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Honório de Medeiros
Talvez
seja falsa a noção de que é possível, coletivamente, e conscientemente,
construirmos valores que norteiem um processo civilizatório semelhante àquele com
o qual nos deparamos quando voltamos nossos olhos para a história em busca de
entendimento e orientação: a civilização grega, o senso de “Arete” (virtude)
que perpassa a vida do cidadão ateniense, sua “Paidéia” (cultura), como magnificamente nos
mostra Péricles, em sua “Oração aos Mortos na Batalha de Maratona”, preservada
por Tucídedes.
O
olhar crítico acerca desse preâmbulo há de apontar, de início, duas falhas: a
fragilidade e complexidade da “Paidéia”
ateniense que não resistiu aos seus conflitos internos, bem como a Alexandre, o
Grande; e a impossibilidade daquela experiência sublime se repetir, por não ter
sido resultado de qualquer planejamento, senão de fatores tão circunstanciais
quanto, por exemplo, para o surgimento da filosofia na Grécia, a especificidade
da língua grega.
A tais críticas é possível responder afirmando
que não se trata de repetir, por igual, tamanho feito. O quê, na nossa
civilização ocidental, não repousa nos gregos? Isso seria impossível, talvez.
Trata-se, no entanto, de colocar o aparato tecnológico construído pelo homem ao
longo dos séculos à disposição de uma política da Sociedade, aliás, da
Humanidade – nunca de governo, tampouco de Estado – que deliberadamente,
envolvendo todos, construa, firme e convicta, esses pilares sobre os quais se
firme uma civilização da qual tenhamos orgulho e respeito. Não se sentem assim,
em uma justa medida, hoje, os escandinavos?
Caso
contrário as piores previsões possíveis de serem construídas irão se
concretizar e nós, ao contrário do que pensa Karl Popper, que tanto e tão
tenazmente combateu a idéia de determinismo histórico ao qual estaríamos
subjugados mesmo que com certa liberdade limitada, estaremos marchando a passo
batido para o caos – esse limite último da entropia – ou para o quê nos aponta
a seleção natural, que como sabemos, não tem finalidade moral em si mesma, a
ser encontrado em um planeta Terra esgotado pelo que dela se arrancou sem
qualquer cuidado: o fim da espécie humana.
Catastrófico?
Talvez. Possível? Com certeza. Coincidentemente, cientistas e abnegados voltam
seus olhos, apavorado, para a Terra e os transtornos climáticos e catástrofes
naturais que estão acontecendo cada vez mais freqüentemente. Já há trabalhos
científicos demonstrando ser insuportável continuar extraindo, do nosso
planeta, e da forma como é feita a extração, sua riqueza natural.
Desmatamentos, degelos, extinção de espécies,
extração de riquezas do subsolo, dizimação de florestas, aquecimento global,
guerras, fome, pestes – parece não haver limite para tudo quanto o homem possa
fazer nessa empreitada de autodestruição. Se não abrirmos os olhos, não
construirmos um novo pacto civilizatório que deixe para trás o modelo ao qual
temos nos aferrado ao longo de nossa existência, não haverá por que não dar
razão aos pessimistas, esses profetas milenaristas, e suas crenças de que nossa
aventura de existir, no Universo, é apenas o sonho fugidio de um Deus
impaciente com sua criação.
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