Sou fascinado por artistas de rua. Quando os vejo paro um pouco distante, e tento absorver tudo quanto posso deles e de sua arte, na medida em que os encontro em minhas andanças.
Na Europa eles são muitos. Há desde o acordeonista cuja execução de “La Violetera”, uma “habanera” de 1915, tantas vezes escutada na voz de minha mãe, até a quase adolescente que canta, à capela, uma doce canção de sua terra natal, a Itália.
Pois estou escrevendo acerca das ruas centrais de Bordeaux ou da famosa Place de La Bourse, o palco de encontro de todos, viajantes ou não, que por aqui moram ou andam.
Aproximei-me do acordeonista sempre lamentando não dispor do poder do personagem de uma história em quadrinhos de minha adolescência, que podia ler a vida de qualquer um bastando, para tanto, mergulhar em seus olhos, se o desejasse.
Como não podia nada lhe perguntar, seria ofensivo aqui, nem possuía qualquer poder, depositei algumas moedas na sua caneca estendida sob o pano vermelho que já vira muitas estações, olhei em seu rosto cansado, mal cuidado, atribui-lhe uns bons setenta e poucos, e lhe perguntei se por um acaso do destino não saberia tocar “La Violetera”.
Ele parou, pareceu puxar alguma lembrança obscura de suas memórias, deu-me um pequeno sorriso, e, titubeando no início, mas com desenvoltura a seguir, inclusive fazendo floreios, digamos assim, “jazzísticos”, tocou a música que eu lhe pedira como se estivesse no palco do Grande Teatro de Bordeaux, sendo ouvido por todos quanto, ao longo de sua vida, em algum momento, pararam para ouvi-lo e aplaudi-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário