quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O MUNDO É UMA ALDEIA GLOBAL

Honório de Medeiros



                        Dia desses, estando em Martins, aproveitei uma madrugada para caminhar. Saí da “Morada dos Ventos”, no Sítio Canto, e peguei a estrada de barro que o liga à cidade. Um pouco mais à frente dois moradores do Sítio, de cócoras, tomavam canecas de café e conversavam. Quando passei ao lado deles, e antes de cumprimentá-los, escutei um fragmento de diálogo:

                            - E ele comprou como?

                            - Foi pelo computador. Pediu na internet.

                            Imediatamente evoquei minha adolescência em Natal, meados da década de 70,  recém-chegado de Mossoró e maravilhado com a biblioteca de minha tia, Elza Sena, professora da Ufrn, na qual encontrara dois livros muito estranhos, tanto em relação à forma com a qual foram escritos quanto ao seu conteúdo: “O Meio é a Mensagem”, e “A Galáxia de Gutemberg”.

                            Eu os li várias vezes. Não compreendia o alcançe de suas hipóteses, mas intuía que eram extremamente significativas. Nunca os esqueci. Já cinquentão pude comprovar, pessoalmente, quão revolucionário era o pensamento do seu autor.

                            Pois foi McLuhan, o autor dessas duas obras, escritas sob a forma de apotegmas e inseridas em um meio gráfico sofisticado e diferenciado, que pela primeira vez tratou dos meios de comunicação enquanto extensões do Homem. Não somente isso. De sua lavra também é, entre outras, a hipótese de que em algum momento uma “rede mundial de ordenadores tornará acessível, em alguns minutos, todo o tipo de informação aos estudantes do mundo inteiro.”

                            Estava lançado o conceito de “Aldeia Global”. Dele decorre o ousado corolário de que com o surgimento da energia elétrica – leia-se, hoje, “internet” - as relações sociais passam, necessariamente, a ser tribalizadas, em decorrência da maior interação entre os indivíduos.

                            A compreensão de que os meios de comunicação são extensões de Homem ainda não foi plenamente assimilada, mesmo quando tratada à luz da Teoria da Seleção Natural. McLuhan chamava essas extensões de “próteses técnicas”. Um computador, por exemplo, seria uma extensão do cérebro. As consequências dessa concepção constituem campo fértil para epistmologias evolucionárias.

                            Quanto à idéia de “Aldeia Global”,  McLuhan entende que é/será um “topos” de convergência, no qual  se permitiria, em qualquer circunstância a comunicação direta e sem barreiras.

                            Ou seja, trocando em miúdos, a “internet”. O mundo é/será uma imensa “Aldeia Global”, graças à possibilidade de comunicação instantânea entre seus moradores.

                            Esse evocar se desdobrou, enquanto eu caminhava, em uma série de conexões com leituras de outras obras, tal como “A Biblioteca de Babel”, uma metáfora acerca da Sociedade de informação, genial texto de Jorge Luis Borges, a Teoria de Sistemas de Ludwig von Bertalanffy, e a relação entre a Sociologia de Marx e a Teoria da Seleção Natural, de Darwin. Tudo quanto torna fascinante o mundo dos livros e dos seus leitores, essa eterna tentativa de entender o que somos, e para onde vamos...

                            Mas essa já é uma outra história.

                            Curioso, mesmo, é constatar o quanto anda esquecido McLuhan. 

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