
https://revistagalo.com.br/selo-bo/
"Sapere Aude"
* Pinçado do www.navegos.com.br
* honorio de medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
IRRESIGNAÇÃO PERDOADA
Honório de Medeiros
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
3,3 Mas
do fruto da aárvore que
está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para
que não morrais.
3,5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos aolhos, e sereis como Deus, bconhecendo o bem e o mal.
Do descobrimentopoetico.blogspot.com
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
(honoriodemedeiros.blogspot.com)
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Em Ficções, Borges pondera:
“Desvario laborioso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de explanar em quinhentas páginas uma idéia cuja exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que estes livros já existem e apresentar um resumo, um comentário. Assim procedeu Carlyle em "Sartor Resatus" (...) Mais razoável, inepto, ocioso, preferi a escrita de notas sobre livros imaginários."
Borges cita Carlyle, de quem, possivelmente absorveu a técnica.
Entretanto Dumas pai, que foi contemporâneo do célebre ensaísta inglês, também a utilizou.
Em Os Quarenta e Cinco, lá para as tantas, ao relatar uma correspondência imaginária enviada por Chicot a Henrique III, e comentar a excentricidade do seu estilo, convida: “Quem quiser ter conhecimento dela encontra-la-á nas Memórias de l’Étoile”.
Ou, quem sabe, terão existido mesmo essas Memórias de l’Étoile e elas
ocupam algum escaninho empoeirado do “Cemitério dos Livros Esquecidos” que
Carlos Ruiz Zafón localizou em Barcelona, na saborosa e definitiva tetralogia iniciada com A Sombra do Vento?
Só o vento sabe a resposta...
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Não há nada de novo sob o sol. Seguimos aparentemente em frente para destino ignorado, permanecendo os mesmos de tanto tempo atrás, enquanto as formas, os instrumentos, e os meios que são criação nossa, mas dos quais somos reféns para lidarmos conosco, os fenômenos e as coisas, tornam-se cada vez mais complexos e fugazes, em uma espiral, um "vir-a-ser", como diria Nietzche, de proporções incalculáveis.
Essência imutável, forma evanescente.
Leio em Os Crimes de Paris, de Dorothy e Thomas Hoobler, acerca de Vidocq, um personagem maior que sua vida. "Depois de cometer vários crimes na juventude, trocou de lado e se aliou à polícia. Foi o primeiro chefe da Sureté, o equivalente francês do FBI, e modelo para vários personagens da literatura", dizem-me eles.
Fascínio antigo esse meu por Vidocq. Camaleônico, sofisticado, indecifrável, também foi o criador da primeira agência de detetives do mundo, o "Bureau de Reinseignements", ou Agência de Inteligência. Que outro, além de um francês, criaria uma agência de detetives com esse nome?
Vidocq inspirou Maurice Leblanc na criação do célebre “Arsène Lupin, O Ladrão de Casaca”, que eu lia, fascinado, na adolescência, graças à bondade de um colega de ginásio, na Mossoró, minha Macondo particular, que não existe mais, pelo menos neste plano.
Inspirou, também, além de muitos outros, tais como Alexandre Dumas, Victor Hugo e Eugène Sue, o ainda mais célebre personagem de Balzac, Vautrin, presente em vários livros da Comédie Humaine.
Vautrin, o mesmo que em certo momento, lá para as tantas, explica o mundo:
"-E que lodaçal! - replicou Vautrin. - Os que se enlameiam em carruagens são honestos, os que se enlameiam a pé são gatunos. Tenha a infelicidade de surrupiar alguma coisa e você ficará exposto no Palácio da Justiça como uma curiosidade. Furte um milhão e será apontado nos salões como um modelo de virtude. Vocês pagam 30 milhões à polícia e à justiça para manter essa moral... Bonito, não é?"
Assim falava minha mãe: "vão-se os anéis, permanecem os dedos..."
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
1) APRENDEMOS quando nos defrontamos com um problema, qualquer que seja ele.
Como observa Karl Raimund Popper, "cada problema surge da
descoberta de que algo não está em ordem com nosso suposto conhecimento; ou
examinado logicamente, da descoberta de uma contradição interna entre nosso
suposto conhecimento e os fatos; ou, declarado talvez mais corretamente, da
descoberta de uma contradição aparente entre nosso suposto conhecimento e os
supostos fatos."
a) Esse problema pode ser inesperado, e não por outra razão a sabedoria
popular diz: “a necessidade é a mãe da invenção”;
b) ou esse problema pode ser provocado:
b.1) quando problematizamos as coisas e/ou os fenômenos pois, tal qual
nos disse Gaston Bachelard, “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”;
b.1.1) sempre por intermédio da contra-argumentação, utilizando o
contraexemplo, para testar nossas teorias que tentam solucionar o problema.
2) QUALQUER problema é, antes de tudo, algo puramente racional, uma
questão intelectual, mesmo quando surge no âmbito de um trabalho puramente
mecânico.
a) Se constatamos a existência de um problema, é porque temos um conhecimento anterior a ele, que nos permite essa constatação.
3) Para tentar uma solução que resolva o problema, elaboramos teorias
que são soluções provisórias a serem testadas.
a) Os testes, ou o teste, dirão se erramos ou acertamos;
b) Até mesmo o erro nos ensina, posto que não precisamos mais trilhar o
mesmo caminho já tentado, e aprendemos o que não é certo para a solução do
problema.
4) SE o conhecimento é retificável, ou seja, pode ser modificado, é evolutivo, no sentido de que caminha sempre do mais simples para o mais complexo.
5) O conhecimento pode, então, ser compreendido como um “vir-a-ser” de complexidade cada vez maior.
6) A recusa em problematizar tudo quanto percebemos como um problema, conduz a neuroses. Aqui se compreenda essa recusa como uma fuga do problema com o qual alguém se defrontou.
7) O como dizemos algo a nós mesmos, ou aos outros, acerca do que
aprendemos é papel da Retórica: podemos tentar convencer ou seduzir tanto ao outro
como a nós mesmos.
8) NÃO é possível comparar INFORMAÇÃO com CONHECIMENTO: quando conheço, estou informado, mas, nem sempre, quando estou informado, conheço. Posso estar informado de algo sem compreendê-lo.
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
* honoriodemedeitos@gmail.com
Estamos cansados. Encenamos uma peça que não escolhemos, no teatro da vida, com parceiros que nos impuseram ou não soubemos selecionar, e uma finalidade que não é aquela que nosso coração escolheria. A razão ansiosa, sim, o coração, não. Lutamos pela admiração alheia, deixando de lado o olhar melancólico do nosso verdadeiro eu, que nos olha do espelho com olhos surpresos pelos nossos fracassos. E, quando menos esperamos, o tempo passou, tudo aquilo pelo qual valia a pena viver se foi como uma bolha de sabão ao sabor do sol, porque chegou o inverno, a última das estações da vida...
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros.
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
Sir Karl Raimund Popper
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
“Senti nesse texto como
se estivesse testemunhando o início da sua caminhada no curso de Direito,
quando você passou por um dilema que eu mesma vivi e vi muitos dos meus colegas
também passarem: primeiramente, a criação de um ideal que permitiria nos enxergarmos
como um verdadeiro aluno de direito, e nos fazia trabalhar em tarefas
auto-impostas para alcançar esse patamar também auto-imposto, e, em segundo
lugar, enxergar a situação do embate entre o que conhecemos e respeitamos e o
que somos apresentados e queremos respeitar. Eu não tinha noção da importância
de Hegel, e gostei de aprender sob sua influência, acerca da visão que os
outros autores tinham dele e de sua obra. Também achei que o texto acabou
mostrando de uma maneira muito delicada como é essa “jornada” do saber: inquietar-se,
questionar-se e a presença constante da mudança de percepções”.[1]
No final dos anos 80,
início dos 90 dediquei-me a estudar Hegel.
Peguei meu exemplar do Princípios da Filosofia do Direito, cuja primeira
edição é de 1918, e me lancei na empreitada, mesmo a contragosto, ante a
dificuldade de compreender o pensamento do autor, que se expressava em uma
linguagem deliberadamente abstrusa.
Fichte, a quem se atribui
ter sido a ponte entre Kant e Hegel, era ainda pior, mas eu acreditava que era
uma espécie de dever moral um estudante de Direito e do marxismo conhecer sua
obra.
A duros custos cheguei lá,
dadas as dificuldades que o texto, em si, e que são grandes, propunham, e do
qual o parágrafo abaixo é um bom exemplo:
O domínio do direito é o espírito em geral; aí, a sua
base própria, o seu ponto de partida está na vontade livre, de tal modo que a
liberdade constitui a sua substância e o seu destino e que o sistema do direito
é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito produzido como uma segunda
natureza a partir de si mesmo.
Quanto mais lia, menos conseguia
esquecer a opinião que de Hegel tinha Schopenhauer, por quem nutro grande
admiração.
Para que se tenha uma
ideia dessa opinião, lembro a afirmação de Schopenhauer, citando Shakespeare (Cimbelina,
ato V, cena 4), em sua Vontade da Natureza, que a filosofia de Hegel era
"uma conversa de loucos, vinda da língua e não do cérebro".
Em O Mundo Como Vontade e Representação, Schopenhauer não deixou por menos:
Hegel, imposto de cima pelos poderes vigentes, como o
Grande Filósofo oficializado, era um charlatão de cérebro estreito, insípido,
nauseante, ignorante, que alcançou o pináculo da audácia por garatujar e
fornicar as mais malucas e mistificantes tolices. Essas tolices foram
barulhentamente proclamadas como uma sabedoria imortal, por seguidores
mercenários, e prontamente aceitas como tal por todos os tolos, que assim se
juntaram num coro perfeito de admiração, como nunca antes se ouvira.
Existe muito mais de
Schopenhauer em relação a Hegel, mas é o suficiente. Além dele, também da mesma
época há, por exemplo, Soren Kiekergaard, autor de O livro do Juiz,
crítico severo de seu historicismo, e citado por Sir Karl Raymund Popper
em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos:
Houve - escreve Kierkegaard - filósofos que tentaram,
antes de Hegel ... explicar a história. E a Providência só podia sorrir ao ver
tais tentativas. Mas a Providência não se ria às escâncaras, pois havia neles
sinceridade e honestidade humanas. Mas Hegel!... Aqui preciso da linguagem de
Homero. Como os deuses gargalharam trovejantemente! Esse pequenino e horrendo
professor compreendeu simplesmente a necessidade de cada uma e de todas as
coisas que existem, e agora executa em seu hormoniozinho toda a peça: “Escutai,
deuses do Olimpo!”
Sir Karl Popper comenta a
citação dizendo que as expressões de Kierkegaard são quase tão fortes quanto as
de Schopenhauer, quando afirma, um pouco depois, que o hegelianismo, "esse
brilhante espírito de podridão, é a mais repugnante das formas de licenciosidade,
mofo de pompa, e possui um infame esplendor de corrupção".
Ainda em A Sociedade
Aberta e Seus Inimigos, Sir Karl Popper, lá para as tantas, se pergunta a razão
pela qual ainda precisamos nos incomodar com Hegel:
A resposta é que a influência de Hegel permaneceu como
força poderosíssima, apesar do fato de que os cientistas nunca o levaram a
sério (...) A influência de Hegel e especialmente a do seu jargão, é ainda
muito forte em sua filosofia moral, e social, como nas ciências sociais e
políticas (com a única exceção da economia). Especialmente os filósofos da
história, da política e da educação, ainda estão sob seu império, em ampla
extensão. Em política isso é mais amplamente mostrado de que tanto a ala
extrema marxista, assim como o centro conservador e a extrema direita fascista
baseiam suas filosofias políticas em Hegel; a ala esquerda substitui a guerra
de nações que aparece no esquema historicista de Hegel pela guerra de classes;
a extrema direita substitui-a pela guerra de raças; mas ambos o seguem mais ou
menos conscientemente (o centro conservador é, em regra, menos consciente do
que deve a Hegel).
Mesmo assim li Hegel.
Conclui minha tarefa autoimposta. Ter continuado a estuda-lo me permitiu, algum
tempo depois, procurar entender a ligação entre a dialética de Heráclito de
Éfeso, a de Hegel, com sua “Filosofia da Identidade”, e a de Marx. Fez-me capaz,
certo ou errado, de conectar esse entendimento com a “Teoria da Evolução”, por
intermédio da “Teoria do Meme”, exposta por Sir Richard Dawkins em O Gene
Egoísta.
Permitiu-me, por fim, compreender que sem a ciência qualquer teoria acerca de fatos históricos é mera especulação. Quanto à Filosofia, é pura metafísica, delírio da Razão.
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
* Honório de Medeiros
honoriodemedeiros@gmail.com
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O nominalismo de Guilherme de Ockham questionou a possibilidade de as Coisas (“a Coisa-Em-Si”, “ o Objeto”, “o Ser”, “a Realidade”) dizerem, ao Sujeito Cognoscente, aquilo que elas são, dizerem suas essências.
Ou seja, nós é que, enquanto demiurgos, ordenamos, organizamos, nominamos aquilo que nossos sentidos apreendem de forma caótica a partir do nosso conhecimento pré-adquirido.
Lemos acerca disso em Kant, Gaston Bachelard, Karl Popper...
Por outra, nominamos relações, processos, evanescências; não há coisas a serem nominadas. As coisas são processos.
Podemos rastrear tal concepção, de certa maneira, até o relativismo sofista de Protágoras de Abdera; Antístenes versus Platão; mesmo, talvez, até Parmênides.
O nominalismo também impede a fenomenologia de Henri Bergson e Edmund Husserl e a pretensão de uma hermenêutica cujo objetivo seja “compreender”: não é o termo “salinas” (lugar onde se cultiva sal) que me diz algo; eu é que digo algo dele, a partir do conhecimento que já possuo.
Assim, o Justo não está fora de mim, é uma construção pessoal e tem a minha medida, e isso ocorre com tudo quanto não esteja sob o domínio da ciência.
Thomas Nagel, em Visão a Partir de Lugar Nenhum (Martins Fontes), observa que “Chomsky e Popper rechaçaram as teorias empiristas do conhecimento”.
Não há essência a ser apreendida, Platão estava
errado, os sofistas estavam certos.
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O apático moral é um cético, mas nem todo cético é um apático moral. Aquele que não o é pode abraçar o inconformismo.
Nesse caso o ceticismo inconformista seria uma forma deliberada de interagir conosco mesmo e com tudo quanto nos envolve. Seria uma arma para se defender contra o pântano do "status quo", e ir além do que foi estabelecido ruinosamente.
Ceticismo somente, não: conduz à apatia moral. No ceticismo inconformista, duvidamos, questionamos, e nos manifestamos.
Mas é preciso cuidado: não é somente o Outro que não sabe; o cético inconformista também não sabe, embora saiba que não sabe. Não custa nada acendermos uma vela em homenagem a Sócrates.
Autocrítica e ceticismo inconformista: o primeiro para nos colocar em nossos reais limites; o segundo, para colocar os outros em seus limites reais.
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)
O mundo está se fragmentando.
Cada homem, hoje, é uma ilha.
Uma ilha em permanente guerra contra as outras.
Tudo quanto formava a unidade entre as pessoas, como a crença em Deus, a fé na Razão, a vida comunitária, se desfaz lentamente.
Não nos damos mais as mãos, exceto quanto temos algum interesse a alcançar.
O altruísmo morre lentamente, prevalece o egoísmo.
Todos são, individualmente, desde algum tempo, donos de uma verdade única, e agem como se quem não concordasse consigo fosse um inimigo a ser destruído.
Breve esse
individualismo exacerbado, que se firma nos nossos defeitos, e não no que nos
engrandece, há de nos conduzir para uma realidade na qual cada um será por si,
e ninguém por todos.
Então, será o fim.
* Honório de Medeiros
(honoriodemedeiros@gmail.com)