sábado, 20 de outubro de 2012

DO OFÍCIO DE ENSINAR


Do falaarapiraca.blogspot.com



Honório de Medeiros
 

De todas as atividades profissionais que exerci, nenhuma me deu tanto prazer quanto a de ensinar. Não por outro motivo continuo ensinando, e até diria que o afeto pelo ensino me levou, incontáveis vezes, a construir inconscientemente obstáculos que me impediram de aceitar outros compromissos profissionais mais rentáveis ou mesmo de maior projeção curricular. 

Assim, nada me deu tanto orgulho quanto a obtenção, com louvor, do título de Mestre, através da defesa de Dissertação acerca do tema “Poder Político e Direito”, ante uma banca de examinadores formada por dois doutores e um livre-docente, este último, inclusive, visceral adversário da minha linha de pensamento no âmbito do Direito, claramente externada antes em memorável prova oral de admissão ao Curso de Mestrado que durou quase quarenta e cinco minutos! 

Contou-me depois o Professor Doutor Paulo Lopo Saraiva, meu orientador, a quem presto as homenagens merecidas, em jantar comemorativo, que ele, o Professor Doutor e Livre Docente da Universidade Federal do Ceará, autor renomado, insistira em compor a “minha” Banca. Uma honra, com certeza. 

A vida acadêmica seria, portanto, uma opção natural quando terminei o curso de Direito em Natal. Seria, eu o digo, se já naquele tempo do qual os professores universitários de hoje têm saudade, a profissão não fosse tão mal remunerada. E eu não precisava fazer muitas indagações para constatar essa realidade. A professora Elza Sena, minha tia, com quem eu morara durante meus últimos anos de curso secundário, ainda era viva, estava no penúltimo degrau de sua carreira, e ganhava muito mal. 

Tomei, portanto, outros caminhos, mas não escondia de mim, nem de ninguém, meu desejo de ensinar. Em 1999, finalmente entrei, através de processo simplificado, na Universidade Potiguar, onde, desde então, ensino Filosofia do Direito, com raras incursões em outras disciplinas, quase sempre da área propedêutica, por opção própria. 

Tenho ensinado, desde então, às vezes com sacrifício pessoal, mas sempre com renovado prazer. E tenho encontrado, sempre, compensações para o parco salário que nos é pago: as controvérsias em sala-de-aula, que enriquecem o conhecimento; a descoberta de talentos fulgurantes entre os alunos; a convivência com a diversidade de opinião entre colegas, no ambiente acadêmico; os laços de afeto que se formam entre professores e alunos; a criação do hábito de estudo para a preparação das aulas. 

Mas tenho sentido, na própria pele, dia após dia, o pouco compromisso da grande maioria dos nossos políticos com a educação, e percebido, por intermédio da constatação da falta de investimentos em recursos humanos, seja quanto ao básico - a parca remuneração dos professores, seja quanto ao complexo, o distanciamento da opção pelo ensino crítico e a pesquisa científica. 

Pedindo desculpas pelo texto autorreferente, concluo observando que é inacreditável termos, no Brasil de hoje, mesmo com todas essas adversidades, ilhas de excelência na área de educação, resultado da abnegação, do sacrifício, da determinação de uns poucos. 

São estes poucos verdadeiros sacerdotes do saber, heróis anônimos, para recuperar uma definição surrada, batida, estropiada, mas absolutamente verdadeira. 

A eles, a minha sincera homenagem.
 
* Publicado novamente a pedido.

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