By Gary Brown, in fineartamerica.com
* Franklin Jorge
Pensador e humanista, Michel de Montaigne escreve para o bem público. Fundador de uma tradição, concebe, exemplarmente, o ato de escrever como uma magistratura.
leitor@navegos.com.br
É possível que, quatro séculos depois, ao afirmar que um grande escritor é como um príncipe, Thomas Mann estivesse pensando no autor dos Ensaios. Levam ambos – o francês clássico e o moderno clássico de língua alemã – uma existência representativa, à maneira dos príncipes, e, como escritores, seus eventuais erros e equívocos teriam mais consequências negativas do que aqueles cometidos pelos políticos.
Poucos escritores, antes ou depois, encarnaram tão perfeitamente esse conceito manniano, que exalta e resume toda uma concepção ontológica do exercício intelectual.
Magistrado cioso do seu dever, assessor dignissumus do rei –sempre moderado e dependente da razão – alerta-o Montaigne, sem temer cair no desagrado real, quanto convém a um governante visitar e acatar os cidadãos em proveito dos negócios do Estado. É Montaigne, neste sentido, o anti-Maquiavel.
Conselheiro de Estado e, por algum tempo, prefeito de Bordeaux, a política, como um serviço prestado à Nação, mereceu dele, Montaigne, a mais alta e sensata consideração baseada no bom senso e na observação dos costumes.
Ao contrário de Maquiavel, valoriza e defende os direitos individuais, movido por uma surpreendente mistura de tato e convicção, pois crê, sobretudo, que um homem que leu e assimilou experiência e reflexão é mais capaz de grandes feitos do que os outros…
Em um ponto, porém, concorda, ao menos, com Maquiavel, ao afirmar que o interesse público, às vezes, exige do governante que traia e mate e até massacre no interesse público -frise-se- não para a satisfação do interesse individual do governante, como Maquiavel aconselharia ao Príncipe.
Precursor e patrono oficioso do Iluminismo, parece dizer-nos Montaigne que os erros dos políticos sejam frutos não dos interesses, mas das convicções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário