sábado, 22 de setembro de 2012

ESQUERDA E DIREITA

Honório de Medeiros
  
                   Ronda por aí a idéia de que “esquerda” e “direita”, no Brasil, e mesmo no mundo, não mais seriam conceitos distintos um do outro. Principalmente no que diz respeito à economia.
 
Nada tão distante da realidade, mas é fácil entender a razão: hoje, graças a um colossal, persistente e antigo processo midiático, o capitalismo, enquanto visão do mundo, tornou-se praticamente hegemônico. Isso mesmo: quase não há ninguém que sustente, com alguma consistência, um ideário de esquerda, a não ser, talvez, o já dinossáurico, e algumas vezes equivocado, Noam Chomsky.
 
                   Tal se deve a vários fatores, mas dois são fundamentais e ambos estão entrelaçados pelo mesmo núcleo. Dizem respeito à queda do “Muro de Berlim” e, no Brasil, ao aviltamento do PT. O que os une é o fato de ambos, tanto a URSS quanto o PT, jamais terem sido de esquerda. Quando muito abrigavam, por falta de opção, pessoas de esquerda.
 
                   A esquerda é, ontologicamente, fulcrada no valor “solidariedade”, enquanto a direito se firma na competição. Subjacente à noção de que somos essencialmente competitivos, não solidários, está o corolário do lucro e da ambição. Para a esquerda, devemos solidarizar o lucro; para a direita devemos e podemos lucrar com a solidariedade.
 
                   A esquerda é, ontologicamente, anticapitalista. Isso significa dizer que, para ela, os meios de produção devem ser socializados. Ou seja, não deve haver muito na mão de poucos, mas, sim, um pouco na mão de todos no que diz respeito à produção e ao gozo do lucro.
 
Ao invés da produção de capital financeiro, o socialismo quer a produção do capital social. Nesse sentido, tanto faz opor-se ao capitalismo de Estado intervencionista quanto ao capitalismo de Estado Mínimo – este uma verdadeira utopia retórica criada nos laboratórios dos economistas à soldo do grande capital para engabelar os inocentes úteis e os inúteis, igualmente.
 
                   A esquerda é, ontologicamente, anti-autoritária. Ela denuncia, posiciona-se contra, rebela-se, e não aceita qualquer imposição do Estado sobre a Sociedade à reboque de uma miragem tal qual um futuro idealizado, como nos apresentam os tecnopolíticos de plantão que pensam serem possuidores dos remédios milagrosos necessários para catapultar este ou aquele país à redenção sócio-econômica destruindo, pela base, as conquistas sociais dos últimos anos.
 
                   Típica dessa postura, por exemplo, é o pensamento de Chomsky[1], já citado acima:
 
                   (...) o princípio básico que eu gostaria de ver comunicado às pessoas é a idéia de que qualquer forma de autoridade, domínio e hierarquia, toda estrutura autoritária, tem de provar que se justifica – não tem qualquer justificativa A PRIORI.
 
Por ser anti-autoritária, a esquerda tem um compromisso imediato e direto com a Sociedade, nunca com o Estado, este um instrumento de opressão cujos fundamentos ontológicos, sob os quais repousa sua suposta legitimidade, são flatus vocis.
 
                   A verdade é que do ponto de vista da propaganda o capitalismo, ou seja, a direita, apregoa que ganhou a guerra. Não mesmo. Quando menos se espera a Sociedade resiste, e o colossal processo de exploração através do qual a cada dia um número maior de pessoas, possui menos, fica exposto a olho nu.
 
Neste momento mesmo alguns, até então desavisados, mas puros de intenção, percebem onde estão metidos e apontam as fragilidades e inconsistências de um modelo que se firma no que pode arrancar, enquanto mais-valia, do grosso da população.
 
São os arautos de uma nova era, a da aldeia global da qual nos falou Marshall McLuhan, onde qualquer informação é, sob todos os ângulos que se possam imaginar, do domínio de todos.


[1] Understanding Power – The indispensable Chomsky.

Um comentário:

Tiago Azevedo de Aguiar disse...

Excelente texto! A verdade é esta: A quem interessa igualar a todos? Saudações fratrernas!