O corpo fala. E o que ele diz é o objeto de estudo da Retórica do Corpo.
É técnica complexa, essa de entender o que o corpo fala. Em a dominando, o especialista “percebe”, ao invés de apenas “ver”, as mensagens que as pessoas enviam por intermédio dos muitos e complexos sinais emitidos por seu corpo durante a interação social ou mesmo isoladamente.
Claro que em um nível muito básico todos somos capazes de distinguir o óbvio, em se tratando de retórica do corpo: se alguém, na nossa frente, cruza e descruza os braços repetidamente, e muda as posições dos pés com insistência, é muito provável que esteja imersa em ansiedade.
Em outros níveis a tarefa de decodificar a linguagem do corpo se torna bem mais complexa, e envolve fisiologia, psicologia, capacidade de inferência e análise, princípios de estratégia e tática, e assim por diante.
Na imagem vista acima, a linguagem do corpo dos dois protagonistas é quase exposta aos berros. Ou seja, é fácil perceber o que se passa internamente em cada um deles, a partir do que seus corpos expressam.
Por exemplo, Roseana Sarney:
Consideramos, “a priori”, que o corpo humano se expressa fundamentalmente via abdômem, tórax e cabeça. O restante do corpo corrobora a mensagem enviada por essas suas três partes.
O abdômen diz a vida instintiva, o tórax a vida emocional, e, a cabeça, a vida mental.
Observemos Roseana Sarney no momento em que se manifesta publicamente acerca do horror vivido recentemente no setor penitenciário maranhense, e que foi fartamente veiculado pela mídia nacional e internacional.
Sua postura geral é de recuo, como se estivesse sendo atacada. É a mesma postura de alguém que foge de um golpe inesperado. Essa postura de recuo reflete a linguagem do abdômen (instinto) e tórax (emoção): “defenda-se ou fuja”.
Ela, a Governadora, escolheu defender-se, contra-atacando. Não tinha outra opção. É o que se percebe da posição dos seus braços, extensão do tórax, que apontam, como lanças, para aqueles que a atacam com questões “impertinentes”, enquanto os dedos, apontando para cima, ou seja, para a cabeça, tentam impor aquilo que ela diz, seu discurso: "prestem atenção no que eu digo".
O olhar esbugalhado e a testa franzida demonstram a ira em ter sua posição de “dona do pedaço” sobre ataque, acusando o golpe mal assimilado, porque em desconformidade com o que ela deseja e espera. A cabeça recuada, e o queixo erguido, nos induz a leitura de uma postura arrogante, tipo “com quem você pensa que está falando? Quem determina aqui as regras do jogo sou eu!”.
Trocando em miúdos: posição de defesa, e contra-ataque arrogante, típica de um “coronel de saias”.
Olhando atentamente para a cena, o Ministro da Justiça é a própria expressão da contrariedade com tudo que está acontecendo. Ele está contrariado por estar ali, por estar vendo o que está vendo, por estar escutando o que está escutando.
Seu corpo diz isso.
Observe-se o braço cruzado por sobre o abdômen e o tórax. É como se ele estivesse reprimindo sua raiva, contendo suas emoções. O outro braço, conectado ao primeiro, obstrui a boca, como se a reprimisse de dizer aquilo que deseja. A boca é, na cabeça, como que uma extensão do abdômen: por seu intermédio, comemos; e o abdômen, como dito acima, representa o instinto básico do ser humano.
A cabeça do Ministro, ou seja, a razão, também está contida pela mão. Sua postura, reprimida em todos os três quadrantes fundamentais do corpo, é de absoluto incômodo com a situação pela qual está passando e é corroborada pela expressão da região dos olhos, onde despontam as sobrancelhas erguidas e as pálpebras baixadas, típicas de desaprovação e desprezo.
A Retórica do Corpo, quando em consonância com a Retórica da Expressão Oral e Textual, assim como com a Retórica das Coisas, proporciona uma interessante possibilidade de percepção da realidade e, até mesmo, de interferência na realidade.
A questão que remanesce diz respeito ao uso ético dessa técnica.
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