“Antes de mim nada era existente
Além
do eterno e eu eterno sou.
Deixe
aqui toda a esperança e entre.”
Inferno, III, 1-9
Dante
Alighieri
Quando
Dante, conduzido por Virgílio, como se lê em “A Divina Comédia”, chegou à porta
do Inferno, e leu a advertência acima nele escrita, se encheu de medo. Não era
para menos.
No
poema o inferno é descrito como tendo nove círculos de sofrimento localizados
dentro da Terra. O oitavo círculo, o “Malebolge” (fraude), é todo em pedra e da
cor do ferro, assim como a muralha que o cerca. Aqui estão os fraudulentos.
Este círculo está dividido em dez fossos (ou Bolgias), semelhantes aos fossos
que defendem certos castelos, e os fossos estão ligados entre si por pontes.
A "Sexta Bolgia" contém os hipócritas vestidos com roupas brilhantes,
atraentes, porém pesadas como o chumbo. Este é o peso que não sentiram na consciência
ao fazerem maldades. No inferno, sentem o peso de seu falso brilho. Nele esta
Caiphás, o sacerdote que condenou Jesus, crucificado no chão e sendo pisoteado
pelos outros condenados, sofrendo as mesmas dores que Cristo sofreu.
A esses hipócritas Jesus destinou uma das suas mais belas pregações (Mateus, 23,
1-39):
(...)
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas,
porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos,
mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!
(...)
"Quem
a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será
exaltado.”
Pois
bem, o jornalista Ruy Fabiano, nestes dias, escreveu um artigo cujo título é “STF:
sem juízes e sem juízo”. Transcrevo alguns trechos:
“No
dia 3, o ministro Dias Toffoli negou habeas corpus a Evanildo José Fernandes de
Souza, morador de rua que furtou e depois devolveu à loja uma bermuda de R$ 10.
A
Defensoria Pública da União recorreu à tese da irrelevância do furto e ao fato
de o morador ter devolvido a mercadoria. Toffoli foi implacável: tratava-se de
reincidência – e ponto.
Evanildo
cumprirá pena de 1 ano e sete meses.
Já José Dirceu, reincidente dos reincidentes –
condenado no Mensalão e duas vezes no Petrolão por desvios multimilionários –,
foi posto em liberdade pelo mesmo Toffoli, sem que a defesa do condenado o
pedisse.
Não
há irrelevância, nem devolução do roubo. E não é só: um dia antes de condenar o
morador de rua, Toffoli, usurpando as prerrogativas do juiz da causa, Sérgio
Moro, mandou tirar a tornozeleira eletrônica de José Dirceu. Nada de medida
cautelar.
Trata-se
agora de um homem livre, embora condenado duas vezes, em segundo grau, e já
cumprindo pena. Pode agora, se quiser, comparecer à 24ª reunião do Foro de São
Paulo, em Havana, no próximo dia 19. Não se sabe se irá, mas não será o STF a
barrá-lo.
Toffoli
integra a 2ª Turma do STF, onde, ao lado de Gilmar Mendes e Ricardo
Lewandowski, tem sido sistemático na defesa e libertação dos réus políticos da
Lava Jato. Em circunstâncias normais (algo que inexiste há muito tempo), nem
poderia julgar José Dirceu, a quem deve não apenas o cargo, mas a própria
carreira.
Foi
seu chefe de gabinete, advogado e assessor. A ele, deve a nomeação ao cargo de
Advogado Geral da União, de onde, ainda por meio dele, foi guindado à mais alta
Corte de Justiça do país – ele que fora reprovado em dois concursos para juiz
de carreira.
(...)
Não
se trata apenas de juízes: está faltando juízo ao STF.”
Talvez
Toffoli seja ateu.
Um comentário:
Lasciate ogni esperanza, voi, ch'entrate! É terrível esse verso final do texto posto na porta do inferno. Abraço, de Cajuais da Serra.
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