quarta-feira, 25 de julho de 2018

DIÁRIO DE VIAGEM: PRIMEIRO DIA

* Honório de Medeiros

O avião da TAP até que foi pontual, contrariando nossas expectativas. Chegou na hora em Lisboa, mas ficamos no chão, esperando ordem para atracar, por um longo tempo.

Então começou o drama das filas. A primeira intimida. É um mar de gente tentando ultrapassar a imigração. 

Senti-me, como sempre, qual um rato correndo em um labirinto formado por cordões de isolamento. 

A fila anda, para, anda, para, vamos cruzando uns com os outros, embora separados por raias, nervosos, tangendo uns aos outros e nossa bagagem de mão.

Depois, outra fila: a máquina de raio-x que vasculha o interior da bagagem. Tiramos casaco, celular, ipad, notebook, mochila, sapato, cinturão, relógio. Quase nus, fomos liberados. Finalmente estamos considerados aptos a entrar na Europa!

Agora uma fila para comer. Depois de um voo noturno de sete horas de duração, isso é fundamental. Ainda falta a fila para pegar o voo até Paris e, depois, a longa espera para recolher as malas. Recolhidas as malas, nova fila para pegar o táxi, e ainda uma última, no hotel, para o check-in.

O voo até que foi bom, não fosse o fedor do casal europeu sentado atrás das nossas poltronas. Cheiro de roupas mal lavadas, suor acumulado, ranço.

Conhecemos um casal de cariocas, ele bem mais novo que ela. Interessantes. Essa era a primeira vez que viajavam juntos para fora do Brasil. Levou tempo até que ele, que gosta de viajar, a convencesse a sair de casa e cruzar os mares no rumo do Velho Mundo. Ela, caseira, ele, bate-perna.

Uma das aeromoças portuguesas era tão bonita que me fez lembrar uma Madonna rafaelita:


 Madonna della seggiola,  Raphael Sanzio, 1513 - 1514.

Tomamos o Hotel Albe Saint Michel, na Rue de La Harpe, no epicentro da muvuca, perto da Notre-Dame e da Shakespeare & Co., a lendária livraria da zona sul da cidade de Paris, aberta por Sylvia Beach em 19 de novembro de 1919.

Depois fomos até o Sena render nossas homenagens ao mais belo dos rios depois do Potengi amado, o mesmo Sena do belo poema "A Ponte Mirabeau", de Guillaume Apollinaire:

"Sob esta ponte passa o rio Sena
e o nosso amor
lembrança tão pequena
sempre o prazer chegava após a pena

Chega a noite a
hora soa
vão-se os dias
vivo à toa

Mãos dadas nós fiquemos face a face
enquanto sob
a ponte dos braços passe
de eternas juras tédio que se enlace

Chega a noite a
hora soa
vão-se os dias
vivo à toa

E vai-se o amor como água corre atenta
e vai-se o amor
ai como a vida é tão lenta
e como só a esperança é violenta

Chega a noite a hora
soa
vão-se os dias vivo à
toa

Dias semanas passam à dezena
nem tempo volta
nem nosso amor nossa pena
sob esta ponte passa o rio Sena

Chega a noite a hora
soa
vão-se os dias vivo à
toa".

Terminamos a noite, muito cansados, jantando no Il Gigolo, na pequena Rue de La Huchette, com apenas dois quarteirões fechados para pedestres, meio kitsche, no centro de Parisonde sempre encontramos de tudo, do jazz à música tradicional italiana.

Nela fica o famoso Clube de jazz  "Le Caveau de la Huchette". E um teatro, o "Théâtre de la Huchette", inaugurado logo após a segunda guerra mundial e que desde então oferece o mesmo programa: todas as noite podemos ver duas peças de Ionesco: "La Cantatrice Chauve" e "La Leçon". Casa cheia, sempre.


A cor das águas do Sena. Nada há igual. Talvez a do Potengi.

Um comentário:

Unknown disse...

Isso né pra qualquer peba não. Coisa pra tatu aristocrata, mestre Honorífico. Xero pras Bárbaras. François.