• Honório de Medeiros
O Rei dos Gatos. Negro retinto. Imenso. Olhos cuja cor flutuam ao sabor das circunstâncias. Aparece e desaparece como em um passe de magia. Reina inconteste no Serrame de Santana. Todos os outros lhe prestam vassalagem. Muito poucos de nós o veem...
Andava eu esquecido de quando o tinha visto pela última vez. Agora, lá estava ele, soberbo, plena luz do dia, na trilha, parado em um lugar estratégico, olhando desdenhosamente para mim, próximo às pedras onde eu estava.
Puxei o celular para registrar o momento. Enquadrei-o torcendo para que não escapasse, mas parei assustado. Ele estava com o pelo totalmente eriçado, e seus olhos brilhavam agudamente. A atitude era típica de uma defesa em preparo.
O que era aquilo? Algo o ameaçava. Não. Não era a ele. Era a mim. Era um aviso. Instintivamente dei um forte salto para o lado, saindo da pedra e pousando na areia da trilha. Algo sibilou, eu ouvi. Estremeci.
Foi por um quase nada. No canto onde eu estava, enrodilhada, uma cascavel graúda balançava o chocalho e me encarava, lamentando o bote perdido. Quase no mesmo instante, sumiu pelo outro lado, desapontada. Um arrepio percorreu minhas costas. Ah, Deus!
Olhei para o Gato Rei. Agradeci-lhe silenciosamente, baixando a cabeça. Ronronou. Passei a saber. Ele sabia que eu sabia. A mensagem fora clara. Daquele momento em diante, eu lhe devia um grande favor. Nada mais, nada menos.
Que assim seja.
Salve, Gato Rei!
°Honório de Medeiros, Cerro, Quinta da Aroeira, 30 de junho de 2025.