As serras
* Honório de Medeiros
Ah, as mulheres da Serra, frescas, em
flor, sem nada que as enfeite exceto a simplicidade. Elas vestidas de
simplicidade. “Uma carne sadia, abundante e rosada”, como descreve Proust, em
“No Caminho de Swann”. Nada artificial, nelas. Não há um jogo sequer nas suas
atitudes para com os homens. Ou com as mulheres. Beber, comer, amar, é tudo tão natural! Swann
“prefiria infinitamente à beleza de Odette aquela de uma pequena operária fresca e
rechonchuda como uma rosa, de quem se enamorara...” Em contraposição eis o universo
urbano recheado de mulheres excessivamente enfeitadas, com a mente tomada por
negaceios e dissimulações, no afã infindável de seduzir: o óculos de sol, a
roupa de grife, o olhar tecnicamente distante, o celular através do qual são
armados os lances do jogo. Por quem, no final, Vaumont se apaixona em “As Relações
Perigosas”, de Chorderlos de Laclos, senão pela viúva Merteuil, por sua inteireza de sentimentos e
ações, distante de qualquer dissimulação, a pureza da mulher que ele julgara tão fácil
seduzir e descartar?
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