François Silvestre
Só uma força quase inexplicável, misteriosa até, para retirar essa molecada
da frente dos computadores, levando-os a invadirem as ruas, numa combinação sem
acerto previamente estabelecido, tendo o próprio computador como cúmplice, sem o
toque de qualquer liderança pessoal ou de agremiação. Sem discursos, retóricas
ou demagogia. Só não ver quem não quer a bordoada que estão levando os
sociólogos, psicólogos, especialistas políticos e jornalistas que entendem de
tudo. Ninguém, ninguém mesmo, sabe exatamente o que está acontecendo. É o
primeiro fato novo na vida política do país, na era da internet. Tão
estranhamente belo e assustador que fez o discurso do poder mudar da noite para
o dia. E mudar também a relação policial com o movimento. Só uma mente limitada
ao nível asnal pode acreditar que tudo isso é motivado por vinte centavos de
aumento nas tarifas de transporte. Quem pensar assim tem uma mente que vale
menos do que vinte centavos. O país deu uma sacudida na sua preguiça cívica.
Resolveu sair às ruas para que os tempos modernos vejam uma nova banda passar.
Onde ela vai chegar, não se sabe. Mas é certo que ela não vai por onde o Estado
meio covarde, meio fascista, meio hipócrita quer que ela vá. Há um monstro
terrível e belo, feroz e suave, tomando conta do tempo, enchendo a nave da
praça. Esfinge, que talvez só a História decifre, no momento certo da
compreensão.
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