domingo, 13 de dezembro de 2009

O JOGO DE XADREZ ENQUANTO METÁFORA DO DIREITO



Jogo de Xadrez

Por Honório de Medeiros

Suponhamos dois circunstantes que se disponham a jogar uma partida de xadrez.

Para iniciá-la, deverão estar previamente concordes quanto às regras a serem seguidas. Sabem que descumpri-las é fatal: haverá sanção (no jogo de damas, cartas, ou outro qualquer, as regras surgirão, também, através de acordo preliminar).

Uma vez iniciada a partida, ela desenvolver-se-á em dois planos: no primeiro, sob a égide de regras que disciplinam o jogo, e que são oriundas de fatores a ele externos, tais como as decisões da Federation Internationale Des Echecs (FIDE), entidade que congrega e ordena a atividade enxadrística em nível internacional, ou mesmo o regulamento do torneio do qual estão participando os contendores; no segundo, deverão (ou não) serem observadas, pelos contendores, regras (técnicas) imanentes à própria disputa, ao jogo-em-si, descobertas ao longo do tempo pelos estudiosos para que se obtenha a vitória almejada: noções estratégicas, táticas, questões atinentes às aberturas, defesas, e assim por diante.

Quanto ao segundo plano pode-se falar em duas realidades distintas: a estática e a dinâmica. A primeira diria respeito à estrutura que a configuração das peças, em determinado momento da partida, origina em termos de vantagem para um ou outro (algo como, numa batalha interrompida, a quantidade de soldados, tanques, armas das quais disporia cada exército); a segunda corresponderia à variáveis puramente abstratas e nos daria uma idéia acerca de quem, por exemplo, detém a iniciativa no jogo (comanda a ordem dos acontecimentos).

O observador cognoscente pode analisar esse objeto cognoscível (o jogo) de três formas diferentes: na primeira, enquanto não-participante, ao se perguntar acerca da história dessa disputa, as causas do seu surgimento, a psicologia dos participantes e, nesse caso, estará trabalhando enquanto historiador, psicólogo, ou sociólogo. Se o analisa enquanto metáfora da guerra, ou empreende a construção de uma teoria política utilizando a luta, o debate, o jogo como paralelos, desenvolve uma atitude filosófica.

A terceira forma impõe o raciocínio dedutivo e nos surpreende atuando enquanto participante do jogo, às voltas não somente com aquelas regras impostas de fora para dentro pela FIDE ou Direção do Torneio, mas, também, com as outras exigidas pela estratégia e táticas para a obtenção da vitória: aqui é-se um protagonista da cena enxadrística.

Assim também o é o Direito, do qual o Xadrez pode ser uma metáfora, atento a quanto ele o é da guerra em si.

3 comentários:

Anônimo disse...

QUE COMPARACAO PERFEITA DOUTOR, VEJA QUE ME FORMO AGORA EM DIREITO E COMPAREI O DIREITO A UM JOGO DE XADREZ NO MEU CONVITE DE FORMATURA E FUI MUITO ELOGIADA POR UNS E MUITO CRITICADA POR OUTROS QUE NAO ENTENDERAM A COMPARACAO DO DIREITO A UM JOGO,E AO RESPONDER AS CRITICAS BUSQUEI NO GOOGLE A PALAVRA DIREITO X XADREZ E ACHEI SEU TEXTO,PERFEITO PARA MINHA CONTESTACAO(RISOS).PARABENS.

Anônimo disse...

GABRIELA MORAES-SALVADOR-BA

Honório de Medeiros disse...

Obrigado, Gabriela.

Fico feliz.

Esse artigo foi reproduzido em vários sites dedicados ao xadrez, inclusive na Europa.

Parabéns por sua comparação. Ela é excelente!

Não tema a crítica. O mais das vezes, quando a Academia critica, é um ótimo sinal de que nós estamos certos.

Honório de Medeiros