* Honório de Medeiros
Talvez seja falsa a noção de que é possível, coletivamente e conscientemente, construirmos valores que norteiem um processo civilizatório semelhante àquele que sempre evocamos quando voltamos nossos olhos para a história em busca de entendimento e orientação.
Refiro-me à civilização grega, norteada pelo senso de “Arete” que perpassa a vida do cidadão ateniense, ou seja, sua “Paidéia”, como magnificamente nos mostrou Péricles, na “Oração aos Mortos na Batalha de Maratona”, preservada por Tucídedes.
O olhar crítico acerca desse preâmbulo há de apontar, de início, duas questões: a fragilidade da mundivisão ateniense, que não resistiu aos seus conflitos internos e a Alexandre, o Grande; e a impossibilidade daquela experiência sublime ter sido resultado de qualquer planejamento.
Na verdade, ela resultou de fatores tão circunstanciais quanto, por exemplo, para o surgimento da filosofia, a especial qualidade e característica da língua grega.
A tais críticas é possível responder dizendo que não se trata de repetir, por igual, tamanho feito. Isso seria impossível.
Trata-se, no entanto, de usar o aparato tecnológico construído pelo homem, ao longo dos séculos, colocando-o à disposição de uma política da Sociedade – nunca de Governo – que deliberadamente, envolvendo todos, construa, firmemente, esses pilares onde se fulcrará uma civilização pela qual tenhamos orgulho e respeito.
Caso contrário, as piores previsões, construídas a partir das teorias que sobreviveram à passagem do século XX para o XXI, irão se concretizar e nós estaríamos marchando a passo batido para o caos – esse limite último da entropia – ou para o resultado possível da seleção natural: o fim da espécie humana.
Catastrófico? Talvez. Possível? Sim.
Coincidentemente o mundo volta seus olhos, apavorado, para a Terra e os transtornos climáticos e catástrofes naturais que estão acontecendo cada vez mais freqüentemente.
Já há trabalhos científicos demonstrando ser insuportável continuar extraindo, do nosso planeta, e da forma como é feita, sua riqueza natural.
Desmatamentos, degelos, extinção de espécies, extração de riquezas do subsolo, dizimação de florestas, aquecimento global – parece não haver fim para tudo quanto o homem possa fazer nessa empreitada de autodestruição.
Se não abrirmos os olhos, não construirmos um novo pacto civilizatório que deixe para trás o modelo ao qual temos nos aferrado ao longo de nossa existência, não haverá porque não dar razão aos Cátaros, aqueles hereges dizimados pela Igreja Católica medieval, que diziam ser o mundo da matéria uma criação do mal.
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