Não há nada de novo sob o sol.
Seguimos aparentemente em frente, para destino ignorado, permanecendo os mesmos
de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, os meios que são
nossa criação, mas dos quais somos reféns para lidar conosco mesmo, fenômenos e
coisas, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um
"vir-a-ser", como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.
Essência imutável, forma evanescente.
Leio em "Os Crimes de
Paris", de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior
que sua vida. "Depois de cometer vários crimes na juventude,
trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Súrete, o
equivalente francês do FBI, e modelo para vários personagens da
literatura", dizem-me eles.
Fascínio antigo esse meu por Vidocq.
Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira
agência de detetives do mundo, o "Bureau de Reinseignements",
ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência
de detetives com esse nome?
Inspirou Maurice Leblanc na criação
do célebre Arsène Lupin, O Ladrão de Casaca, que eu lia, fascinado, na
adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró que não
existe mais. Como inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre
Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac,
Vautrin, presente em vários livros da"Comédie Humaine".
Em certo momento, lá para as tantas,
Vautrin explica o mundo:
"-E que lodaçal! - replicou
Vautrin. - Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam
a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará
exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será
apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia
e à justiça para manter essa moral... Bonito, não é?"
Como diria minha mãe: "vão-se
os anéis, permanecem os dedos..."
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