sábado, 6 de outubro de 2012

DE UM PROCESSO CIVILIZATÓRIO


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Honório de Medeiros

 

                   Talvez seja falsa a noção de que é possível, coletivamente, e conscientemente, construirmos valores que norteiem um processo civilizatório semelhante àquele com o qual nos deparamos quando voltamos nossos olhos para a história em busca de entendimento e orientação: a civilização grega, o senso de “Arete” (virtude) que perpassa a vida do cidadão ateniense, sua “Paidéia” (cultura), como magnificamente nos mostra Péricles, em sua “Oração aos Mortos na Batalha de Maratona”, preservada por Tucídedes.
 
                   O olhar crítico acerca desse preâmbulo há de apontar, de início, duas falhas: a fragilidade e complexidade da “Paidéia” ateniense que não resistiu aos seus conflitos internos, bem como a Alexandre, o Grande; e a impossibilidade daquela experiência sublime se repetir, por não ter sido resultado de qualquer planejamento, senão de fatores tão circunstanciais quanto, por exemplo, para o surgimento da filosofia na Grécia, a especificidade da língua grega.
 
 A tais críticas é possível responder afirmando que não se trata de repetir, por igual, tamanho feito. O quê, na nossa civilização ocidental, não repousa nos gregos? Isso seria impossível, talvez. Trata-se, no entanto, de colocar o aparato tecnológico construído pelo homem ao longo dos séculos à disposição de uma política da Sociedade, aliás, da Humanidade – nunca de governo, tampouco de Estado – que deliberadamente, envolvendo todos, construa, firme e convicta, esses pilares sobre os quais se firme uma civilização da qual tenhamos orgulho e respeito. Não se sentem assim, em uma justa medida, hoje, os escandinavos?
 
                   Caso contrário as piores previsões possíveis de serem construídas irão se concretizar e nós, ao contrário do que pensa Karl Popper, que tanto e tão tenazmente combateu a idéia de determinismo histórico ao qual estaríamos subjugados mesmo que com certa liberdade limitada, estaremos marchando a passo batido para o caos – esse limite último da entropia – ou para o quê nos aponta a seleção natural, que como sabemos, não tem finalidade moral em si mesma, a ser encontrado em um planeta Terra esgotado pelo que dela se arrancou sem qualquer cuidado: o fim da espécie humana.
 
                   Catastrófico? Talvez. Possível? Com certeza. Coincidentemente, cientistas e abnegados voltam seus olhos, apavorado, para a Terra e os transtornos climáticos e catástrofes naturais que estão acontecendo cada vez mais freqüentemente. Já há trabalhos científicos demonstrando ser insuportável continuar extraindo, do nosso planeta, e da forma como é feita a extração, sua riqueza natural.
 
 Desmatamentos, degelos, extinção de espécies, extração de riquezas do subsolo, dizimação de florestas, aquecimento global, guerras, fome, pestes – parece não haver limite para tudo quanto o homem possa fazer nessa empreitada de autodestruição. Se não abrirmos os olhos, não construirmos um novo pacto civilizatório que deixe para trás o modelo ao qual temos nos aferrado ao longo de nossa existência, não haverá por que não dar razão aos pessimistas, esses profetas milenaristas, e suas crenças de que nossa aventura de existir, no Universo, é apenas o sonho fugidio de um Deus impaciente com sua criação. 
 

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