sábado, 3 de setembro de 2011

"CARIRI - CANGAÇO, COITEIROS E ADJACÊNCIAS", DE NAPOLEÃO TAVARES NEVES

Dr. Napoleão Tavares Neves

Honório de Medeiros   

                Deliciosa leitura a do “Cariri – Cangaço, Coiteiros e Adjacências”, do Dr. Napoleão Tavares Neves. O subtítulo “Crônicas Cangaceiras” é precioso, um achado. A edição é relativamente bem cuidada, da Thesaurus Editora, de Brasília, com orelhas de Leandro Cardoso Fernandes, apresentação de José Peixoto Júnior e prefácio de Melquíades Pinto Paiva. Cento e trinta e duas páginas, incluindo a iconografia.

                   São crônicas, não sobram dúvidas, que nos encaminham ao passado conturbado e inigualável do Cariri, do qual Dr. Napoleão Tavares Neves foi e é testemunha privilegiada, seja porque sua história se confunde com a dos seus ancestrais, seja porque ao longo dos anos colheu e preservou a herança oral e escrita dos muitos personagens caririenses aos quais procurou ou por eles foi procurado.

                   Não há história do cangaço sem o Cariri; não há história do coronelismo sem o Cariri; não há história do misticismo sem o Cariri. O Cariri é um mundo dentro do mundo. Como não se quedar admirado com um País, isso mesmo, um País onde fizeram e aconteceram, como dizemos no Sertão, Lampião, Padre Cícero e Floro Bartolomeu? Os Marcelinos, o Pe. Manuel Antônio de Jesus, o Coronel Santana da Serra do Mato? As mulheres da epopéia de Guaribas. O “fogo” do Custodio, da Piçarra, Chico Chicote? Tantos personagens e tantos fatos...

                   Por essas e outras razões, recomendo sempre ouvir Dr. Napoleão Tavares Neves. Quando não possível, ler o que ele – fina flor do Cariri, um fidalgo sem reproche – escreve. O mesmo Dr. Napoleão que menino, tão bem cuidado por “Dondon”, foi criança no Sítio Saco, em Porteiras, no Cariri eterno, e nas noites de lua ficava de papo para o ar deitado na bagaceira do velho engenho de rapadura, “ouvindo os mais idosos contarem as peripécias de Lampião”.

                   As crônicas históricas são assim mesmo: um compósito de lembranças que resulta de um olhar da memória cujo destino foi as pessoas e os acontecidos, tudo suavemente coberto por uma pátina de melancolia que nada mais é senão a nostalgia proustiana do tempo perdido, das eras anciãs, do arcaico que o tempo, há muito, levou.

                   Desafiam o tempo, essas crônicas, se eternizam, pois também nos apresentam o mundo como ele foi e permitem esboçar uma chave canhestra para compreender o presente e, quiçá, o futuro, principalmente quando escritas por alguém que lhes transmite respeitabilidade factual, mesmo que resultando de uma perspectiva personalíssima, como é o caso dessas crônicas do Dr. Napoleão Tavares Neves.                

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