terça-feira, 31 de julho de 2018

AS MULHERES SERRANAS


As serras

* Honório de Medeiros

Ah, as mulheres da Serra, frescas, em flor, sem nada que as enfeite exceto a simplicidade. Elas vestidas de simplicidade. “Uma carne sadia, abundante e rosada”, como descreve Proust, em “No Caminho de Swann”. Nada artificial, nelas. Não há um jogo sequer nas suas atitudes para com os homens. Ou com as mulheres. Beber, comer, amar, é tudo tão natural! Swann “prefiria infinitamente à beleza de Odette aquela de uma pequena operária fresca e rechonchuda como uma rosa, de quem se enamorara...” Em contraposição eis o universo urbano recheado de mulheres excessivamente enfeitadas, com a mente tomada por negaceios e dissimulações, no afã infindável de seduzir: o óculos de sol, a roupa de grife, o olhar tecnicamente distante, o celular através do qual são armados os lances do jogo. Por quem, no final, Vaumont se apaixona em “As Relações Perigosas”, de Chorderlos de Laclos, senão pela viúva Merteuil, por sua inteireza de sentimentos e ações, distante de qualquer dissimulação, a pureza da mulher que ele julgara tão fácil seduzir e descartar?

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