Dia desses, estando em Martins, aproveitei uma madrugada para caminhar.
Saí da “Morada dos Ventos”, no Sítio Canto, e peguei a estrada de barro que o
liga à cidade. Um pouco mais à frente dois moradores do Sítio, de cócoras,
tomavam canecas de café e conversavam. Quando passei ao lado deles, e antes de
cumprimentá-los, escutei um fragmento de diálogo:
- E ele
comprou como?
- Foi
pelo computador. Pediu na internet.
Imediatamente
evoquei minha adolescência em Natal, meados da década de 70, recém-chegado de Mossoró e maravilhado com a
biblioteca de minha tia, Elza Sena, professora da Ufrn, na qual encontrara dois
livros muito estranhos, tanto em relação à forma com a qual foram escritos quanto
ao seu conteúdo: “O Meio é a Mensagem”, e “A Galáxia de Gutemberg”.
Eu os li
várias vezes. Não compreendia o alcançe de suas hipóteses, mas intuía que eram
extremamente significativas. Nunca os esqueci. Já cinquentão pude comprovar,
pessoalmente, quão revolucionário era o pensamento do seu autor.
Pois foi
McLuhan, o autor dessas duas obras, escritas sob a forma de apotegmas e
inseridas em um meio gráfico sofisticado e diferenciado, que pela primeira vez
tratou dos meios de comunicação enquanto extensões do Homem. Não somente isso.
De sua lavra também é, entre outras, a hipótese de que em algum momento uma “rede
mundial de ordenadores tornará acessível, em alguns minutos, todo o tipo de
informação aos estudantes do mundo inteiro.”
Estava lançado
o conceito de “Aldeia Global”. Dele decorre o ousado corolário de que com o
surgimento da energia elétrica – leia-se, hoje, “internet” - as relações
sociais passam, necessariamente, a ser tribalizadas, em decorrência da maior
interação entre os indivíduos.
A
compreensão de que os meios de comunicação são extensões de Homem ainda não foi
plenamente assimilada, mesmo quando tratada à luz da Teoria da Seleção Natural.
McLuhan chamava essas extensões de “próteses técnicas”. Um computador, por
exemplo, seria uma extensão do cérebro. As consequências dessa concepção
constituem campo fértil para epistmologias evolucionárias.
Quanto à
idéia de “Aldeia Global”, McLuhan entende
que é/será um “topos” de convergência, no qual
se permitiria, em qualquer circunstância a comunicação direta e sem
barreiras.
Ou seja, trocando em
miúdos, a “internet”. O mundo é/será uma imensa “Aldeia Global”, graças à
possibilidade de comunicação instantânea entre seus moradores.
Esse evocar se
desdobrou, enquanto eu caminhava, em uma série de conexões com leituras de outras
obras, tal como “A Biblioteca de Babel”, uma metáfora acerca da Sociedade de
informação, genial texto de Jorge Luis Borges, a Teoria de Sistemas de Ludwig
von Bertalanffy, e a relação entre a Sociologia de Marx e a Teoria da Seleção
Natural, de Darwin. Tudo quanto torna fascinante o mundo dos livros e dos seus
leitores, essa eterna tentativa de entender o que somos, e para onde vamos...
Mas essa já é uma
outra história.
Curioso, mesmo, é
constatar o quanto anda esquecido McLuhan.
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