo, até pouco tempo, era bebida degradante, mas hoje é artigo de primeira grandeza na mesa de pessoas como você”. “Na verdade", continuou, "se você for elegante, torna igual o ambiente para o qual se destinou; se não o é, apenas se amolda ao ambiente e toma sua forma, como a água assume a do recipiente onde foi vertida”.


                                      E o nosso conhecido vaidoso, fátuo e fútil, sequioso de ser o centro das atenções, recolheu suas plumas de pavão sofisticado e murchou vencido pela simplicidade do argumento inesperado.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

ANTÍGONA E O DIREITO NATURAL

armonte.wordpress.com


François Silvestre

         Todos os mitos possuem várias versões. Assim como as lendas vão por veredas diferentes até o miolo da chegada ao quengo da imaginação.
         Na mitologia caldaica, bela e pouco conhecida, a deusa do amor, Ihsthar, ameaça Anhur, deus dos céus, de cortar por um segundo o condão do afeto, criando um hiato na sinfonia do erotismo universal. E com a ameaça consegue o benefício reivindicado.
         O mito de Antígona não foge à regra. São inúmeras versões. Porém todas, sem exceção, preservam o fato principal que move Sófocles no contexto da sua tragédia, onde o alvo é a pertinência ou não da desobediência ao tirano quando sua ordem se confronta com o Direito Natural.
         Fica no campo secundário a origem bastarda de Antígona, da união incestuosa de Édipo e Jocasta. Mais que incestuosa, relação que desafia todos os limites do puritano. Ou se os irmãos dela se mataram num conluio de terrível acerto macabro. Ou se eram mesmo inimigos, sendo Etéocles aliado do tirano Creonte, seu tio, e Polinice inimigo figadal do tio tirano. O certo é que se mataram.
         A Etéocles Creonte ofereceu funeral honroso, com todo o aparato que cabe ao enterro dos heróis. O tirano assim homenageava o sobrinho leal.
         Mas deixou ao relento, insepulto, o corpo de Polinice. E determinou, como ordem de Estado, que a ninguém era dado o direito de sepultar o sobrinho opositor.
         Não apareceu nenhum aliado de Polinice para desobedecer a ordem do tirano. Era Lei e tinha de ser cumprida. Até por que cada Lei se legitima na fonte de sua feitura. Nas tiranias o tirano é o constituinte. Nas democracias o constituinte é o Parlamento. Mesmo com toda a esculhambação das democracias. Como diz Vicente Pentelho de Alma “quanto mais esculhambada melhor democracia é”.
         Apareceu Antígona, irmã dos dois mortos. E decidiu que a lei do seu tio não poderia prevalecer sobre a ordem natural das coisas. O enterro comum dos mortos não se rege pela lei dos vivos. E só tiranos e ditadores ferem a determinação natural desse Direito que tem leis não escritas. Por isso a história nunca vai deixar em paz a memória de quem “desapareceu” corpos de oponentes políticos.  
         Antígona sepulta o irmão odiado. E vai pagar o preço da sua rebeldia, geradora de ódio muito maior contra si do que a ira do tirano ao rebelde morto.
         O Direito Natural independe da inscrição na palavra da lei. Mas acaba se transformando em norma por imposição das conquistas humanas nas lutas libertárias.
         É por isso que há direitos indisponíveis. Onde o indivíduo não pode abrir mão do que julga ser um direito seu. Não é. Não pode machucar-se nem no físico nem na honra. E exerce legítima defesa ao repelir qualquer dessas agressões.
         Cada um há de ser, no confronto com o Estado estúpido, a reencarnação de Antígona. E jogar o próprio risco na cara do tirano. Té mais.

sábado, 30 de julho de 2011

ASSIM É SE LHE PARECE



Honório de Medeiros 

                                      Alexandre, o Grande, tinha duas opções: tentar desatar o famoso “nó Górdio” e, em o tentando, jogar as regras do jogo até então existentes, ou fazer como ele fez: criar novas condições através das quais fosse obtido um resultado aceitável. Não houve hesitação. Com um golpe de espada o conquistador do mundo cortou o nó ao meio.

                                      Colombo colocou a questão: como fazer para colocar um ovo em pé? Mais uma vez era necessário que as regras do jogo, como postas, fossem transcendidas. Caso contrário, o problema persistiria “ad aeternum”. Ninguém conseguiu, mas ele mostrou como: quebrou o ovo e o colocou em pé.

                                      Se você é convidado a entrar em uma situação na qual as regras do jogo estão definidas e as aceita tal e qual lhe foram apresentadas, do ponto de vista estratégico seu adversário está com a iniciativa e dita o ritmo da partida. Não há como ser diferente. E essa vantagem é tão significativa, principalmente por que a maioria das vezes ditada por especialistas, que é difícil não acreditar na própria derrota.

                                      No mundo da política os atos e fatos acontecem como se todos os envolvidos estivessem jogando um jogo. Na realidade, é um jogo. E existem profissionais altamente capacitados nesse jogo, como em qualquer outro. E o jogo é tão duro, tão inclemente, tão complexo, que não é para qualquer um.

                                      Em certas situações, os perdedores de um determinado embate eleitoral em pouco tempo assenhoreiam-se da vitória do adversário. É quando o vencedor, embora vitorioso, cai no canto de sereia que seus adversários preparam e em pouco tempo está dançando a música que eles querem, no ritmo que desejam.

                                      Pense bem, amigo leitor: com a vitória eleitoral de Lula, o que as elites brasileiras perderam? Os tubarões financeiros internacionais deixaram de receber os mega-juros da dívida externa brasileira? Os bancos deixaram de obter lucros estratosféricos? Os verdadeiramente pilantras endinheirados estão pagando impostos ou na cadeia? Agora conclua: é ou não é verdade que Lula ganhou a eleição e os tubarães do capital financeiro continuam no Poder?

                                      A saída é agir como Alexandre, o Grande. Ou como Colombo. Embora em casos assim, no concreto, se torne mais difícil realizar esse salto de qualidade por que é preciso ser possuidor – o líder – de uma idéia de onde e como se chegar. Guardando as proporções, é algo como uma revolução: o líder diria – não aceito que me imponham essas regras, por que o povo me elegeu para criar outras!

                                      A verdade é que, no caso de Lula, por exemplo, ele não tem qualquer grandeza. Deram-lhe as roupas de rei, mas em pouco tempo ficou provado que elas eram muito, mas muito maior que a maior das esperanças a seu respeito. Ele apenas quis o Poder e sequer soube como mantê-lo decentemente. Lula poderia ter feito as grandes reformas que o Brasil clama há tanto tempo. Mas não. Optou, por um misto de esperteza de botequim misturada com filosofia de para-choque de caminhão, em apoiar uma única política pública consistente – o pagamento dos juros escorchantes da dívida externa. Mostrou-se pequeno, muito pequeno. Tão pequeno que chega a ser ridícula sua forçada comparação com JK que, para o bem ou para o mal, ousou criar as regras do jogo.


                                      Vamos ver o que dirá a história.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FRANÇOIS VILLON (1431 - 1463?)


Sou coisa leve,
Como a folha da qual zomba o furacão.

...



Como o batel vagando sem piloto,
Como um pássaro errante pelos caminhos do ar,
Não me fixam nem as tintas nem as cordas.

...

A beleza das moças feriu meu peito.
As que não posso tocar, eu as possuo de coração.




sábado, 23 de julho de 2011

DE FALSOS SABICHÕES



Honório de Medeiros


                                 O brasileiro é folgado, sabemos.  Põe-se a pontificar acerca de qualquer assunto que lhe caia nas mãos. Não todos brasileiros, evidentemente. Alguns ficam chocados com essa atitude “chopp-com-batata-fritas”, essa persistência na superficialidade.

 Como um conhecido meu que observava, aturdido, em uma roda de bebidas, uma discussão travada a respeito de um assunto de natureza jurídica. Questão complexa, de Direito Constitucional. O bate-boca esquentava e esfriava e ele não entendia por que não lhe perguntavam como resolvê-la. Nada mais óbvio, tratava-se de um professor da disciplina.

                             No Brasil, com as exceções de praxe, ninguém quer ser tomado por ignorante, mesmo que o seja.  Evidente que há as exceções: alguns chegam até a se orgulhar de jamais ter lido nada, mas essa é a alternativa que lhe sobra para chamar o holofote para si.

Todos sabem tudo. E falam acerca de qualquer assunto com tal ar pontifical que deixaria um transeunte menos avisado perplexo com tamanha sabedoria.

Mecânica quântica? Controle difuso de constitucionalidade? O efeito do príon na interrupção do processo sináptico no Mal de Alzheimer? Favas contadas! Cada um dos integrantes da roda é capaz de falar horas acerca do assunto.

                             É bem verdade que esse mal acomete com mais profundidade bacharéis em Direito, políticos e jornalistas. Não os publicitários – o problema deles é outro, é acreditarem que são inteligentes.

 Tanto uns quanto outros, insignes leitores de capas de livros, desenvolvem, ao longo do tempo, uma rara capacidade de discorrer tudo acerca de nada. Uma palavra aqui, outra acolá, ambíguas, de conteúdo indeterminado, engatadas vagamente através de silogismos de pé quebrado, e eis o discurso pronto. 

E não adianta a contestação. Ela não é bem vinda. Pode até levar o contestador ao isolamento sob a pecha de chatice. O máximo que se pode fazer, e o que todo mundo faz, é manter fixo o olhar sobre o pontificador enquanto a mente divaga.

                             Evidente que esse discurso é secundado por uma perfomance corporal. E por testemunhos de ausentes em espírito. Leitor de capa de livro exige platéia. Quer ser o centro das atenções. Quer o holofote totalmente voltado para si. E assume, ao falar, os trejeitos próprios, naquilo que eles têm de caricaturesco, dos grandes mestres. E tome citação.

Pegam uma frase de Shakespeare, colhida no “Dicionário de Citações”, tirada do seu contexto, e vão embora com ela enfadar os outros. Alguns não sabem, sequer, o título do drama ou comédia de onde a frase foi pinçada.

                             Assim foi que certa vez um amigo meu conhecido por seu sarcasmo se aproximou de uma roda de Bacharéis quando um pontificador desses da vida citava Lênin – ora vejam só, Lênin – e uma sua obra denominada “Teses de Abril”.

 Meu amigo interrompeu: “você leu?” “Claro!”, respondeu o sabichão. “Naquela edição volumosa, de quase quinhentas páginas, traduzida do alemão?”, tornou a perguntar. “Exatamente ela.” “Bem que eu desconfiava”, disse, e se afastou com um sorriso irônico.

Para quem percebeu o sorriso e lhe procurou depois ele explicou: “nosso colega deve ter se enganado; o livro é fino, não fica em pé, e a tradução é do francês”.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

DA ARTE DE ROMPER UM GRANDE AMOR



Honório de Medeiros

Muito tempo depois a encontrei em um café, contemplando o mundo lá fora com aqueles seus olhos azuis maravilhosos através das volutas da fumaça do cigarro.

Após os cumprimentos de praxe, não resisti e lhe perguntei como sobrevivera ao fim do seu casamento, tão minuciosamente condenado ao fracasso, segundo sua própria avaliação, quando nos vimos pela última vez.

Ela sorriu, se espreguiçou como uma gata, tomou lentamente um gole de café e me perguntou se eu queria saber a história toda ou somente o desfecho, com algumas pinceladas óbvias como arremate.

Antes de lhe dizer que não dispensava os detalhes me lembrei que parte do seu fascínio era a administração do silêncio, e este nos induzia a supor regiões misteriosas do seu pensamento onde a fantasia bordava, junto com a realidade, situações fascinantes para quem soubesse ousar e tivesse coragem de receber.

Já naquele tempo ela reinava impune, a tripudiar das vãs tentativas dos conquistadores ávidos e tímidos admiradores, sem que as recusas constantes diminuíssem a admiração que granjeava.

Nela, nada se eximia de seduzir, mas mesmo assim um dia sucumbira a uma paixão inesperada e violenta, que a retirara do circuito das festas e badalações.

Desde o começo nós, seus amigos, percebêramos que não daria certo. Sutilmente sua liberdade fora sendo restringida – logo a dela, tão essencial a si.

Aos poucos, milímetro por milímetro, fora cedendo sem notar, encantada por uma proposta enleadora de construção do futuro a dois, mão a mão, através da imagem de uma ponte afetiva que terminaria no infinito.

Embora apaixonada foi através da persuasiva magia da visualização da fantasia de um amor único, daqueles que nutrem uma alma só em dois corpos distintos, que ocorrera a derrubada das suas últimas resistências.

Finalmente despertou e a ânsia de viver livre, solta, cobrou sua fatura.

Passou a sentir-se sufocada e a perceber as invisíveis amarras que lhe prendiam o vôo.

Queria ir embora, queria sumir, queria desaparecer, mas havia um obstáculo, um sério senão a impedir sua liberdade: o orgulho desmedido, o egocentrismo concentrado, a incontida auto-imagem que seu companheiro fazia de si mesmo. Não era possível que o relacionamento fosse desfeito sem que a explicação a ser dada para isso preservasse sua posição social e o alto conceito que fazia de sua própria imagem.

“Eu não podia dizer-lhe que ia embora por que o amor acabara; seu orgulho não aceitaria ser trocado por nada, por coisa alguma."

"Ele não admitiria nunca que não fora capaz de segurar-me e apaixonada, que eu nada mais sentia exceto um afeto meio dependente do alívio do afastamento definitivo."

"Tive, então, que criar uma paixão inexistente por outro e, pior, por alguém abaixo da escala de valores que ele prezava."

"Assim, me libertei, e ele pode dizer por aí, quando questionado, que eu havia sido uma aposta perdida porque mal avaliada; que eu fora incapaz de perceber a qualidade do sentimento que despertara; que eu fora levada a um nível incompatível com minha ausência de sofisticação; e, assim, depois, com o tempo, retornara, através de um "qualquer", ao mundo ao qual realmente pertencia”.

Disse isso e sorriu como se buscasse um cúmplice, algo para o qual eu já me destinara muito antes.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O PACTO DOS GOVERNADORES PARA ELIMINAR OS CANGACEIROS

Jararaca dias antes de ser assassinado pela polícia do Rio Grande do Norte


Honório de Medeiros

Teria havido um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros, sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça? 

O estudo dos autores e os indícios levam a crer que sim. 

Houve uma reunião em Recife, no dia 28 de dezembro de 1926, entre os chefes de polícia dos estados do Nordeste, cujo teor não pôde ser vazado para a imprensa em decorrência do seu caráter reservado e das medidas de ordem interna que estavam sendo tomadas e não podiam ser reveladas. O Governador anfitrião, Estácio Coimbra, na abertura do conclave, fizera críticas contundentes aos coronéis do interior e sua complacência com o banditismo. E já havia tomado algumas medidas radicais no combate ao cangaceirismo: nomeara, a 16 de novembro daquele ano, o Major Teófanes Ferraz Torres para comando geral das unidades policiais de cidades e vilas no interior do Estado e lhe dera “carta branca” para atacar o principal suporte dos cangaceiros, através da eliminação ou redução drástica de seus coiteiros, mesmo que para isso fosse necessário prender e torturar, como de fato foi feito ao longo dos anos seguintes.

Frederico Pernambucano de Mello[1] comenta o encontro: 

Daí para a idéia da promoção de novo encontro[2] ia apenas um leve passo. Ele é dado logo a 28 de dezembro desse ano[3] com a reunião, mais uma vez no Recife, de representantes dos Estados atingidos pela ação do banditismo – os tradicionais, como os mais recentes – de modo especial a que decorria do comando superiormente engenhoso de Lampião.

Da Paraíba, freguesa antiga do bandido, chega o chefe de polícia, Júlio Lira; do Ceará, Paes de Carvalho; do Rio Grande do Norte, Benício Filho[4]. Pernambuco se faz representar pelo chefe de polícia, Eurico de Souza Leão, e pelo secretário de Justiça, Genaro Guimarães. (...) Alagoas, Ernande Teixeira Bastos; (...) Madureira de Pinho, chefe de polícia da Bahia. 

Vamos aos indícios: no Rio Grande do Norte, Sérgio Dantas relata o episódio da morte de Mormaço e Bronzeado[5]: 

Mossoró, 12 de março. A cadeia pública passava por minuciosa revista. Prisioneiro recambiado para a cidade de Apodi deu conta às autoridades de plano de fuga encabeçado pelos cangaceiros Mormaço e Bronzeado. O objetivo da empreitada – segundo o delator – seria o aprisionamento do carcereiro e a tomada das armas depositadas no paiol. 

A polícia não titubeou e investigou sumariamente a denúncia. Descobriu sinais de arrombamento em porão localizado no setor norte do presídio. Sem maiores rodeiros, responsabilizou os dois cangaceiros por tentativa de fuga e os imobilizou à força de algemas[6]. 

Na manhã seguinte decidiu-se pelo encaminhamento dos prisioneiros para a capital. O tenente Laurentino ficou encarregado de facilitar o transporte. Além de Mormaço e Bronzeado, seriam de igual recambiados os criminosos Thomaz dos Santos e Waldemar Ramos, presos comuns, detidos há meses na cidade salineira. 

A ordem de transferência para Natal – segundo insinuações surgidas no período subseqüente à eclosão do movimento revolucionário de 1930 – partira do Governo do Estado, ainda na véspera.

Fato concreto, imaculado de dúvidas, é que a transferência em discussão foi efetivamente autorizada. 

Entre Mossoró e Açu, no Sítio Lagoa Cerrada, os bandoleiros encontraram a morte. Foram fuzilados. 

Não se chegou, à época, a ser apresentada à sociedade civil versão verossímil para o caso. 

Durante o governo revolucionário de 1930, entretanto, foi aberto Inquérito para apurar os extermínios de criminosos, inclusive cangaceiros. O Tenente Abdon Nunes – não se sabe a que pretexto – chamou para si toda a culpa pelos assassinatos. Isentou o Governo do Estado de qualquer responsabilidade. Durante interrogatório, disse, textualmente: ‘Não recebi ordens de ninguém. E diga ao Chefe de Polícia que tive pena de não ter podido matar os outros’[7]. 

No Ceará a imprensa reagiu à chacina, em tudo e por tudo realizada nos moldes utilizados para a morte de Jararaca, Bronzeado e Mormaço, comandada pelo Sargento José Antônio do Nascimento, do cangaceiro Lua Branca e quatro comparsas, remanescentes do bando de João Vinte e Dois[8]: 

“Os grandes responsáveis são os poderosos e tranqüilos mandantes dessas tropelias dos cangaceiros. São vendedores de armas e munições. São os compradores solertes dos produtos de cada assalto”. 

O que nos diz Fenelon Almeida[9] acerca da morte de Jararaca? 

Não obstante as dores fortes que sentia, Jararaca dava sinais evidentes de que iria sarar dos graves ferimentos recebidos. Vinha aos poucos melhorando. Seu organismo resistia de maneira surpreendente. E ISSO PASSOU A PREOCUPAR AS AUTORIDADES POLICIAIS DE MOSSORÓ. POR TEMOR ou por simples espírito de vingança, preferiam que ele morresse de vez, sem apelação. Que desaparecesse de Mossoró. Não queriam mais tê-lo ali nem uma semana. 

O TENENTE LAURENTINO DE MORAIS[10] TINHA IDO A NATAL, DE ONDE REGRESSOU NO DIA SEGUINTE (com quem teria estado ele?). A partir de sexta-feira, dia 17, começou a circular pela cidade a notícia de que o ainda temível cangaceiro seria transferido de Mossoró para Natal – uma informação lacônica, desacompanhada de qualquer comentário ou explicação da medida. 

Sérgio Dantas[11], novamente: 

Até hoje ignora-se de onde ou de quem partiu a ordem para o extermínio do cangaceiro[12].                                            

Importante, para a compreensão da possibilidade desse pacto, é a leitura da carta publicada por Manoel Alves do Nascimento[13], enviada por Paulo Fernandes, filho de Rodolfo Fernandes, em 15 de setembro de 1963, ao escritor Nertan Macedo, que pela sua importância vai transcrita integralmente, sem ser editada: 

Limo. Sr.

Nertan Macedo

Rio de Janeiro (GB)

Na qualidade de filho de Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins, prefeito de Mossoró, RN, por ocasião do assalto de Lampião àquela cidade, tendo deparado à página 213, linhas 20/21 do seu livro ‘Capitão Virgulino Ferreira Lampião’ com uma afirmativa que não corresponde a verdade, cumpro o dever de refutá-lo e solicitar de V. SA. as providências que o caso requer. 

De V. SA. referindo-se à Jararaca, que ‘de madrugada, um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido’. 

Jamais ouvira falar em tal reunião nem também ouvira imputar a elementos da municipalidade a decisão de eliminar o bandido Jararaca.

Quando ocorreu o assalto de Lampião (13 de junho de 1927), encontrava-me no Rio cursando o 6° ano de medicina. Menos de quatro meses depois meu pai veio a esta capital e aqui faleceu a 10 de outubro, tendo conversado comigo sobre os dramáticos acontecimentos e não me declarou entretanto ter mandado matar Jararaca. 

Posteriormente ouvi pessoas de minha família e também estranhos sobre os referidos acontecimentos e nunca ouvi qualquer coisa que induzisse pelo menos a um indício de verdade na afirmação de V. SA. 

Deliberei entretanto em viajar recentemente até Mossoró para investigar melhor o assunto. Falei a várias pessoas, homens honrados, alguns dos quais tomaram parte na defesa da cidade e de nossa residência e todos unanimemente repudiam a versão do seu livro. 

Embora cumpra a V.SA. e não a mim provar o alegado. Apresso-me em aduzir alguns comentários que esclarecem o assunto. Vejamos alguns fatos e circunstâncias em que se desenrolaram os acontecimentos em exame. 

1 – As forças policiais, sediadas em Mossoró, obedeciam ao comando do oficial Abdon Nunes[14]; 

2 – O Governador do Rio Grande do Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia, Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o prefeito de Mossoró (meu pai); 

3 – Segundo consta, as autoridades estaduais não acreditavam que Lampião atacaria Mossoró e por isso não enviaram, com antecedência, forças suficientes para defesa da cidade; 

4 – O Sr. Mirabeau Melo, chefe da repartição do telégrafo em Mossoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante, inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de mexeriqueiros; 

5 – As advertências à população e providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o ridículo. Chamavam-no por exemplo de velho medroso por se preocupar com um possível ataque de Lampião à cidade; 

6 – Quando porém se tornou certo o ataque e o pânico dominou a cidade nossa casa foi procurada como refúgio por alguns desses detratores. Segundo relato que me fez nosso motorista, José de Paula, já falecido, que assistiu à cena, um comerciante de alta projecção local, José Martins Fernandes ajoelhou-se aos pés de meu pai e lhe pediu perdão da campanha que movera e lá ficou, em nossa casa, perdoado, inerte e inútil, durante toda a luta; 

7 – O telegráfo nem sempre foi voraz[15]. Recordo-me ainda de ter lido os telegramas vindos de Mossoró e retransmitidos de Natal para Juvenal Lamartine, governador eleito para o Rio Grande do Norte por eles ficava-se com a impressão de que Lampião dominará a cidade; 

8 – Jararaca, preso, recusou o alimento que lhe fornecia o xadrez e declarou que só comeria comida da casa do prefeito. Minha mãe enviou leite para sua alimentação. Houve censura e comentários por essa atitude. 

9 – Boatos, intrigas políticas dominavam o ambiente apesar de que houvesse o real perigo de um novo assalto; 

10 – Corriam porém ameaças de que o governo cogitava de desarmar os civis que eram afeiçoados a meu pai embora houvessem defendido à cidade e fossem todos homens pacatos em Mossoró não havia nem nunca houve o hábito do rifle; 

11 – Jararaca dissera ou mandara dizer ao meu pai que desejava falar-lhe em particular. Até hoje não se sabe o que ele pretendia dizer pois foi massacrado na noite que seguiu; 

12 – Pessoas fidedignas que conviveram com meu pai disseram-me agora que ele na intimidade reprovou a morte de Jararaca; 

13 - Alega-se que se meu pai tivesse tido conhecimento prévio do massacre projetado teria se apressado em ir ao encontro solicitado por Jararaca pois no consenso de muitos, este desejava, no mínimo, revelar onde estava escondido seu dinheiro ou fazer qualquer revelação a respeito de Lampião, por vingança, pois ele não acudiu aos seus rogos para que o levasse ferido, deixando à margem de um desvio ferroviário rente aos fundos de nossa casa; 

14 – Ainda está vivo um dos soldados da escolta que abateu Jararaca. É o Sr. João Arcanjo, hoje funcionário da prefeitura de Mossoró. Não o ouvi por escrúpulo. Deve ter sido um mero instrumento a cumprir ordens de algum superior sem nada saber nem poder se insurgir contra as mesmas; 

15 – Sabe-se ainda que o Sr. Amaro Silva, agrônomo, funcionário do Ministério da Agricultura, cortou as orelhas de Jararaca[16] e levou-as para Natal para exibi-las às autoridades. 

As circunstâncias e fatos narrados induzem a conclusão de ser pura invencionice afirmativa de que ‘um conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido.’ 

Os fatos devem ter ocorrido de outro modo. 

Ouvi a respeito do Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros e ele me respondeu que o Jararaca morrera na luta. 

É cedo para esclarecer o caso. Ainda estão vivas pessoas envolvidas direta e indiretamente no assunto. Há ainda descendentes próximos de outros. 

Seria tarefa subversiva agitar agora essa questão. Meu objetivo é apurar os fatos, senão a bem da verdade e da memória de meu pai refutar a imputação que indiretamente lhe foi feita. 

Assim como é importante entender os “bastidores” da morte de Chico Pereira, através da leitura de Adauto Guerra Filho[17]:

Apesar de ser uma história longa e complexa, não é difícil entender a razão de tanta contradição. Em primeiro lugar, levemos em consideração uma informação do livro ‘Vingança, Não’ de F. Pereira Nóbrega, o qual diz que os dois Presidentes de Província, Dr. Juvenal Lamartine, então Presidente do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, Presidente da Paraíba, fizeram um pacto de morte no dia 18.08.1928. Isto assim se explica: O Presidente da Paraíba não queria entrar em choque com o recém-eleito Cel. João Pessoa, que dera a Chico garantia de liberdade. Então idealizou uma forma de condená-lo fora do Estado. Ele bem sabia que cangaceiro no Rio Grande do Norte tinha vida curta e, por isso, oportunamente se aproveitou do assalto à casa do Cel. Quincó para idealizar uma forma de incriminar Chico Pereira[18]. Isto aconteceria ao induzir o bandido principal, Antônio Jerônimo, conhecido por Antônio Chofer, a dizer que Chico estava entre eles. Pessoas maliciosas vão mais além, afirmando que o assalto fora programado, tanto é que, logo após a ida de Chico para a detenção, em Natal, Antônio Chofer caiu no desinteresse da Justiça, inclusive sendo solto e ficando no anonimato. 

Outro fato curioso que nos induz a pensar que o assalto foi programado é o excessivo interesse de Antônio Suassuna – o Tonho, sobrinho do Presidente da Paraíba, pela ‘liberdade’ de Chico Pereira. Ele próprio hospedou Chico em sua casa, na Fazenda Cajueiro, no município de Catolé do Rocha. Ali chegando, Chico foi alvo de sua atenção, havendo Tonho servido de mediador entre ele e João Pessoa, ao levá-lo à presença do Presidente eleito. Naquela ocasião, Tonho convenceu Chico de que, após o júri em Princesa, nada mais lhe aconteceria. Este fato, aliás, o demoveu da idéia de se retirar para Goiás. 

Em Acari, Chico Pereira, sentindo o acre da traição, escreveu a Tonho, fazendo paralelos entre a cadeia e a Fazenda Cajueiro e, na doce ilusão de que um dia seria solto, dizia ao traidor que após ficar livre, não hesitaria em matá-lo.

Ainda com referência ao fato, o Sr. Abdias Pereira Dantas, numa conversa com o autor em Nazarezinho, no dia 04.01.1985, assim falou: 

“Só me queixo da morte do finado Chico, de João Suassuna. Depois que Chico morreu, ele mandou me chamar para conversar. Respondi que, com um bandido da qualidade dele, não queria conversa. Quem fez o assalto à casa do Cel. Quincó foi o sobrinho dele”. 

Ainda para tornar mais clara a contradição da Justiça, o Pe. Francisco Pereira Nóbrega falou ao autor em João Pessoa, em 10.01.1985, que, no momento do assalto, seu pai se encontrava no município de Pombal. Ele é também dos que acreditam na hipótese do assalto ter sido programado naquele lugar. 

Pelo menos uma coisa não se põe em dúvida: a morte de Chico estava programada. Isto está confirmado no depoimento de um soldado sobrevivente que reproduziu um diálogo entre Juvenal Lamartine e o Ten. Joaquim de Moura. O Presidente solicitou a presença do Tenente em seu gabinete e a ele assim se dirigiu: 

- É verdade que aquele cangaceiro da Paraíba vai voltar para Acari? 

- É, sim. 

- Olhe! Não quero esse homem vivo. 

Essa determinação, a priori, até dispensa pesquisadores de fazer exames mais apurados sobre notas de jornais diversos, tais como: 

Correio de Campina – 17.12.1928. ‘Teria sido Chico Pereira vitimado mesmo de um desastre de carro? Pessoas residentes no interior do Estado (Rio Grande do Norte) põem dúvida à afirmação. O Presidente potiguar é acusado de mandar fuzilar sumariamente os sertanejos acusados’ (Livro “Vingança, Não”, pág. 254). 

Diário da Manhã, de Recife (PE) – 02.11.1928. “Chico Pereira, preso há pouco, ao ser transportado para a cidade de Acari, onde devia ser julgado, foi morto de ordem superior pelos policiais que o conduziam. Alegou-se que o carro que o conduzia capotou, verificando-se terrível desastre.” (Livro “Vingança, Não”, pág. 254). 

Continua, mais a frente, Adauto Guerra Filho: 

O Sr. José Pereira da Costa, cidadão de Ouro Branco, tabelião da cidade e curioso das histórias da região, assim detalhou o fato, em 09.07.1984: 

“Chico Pereira chegou preso a Santa Luzia na companhia do Ten. Manoel Arruda e alguns soldados. O Ten. Francisco Honorato, de Serra Negra do Norte, foi indicado para recebê-lo. Chico vinha de paletó e gravata e isso provocou censura da parte do Tenente: 

- Como se conduz um bandido de paletó e gravata? Isso é um cachorro de fila. 

Em seguida, com arrebates, tirou o paletó e a gravata de Chico e autorizou os soldados a lhe colocarem as algemas. O Ten. Francisco Honorato esperava que o matador de Chico fosse ele. Porém a ordem do governo veio para o Ten. Joaquim de Moura. Ele ficou revoltado”. 

Quem matou Chico Pereira: João Suassuna e Juvenal Lamartine? Teria sido Aproniano, irmão de Chico Pereira, quem assassinara João Suassuna no Rio de Janeiro, contratado pela família de João Pessoa ou unicamente para vingar Chico Pereira? Corre essa lenda ou história no Sertão. Talvez não se saiba nunca a verdade. A morte de Chico Pereira é a prova do Pacto dos Governadores? 

Raimundo Nonato como que referenda essa tese[19]: 

Em longo depoimento constante de publicação oficial (A República de 22-10-1930) por determinação ‘post’-revolução do Chefe de Polícia, João Café Filho, e prestado perante o 1º Juiz Distrital de Natal, D. Arnaldo Neto, declarou o Capitão Moura todos os pormenores do plano delegado para a morte de Chico Pereira, em 29-10-1930[20], no transporte do preso para julgamento, no Acari, de suposto processo. 

E publica também, em sua obra, a defesa de Juvenal Lamartine[21]: 

Quando morreram[22] os bandidos de “Lampião”, no município de Mossoró, e Chico Pereira[23], num acidente de automóvel, no município de Currais Novos, o chefe de Polícia, de acordo comigo, mandou proceder ao inquérito pelo Delegado especial, a fim de que a verdade fosse apurada com rigor[24]. 

Vitoriosa a revolução, foi aberto novo inquérito a fim de ser processado o presidente do Estado, o chefe de polícia e os oficiais e soldados como responsáveis pelas mortes dos facínoras. A medida deve ser completada pela ereção de um monumento comemorativo das façanhas desses bandidos atacando cidades e fazendeiros honrados. É preciso glorificar o crime e punir os que defendem a propriedade, a vida e a honra ameaçadas por salteadores perigosíssimos[25]. 

Mesmo assim Raimundo Nonato chega a ser irônico quando aborda o episódio da morte de Mormaço e Bronzeado[26]: 

De todos, “Mormaço” foi o bandoleiro que prestou declarações mais importantes, tendo dado nada menos que quatro depoimentos: em Crato, CE., a Pau dos Ferros, Martins e Mossoró, RGN. Em todas as referências e as acusações são mais ou menos semelhantes. 

Juntamente com “Bronzeado”[27] e mais dois presos de justiça, que se encontravam na cadeia de Mossoró, foi levado para a estrada de Natal e morto com os outros. Do ocorrido há um processo, onde se fez prova de qualquer forma, que um dos bandidos pegou um fuzil, atirou nos companheiros, e depois, suicidou-se com a mesma arma... 

Gutemberg Costa[28] noticia a reação do Tenente Abdon Nunes ao inquérito contra si aberto como conseqüência da execução e Jararaca: 

Dois anos e meio depois da morte de Jararaca em Mossoró, o capitão Abdon Nunes de Carvalho, avocou para si toda a responsabilidade do episódio. Assim, o processo tão desejado, contra os ex-governadores José Augusto e Juvenal Lamartine não teve curso. Por causa disso a minúscula facção política de oposição (daquela época) fez violenta carga, pela imprensa contra o Governo, de acordo com comentário de Raul Fernandes na sua obra sobre o assunto, citada neste capítulo. 

Houve ou não um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros, sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça?


[1] “GUERREIROS DO SOL”; Massangana Editora; A Girafa Editora Ltda. ; Segunda edição; 2004; São Paulo; SP.

[2] O anterior fora em 15 de dezembro de 1922.

[3] 1926.

[4] Benício Filho era Chefe de Polícia do Governador José Augusto Bezerra de Medeiros e irmão do Chefe dos Correios e Telégrafos de Mossoró, este acusado por Paulo Fernandes, ex-Prefeito de Mossoró e filho de Rodolpho Fernandes, de  fomentar o afastamento de seu pai com o Governador do Estado que era seu correligionário político.
 
[5] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; DANTAS, Sérgio Augusto de Souza; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; Natal; Rn.

[6] Terá sido armação? Por que esse preso foi recambiado para Apodi? Talvez tenha sido seu prêmio, caso contrário teria o mesmo fim dos outros presos comuns. Observe-se a rapidez com que a polícia agiu.

[7] Sérgio Dantas informa que a afirmação está em SUASSUNA e MARIZ, 2002, p. 236.

[8] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; DANTAS, Sérgio Augusto de Souza; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; Natal; Rn.

[9] “JARARACA: O CANGACEIRO QUE VIROU SANTO; ALMEIDA, Fenelon; Guararapes; Recife, Pe; 1981.

[10] Clóvis Marcelo de Araújo que se encontrava de guarda no Presídio onde estava Jararaca, afirmou a Raimundo Soares de Brito: “A escolta era composta do Tenente Laurentino de Morais, então Delegado e Comandante do destacamento; Tenente Abdon Nunes; Sargento Pedro Silvio de Morais; um Sargento do destacamento de Macau, cujo nome não recordo; Cabo Manoel de Tal e os Soldados Militão, Paulo e João Arcanjo (GURGEL, Antônio e BRITO, Raimundo Soares de; “NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; Fundação Guimarães Duque; Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; Volume 1513; 2ª. Edição.

[11] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; DANTAS, Sérgio Augusto de Souza; Cartgraf – GRÁFICA EDITORA; 2005; Natal; Rn.

[12] Jararaca.

[13] “POLÍGONO – REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO – TOMO I – ANO I - Coleção Mossoroense; Série “C”; Volume 963; Co-edição ETFRN/UNED; Mossoró; 1997.

[14] Não era o Tenente Laurentino?

[15] Deve ser “veraz”.

[16] Na realidade as de Colchete. Segundo entrevista feira por Ilná Rosado com Jerônimo Lahyre de Melo Rosado, Amaro Silva foi até o Sítio “Canto”, onde estava sua mãe Dna. Marola, levando uma orelha de Colchete. Botaram-na em uma lata e esta dentro de outra e enterraram em baixo de uma árvore perto da casa que ficava próximo da porteira. Nunca mais a encontraram.

[17] “O SERIDÓ NA MEMÓRIA DE SEU POVO”; Julho de 2001; Editora: Departamento Estadual de Imprensa; Natal, Rn.

[18] José Ribamar Diógenes, filho de Antístenes Diógenes, este proprietário da Fazenda “Tombador”, entre Rodolfo Fernandes, Itaú e Pereiro, me contou que seu pai acoitou Chico Pereira. Informou, inclusive, que Chico Pereira casou-se com sua esposa por procuração através de um irmão seu, nessa fazenda. E observa que Chico Pereira era conhecido, no “Tombador”, por João Estrela.

[19] “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; 4a. edição; Coleção Mossoroense; Série C; Volume CDVIII; 1989.

[20] A data não bate com a da publicação do jornal “A República”.

[21] “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; NONATO, Raimundo; COLEÇÃO MOSSOROENSE, SÉRIE “C”, VOLUME CDVIII; 1989; 3ª. Edição; 1965; EDITORA PONGETTI; Rio de Janeiro; Brasil.

[22] Juvenal oculta que os cangaceiros foram mortos, não morreram.

[23] Idem.

[24] Compare-se com o depoimento do Capitão Moura, citado acima, por Raimundo Nonato.

[25] Eis a debochada defesa de Juvenal quanto à morte de Chico Pereira.

[26] “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; NONATO, Raimundo; Coleção Mossoroense, série “C”, volume CDVIII; 1989; 3ª. Edição; 1965; editora Pongetti; Rio de Janeiro; Brasil.

[27] “Além de Jararaca, mais outros cangaceiros envolvidos com os ataques a Apodi e Mossoró foram, de maneira sumária e com os mesmos requintes de perversidade, justiçados pela Polícia sob o mesmo álibi: Transferência para o Presídio de Natal. Bronzeado e Mormaço (...) foram eliminados juntamente com Valdemar Ramos e Tomaz dos Santos, dois presos de justiça que se encontravam detidos e aguardando julgamento” (GURGEL, Antônio e BRITO, Raimundo Soares de; “NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; Fundação Guimarães Duque; Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; Volume 1513; 2ª. Edição.). E o Juiz e o Promotor de Mossoró da época: nada!

[28] “GOTA DE SANGUE NUM MAR DE LAMA”; COSTA, Gutemberg; Gráfica Santa Maria; Natal, Rn, edição do Autor.