terça-feira, 18 de junho de 2013

A MISTERIOSA FORÇA DO CIVISMO


François Silvestre
 
 
Só uma força quase inexplicável, misteriosa até, para retirar essa molecada da frente dos computadores, levando-os a invadirem as ruas, numa combinação sem acerto previamente estabelecido, tendo o próprio computador como cúmplice, sem o toque de qualquer liderança pessoal ou de agremiação. Sem discursos, retóricas ou demagogia. Só não ver quem não quer a bordoada que estão levando os sociólogos, psicólogos, especialistas políticos e jornalistas que entendem de tudo. Ninguém, ninguém mesmo, sabe exatamente o que está acontecendo. É o primeiro fato novo na vida política do país, na era da internet. Tão estranhamente belo e assustador que fez o discurso do poder mudar da noite para o dia. E mudar também a relação policial com o movimento. Só uma mente limitada ao nível asnal pode acreditar que tudo isso é motivado por vinte centavos de aumento nas tarifas de transporte. Quem pensar assim tem uma mente que vale menos do que vinte centavos. O país deu uma sacudida na sua preguiça cívica. Resolveu sair às ruas para que os tempos modernos vejam uma nova banda passar. Onde ela vai chegar, não se sabe. Mas é certo que ela não vai por onde o Estado meio covarde, meio fascista, meio hipócrita quer que ela vá. Há um monstro terrível e belo, feroz e suave, tomando conta do tempo, enchendo a nave da praça. Esfinge, que talvez só a História decifre, no momento certo da compreensão.

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