OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA
ACERCA DA INVASÃO:
Leiam, anteriores a este
texto, em www.honoriodemedeiros.blogspot.com,
1) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO; 2) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO
TEORIA: O ataque a
Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e Lampião, no que foram
secundados por Massilon
(PRIMEIRA
PARTE)
Esta
é a versão, digamos assim, “oficial”, encontrada em quase todos os textos
acerca do cangaço.
A notória fama de riqueza de
Mossoró aguçava a cobiça dos bandidos. A falta de força policial os estimulava.
Criminosos e aventureiros se movimentavam. Das ribeiras do Moxotó, do Navio e
do Pajeú afluentes da grande bacia do rio São Francisco, e dos arredores das
vilas de Nazaré e Flores, na hinterlândia de Pernambuco, Lampião formou o bando.
(...)
Os mais esclarecidos entraram na
empreitada desejosos de fugir com o produto dos roubos para o Sul do País, ou
qualquer lugar onde pudessem viver impunes.
Essa teoria
não se sustenta. Não foi assim que aconteceu, muito embora seja inegável que a
ganância foi um dos combustíveis que acionou todos os envolvidos.
O que se quer
dizer é que o primeiro passo do projeto da invasão, a “causa causarum”, não pode ser atribuída a Lampião, tampouco ao
Coronel Isaías Arruda.
E é fácil
inferir essa conclusão, meramente interpretando os textos “canônicos” acerca do
tema.
Sérgio
Dantas, por exemplo, em outro clássico da literatura do cangaço, “LAMPIÃO E O
RIO GRANDO DO NORTE” (1ª edição; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; Natal), ao
ressaltar a resistência do Rei do Cangaço ao assédio do Coronel Isaías Arruda,
para realizar a empreitada do ataque a Mossoró, cita uma fonte inquetionável:
O cangaceiro Jararaca, testemunha
da conversa (entre Isaías e o cangaceiro) lembrou com fidelidade, dias mais tarde, a resistência de Lampião ao
assédio ferino do Coronel Arruda:
“Lampião nunca tencionara penetrar
nesse Estado porque não tinha aqui nenhum inimigo e se por acaso, para evitar
qualquer encontro com forças de outros Estados, tivesse que passar por qualquer
ponto do Rio Grande do Norte, o faria sem roubar ou ofender qualquer pessoa,
desde que não o perseguissem”.
Um pouco mais
adiante o mesmo escritor, nas notas ao Capítulo do qual se extraiu o texto
acima transcrito, lembra outro depoimento:
Uma segunda referência encontra-se
em Lucena (1989, p. 99), onde o cangaceiro Manoel Francisco de Lucena Sobrinho,
o “Ferrugem”, também em entrevista, afirma textualmente: “Lampião não queria
atacar Mossoró, alegando que não conhecia o Rio Grande do Norte”.
Esses
depoimentos são suficientes para inutilizar a teoria da qual Raul Fernandes foi
um dos mais importantes porta-voz. Não é verdade que em decorrência da riqueza
de Mossoró Lampião tenha formado um bando para a atacar.
Teria sido
então o ataque a Mossoró uma idéia nascida no cérebro do Coronel Isaías Arruda?
Coronel Isaías Arruda
Sérgio Dantas
crê que sim. Em sua obra já citada, na parte denominada “O PARTO DE UM PLANO
MACABRO”, encontramos o seguinte:
Arruda tinha interesse em Mossoró,
cidade rica, centro comercial de incontestável notoriedade no cenário
sertanejo. De forma inicialmente sutil começou a sondar o cangaceiro.
Lembrava-lhe a todo instante o êxito obtido por Massilon em dias passados.
(...)
Arruda mostrava-se indiferente aos
argumentos do zanaga (Lampião). Mantinha-se
particularmente interessado na pilhagem de Mossoró. A cidade potiguar –
reafirmava o Coronel – tinha fama de prosperidade.
Mas é muito
pouco provável que tenha sido do Coronel Isaías Arruda a concepção da idéia do
ataque a Mossoró. Assim como não foi dele a concepção da idéia do ataque a
Apodi, realizado dias antes, sob o comando de Massilon, com um propósito
eminentemente político, como há de se ver mais adiante.
CONTINUA
QUARTA-FEIRA DA PRÓXIMA SEMANA COM A SEGUNDA PARTE DESTE TEXTO.
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