Por Atenéia Feijó
As duas escolas que conquistaram a segunda e a terceira
maiores notas do país no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
ficam na zona rural de Cambuci, um município pobre do Rio de Janeiro. A cerca de
350 quilômetros de Ipanema.
Brilharam ao ultrapassar a colocação de colégios grandes e tradicionais como
Pedro II, Aplicação da UFRJ e Militar.
Nesse caso, o ranking é o que menos conta. Sobressai a valorização da escola
e do professor pelo aluno, pela comunidade; onde o foco não é o vestibular. É
formar cidadãos para a vida.
A maior dificuldade dos estudantes de lugares como Cambuci, para cursar o
nível superior, está na falta de dinheiro para pagar transporte ou moradia que
lhes possibilite frequentar a universidade mais próxima.
Mesmo assim, avaliações pontuais como essas embalam esperanças, apesar de
ainda não terem grande significado na Prova Brasil. O país continua lá embaixo
no ranking mundial de educação. A lição é a de que nem sempre instalações
espetaculares funcionam como garantia para uma boa escola.
A qualidade do ensino continua a depender do essencial: do professor com
aptidão, qualificado, motivado. Que goste de ensinar. E que precisa ser
reconhecido. Costumo me perguntar em que momento esse professor deixou de ser
valorizado, a ponto do antigo prestígio se manter excepcionalmente.
E interrogo-me (absurdamente) se “ensinamentos” de um pastor, padre ou
político passaram a ser mais importantes que os de um mestre formado. A
autoridade de professor era prioritária, preservada hierarquicamente, mesmo
diante de um padre, de uma freira, de um pastor luterano ou de um vereador. Quem
ousava desrespeitar uma professora primária?
Agora existem novas crenças. E crendices intolerantes que podem “paralisar”
intelectos. Outra coisa. Há uma distorção em considerar o uso de computadores
como “avanço no ensino”. Não, os recursos eletrônicos são apenas ferramentas
atualizadas para as aulas. Estas, sim, precisam avançar.
Por exemplo. Como ensinar sobre o Sistema Solar sem mencionar o robô
Curiosity em Marte? Não, não esqueci. Professor é de carne-e-osso: come,
veste-se, reside, tem família, precisa de lazer. E continuar estudando. A
interpretação da história muda, a geopolítica se redesenha e a ciência
evolui.
Na década de 60, o “rebaixamento” do professor foi por censura nas salas de
aula. Hoje haveria risco de patrulha? Um professor tem de estimular o raciocínio
lógico do aluno, ensiná-lo a pensar; questionar dogmas...
Ateneia Feijó é jornalista
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