sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ARTE? QUE ARTE?

* Honório de Medeiros

Em 2015, causou celeuma uma "performance", denominada "Macaquinhos", em que os atores exploravam os ânus uns dos outros, apresentada em uma unidade do Sesc em Juazeiro do Norte, no Ceará.

Veja aqui: http://odia.ig.com.br/diversao/2015-11-23/grupo-de-teatro-faz-exploracao-anal-em-performance-e-gera-polemica.html

"A performance mostrava um grupo composto por homens e mulheres totalmente nus, em círculo, explorando com as mãos o ânus do companheiro a frente. De acordo com os artistas Caio, Mavi Veloso e Yang Dallas, idealizadores do projeto, a apresentação tem o intuito de 'ensinar que existe ânus, ensinar a ir para o ânus e ensinar a partir do ânus e com o ânus'."

Este ano, em agosto, o Santander Cultural abriu suas portas para a primeira exposição queer realizada no Brasil. De origem inglesa, o termo é utilizado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade ou de gênero definido - notadamente gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.

Choveram denúncias nas redes sociais de pedofilia e zoofilia, principalmente para duas obras em especial: “Cenas do Interior II” (1994), de Adriana Varejão, que teve uma cena em que um homem penetra uma cabra, e “Travesti da Lambada e Deusa das Águas” (2013), de Bia Leite, que faz referência ao meme da internet “criança viada”. Também há menção a um vídeo que mostrava um homem recebendo um jato de sêmen no rosto. A obra é intitulada “Come/Cry” e é assinada pelo “artista” Maurício Ianes. O nome do artista consta na lista entregue ao Ministério da Cultura como um dos autores das obras expostas no Queermuseu. 

Mais recentemente, em uma performance na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, na última terça-feira, o artista fluminense Wagner Schwartz se apresentou nu, no centro de um tablado. Em vídeo que circula nas redes sociais, sob fortes críticas, uma menina que aparenta ter cerca de quatro anos aparece interagindo com o homem, que estava deitado de barriga para cima, com a genitália à mostra.

Basicamente discute-se o seguinte, nas redes sociais acerca dessas "manifestações": deve haver limite na liberdade de expressão, quando o tema é arte?

Permito-me ir além.
 
Em um comentário no meu blog 
https://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2015/06/a-civilizacao-do-espetaculo-mario.html, escrevi o seguinte:

"Fecho o livro de Llosa, Mário Vargas Llosa, “A Civilização do Espetáculo”, cujo título foi calcado no “A Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord, um dos mais originais pensadores do século, e me percebo confortável por ter encontrado um texto, da melhor qualidade, que desse corpo a essa sensação permanente de estranhamento e solidão vivenciada por mim e alguns poucos, originada pelo descompasso entre a “cultura” na qual fomos criados e a realidade que encontramos nos dias de hoje.

Não é, portanto, “saudosismo”, o que sentimos. Há, de fato, um progressivo, solerte e profundo processo de banalização dos valores fundantes da cultura, entendida esta como o pressuposto da construção do processo civilizatório. Cultura como a pensou, por exemplo, T. S. Elliot, citado por Llosa, em “Notas para uma definição de cultura”, de 1948, tão atual, posto que, por exemplo, lá para as tantas, expõe: “E não vejo razão alguma pela qual a decadência da cultura não possa continuar e não possamos prever um tempo, de alguma duração, que possa ser considerado desprovido de cultura.”

E, agora, recordo Bárbara Tuchman, em "A Prática da História":

"O maior recurso, e a realização mais duradoura da humanidade, é a arte. O domínio da linguagem demonstrado por Shakespeare e seu conhecimento da alma humana; a complicada ordem de Bach, o encantamento de Mozart".

Percebo, pois, os sintomas da decadência da cultura, e jamais levaria filhos meus a "manifestações culturais" como essas acima - eles que optem por frequenta-las ou não quando forem adultos.

Mas não concordo em impedi-las.

O decadente, na arte, o banal, o medíocre, o aviltante, exerce sua tirania destruidora tanto quanto a proibição da liberdade de expressão estética.

E ninguém tem o direito de impedir, a quem quer que seja, de se manifestar esteticamente.

Contanto que tais "manifestações" não invadam o campo próprio de outros valores absolutos previstos na nossa Constituição.

Como ninguém pode impedir, a quem quer seja, de exercer o saudável direito de criticar.

Um comentário:

Florentino Vereda disse...

Professor Honório:
Comentando com Alex a performance "macaquinhos", ele me perguntou se o nome do espetáculo não seria "a passagem dos anos".
Acho que seria mais apropriado "macaquinhos eufuiricos", não?

florentinovereda@bol.com.br