Honório de Medeiros
Ronda
por aí a idéia de que “esquerda” e “direita”, no Brasil, e mesmo no mundo, não
mais seriam conceitos distintos um do outro. Principalmente no que diz respeito
à economia.
Nada tão distante da realidade,
mas é fácil entender a razão: hoje, graças a um colossal, persistente e antigo
processo midiático, o capitalismo, enquanto visão do mundo, tornou-se
praticamente hegemônico. Isso mesmo: quase não há ninguém que sustente, com
alguma consistência, um ideário de esquerda, a não ser, talvez, o já
dinossáurico, e algumas vezes equivocado, Noam Chomsky.
Tal
se deve a vários fatores, mas dois são fundamentais e ambos estão entrelaçados
pelo mesmo núcleo. Dizem respeito à queda do “Muro de Berlim” e, no Brasil, ao
aviltamento do PT. O que os une é o fato de ambos, tanto a URSS quanto o PT, jamais
terem sido de esquerda. Quando muito abrigavam, por falta de opção, pessoas de
esquerda.
A
esquerda é, ontologicamente, fulcrada no valor “solidariedade”, enquanto a
direito se firma na competição. Subjacente à noção de que somos essencialmente
competitivos, não solidários, está o corolário do lucro e da ambição. Para a
esquerda, devemos solidarizar o lucro; para a direita devemos e podemos lucrar
com a solidariedade.
A
esquerda é, ontologicamente, anticapitalista. Isso significa dizer que, para ela,
os meios de produção devem ser socializados. Ou seja, não deve haver muito na
mão de poucos, mas, sim, um pouco na mão de todos no que diz respeito à
produção e ao gozo do lucro.
Ao invés da
produção de capital financeiro, o socialismo quer a produção do capital social.
Nesse sentido, tanto faz opor-se ao capitalismo de Estado intervencionista
quanto ao capitalismo de Estado Mínimo – este uma verdadeira utopia retórica
criada nos laboratórios dos economistas à soldo do grande capital para
engabelar os inocentes úteis e os inúteis, igualmente.
A
esquerda é, ontologicamente, anti-autoritária. Ela denuncia, posiciona-se
contra, rebela-se, e não aceita qualquer imposição do Estado sobre a Sociedade à
reboque de uma miragem tal qual um futuro idealizado, como nos apresentam os
tecnopolíticos de plantão que pensam serem possuidores dos remédios milagrosos
necessários para catapultar este ou aquele país à redenção sócio-econômica
destruindo, pela base, as conquistas sociais dos últimos anos.
(...) o princípio básico que eu gostaria de
ver comunicado às pessoas é a idéia de que qualquer forma de autoridade,
domínio e hierarquia, toda estrutura autoritária, tem de provar que se
justifica – não tem qualquer justificativa A PRIORI.
Por ser
anti-autoritária, a esquerda tem um compromisso imediato e direto com a
Sociedade, nunca com o Estado, este um instrumento de opressão cujos
fundamentos ontológicos, sob os quais repousa sua suposta legitimidade, são flatus vocis.
A
verdade é que do ponto de vista da propaganda o capitalismo, ou seja, a
direita, apregoa que ganhou a guerra. Não mesmo. Quando menos se espera a
Sociedade resiste, e o colossal processo de exploração através do qual a cada
dia um número maior de pessoas, possui menos, fica exposto a olho nu.
Neste momento mesmo
alguns, até então desavisados, mas puros de intenção, percebem onde estão
metidos e apontam as fragilidades e inconsistências de um modelo que se firma
no que pode arrancar, enquanto mais-valia, do grosso da população.
São os arautos
de uma nova era, a da aldeia global da qual nos falou Marshall McLuhan, onde
qualquer informação é, sob todos os ângulos que se possam imaginar, do domínio
de todos.
Um comentário:
Excelente texto! A verdade é esta: A quem interessa igualar a todos? Saudações fratrernas!
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