terça-feira, 13 de setembro de 2011

A POESIA VIROU PAGODE



Franklin Jorge


Escrevendo certa vez, em circunstância jornalística, disse o critico Jayme Hipólito Dantas, dos nossos escritores, que não costumam exercer o direito à crítica, corroborando dessa forma para a consolidação de um perfil do intelectual como um provinciano tímido e alienado das provocações proporcionadas pelo acicate da realidade.

Realmente, se nos detemos para verificar se são justas ou não as suas palavras, deparamo-nos com um quadro que deixa muito a desejar, seja no exame direto das obras aqui produzidas seja nas páginas do próprio jornal, quando chamados a opinar ou discorrer sobre os fatos, mostram-se os nossos escritores superficiais ou indiferentes às questões que dizem respeito ao pleno exercício da cidadania. O resultado é um caldo ralo e insípido, a delatar a pobreza de idéias e o descomprometimento em relação à sistemática da história e aos próprios mecanismos literários.

Contam-se nos dedos, portanto, entre os nossos autores, aqueles que parecem dispor de um acervo de idéias e do conhecimento necessário à produção de uma obra que extrapole os limites do anedótico e do charlatanismo literário, sempre tão presentes em uma produção que excede em diletantismo e numa cultura insuficiente que prospera diante da apatia e do absenteísmo de editores que se escusam de exercer plenamente o seu papel, no sentido de proporcionar ao leitor, sob a forma de um texto bem escrito e concatenado, a originalidade do enfoque capaz de fazê-lo interagir com o autor.

A verdade crua e seca nos diz que os nossos escritores evitam opinar, a não ser que o faça como louvação, para não sofrerem contestação, posto que sabidamente ninguém desmente elogios, especialmente num âmbito que se faz notar pela elefantíase de egos inflados como balões de aniversário de kids.

Nota-se, com raras exceções, a dificuldade com que se depara o escritor ao escrever em prosa, uma prova das mais difíceis, pois ao contrário da poesia costuma expor mais claramente as deficiências de um talento limitado à serviço de uma cultura geralmente precária, pois adquirida às pressas e de qualquer jeito, com o intuito de se fazer notar mais pela aparência do que pelo conteúdo; mais pelo excesso de autoconfiança do que pelo estilo que distingue o homem de letras daquele que não o é.

Daí a proliferação de poetas, ou seja, de pessoas de sensibilidade que se iludem com a facilidade com que o verso acode ao chamamento da vaidade, sem consideração pelas exigências do aprendizado que se faz sob o circulo da lâmpada, na solidão e no silêncio. Prova-a a existência de uma sociedade de poetas que, sozinha, conta com mais de quinhentos associados. Fazem parte daquele famoso grupo identificado por Machado de Assis, se não me engano em “Esaú e Jacó”, que possui sensibilidade, mas carece de talento; ou seja, sente, mas não sabe expressar…

Toda essa pagodeira me faz lembrar o Sylvio Romero, um dos mestres de Cascudo, que dizia ser a pobreza intelectual de um povo proporcional ao número de seus poetas. Levando-se em consideração o eminente polígrafo, em relação àqueles que versejam entre nós, estaríamos inapelavelmente no mais baixo patamar da cultura.

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