* Bárbara de Medeiros
Sou grande demais para o balanço.
Mas isso não me impede de sentar e lembrar da época em que minhas pernas ainda eram curtas: minha felicidade, muito mais fácil de ser alcançada – com os pés fora do chão.
Eu sempre fui uma sonhadora (sou pisciana, afinal), e quando não estava escondida atrás de livros, estava vivendo no meu próprio mundo imaginário, onde nada me abalava e monstros só existiam para serem derrotados.
O dia em que esse mundo parou de existir foi o dia em que tudo ficou complicado, eu acho.
Mas não sei indicar qual foi.
Não foi quando o vermelho tingiu meus lençois.
Não foi quando atingi o limite e não podia mais subir no balanço.
Não foi quando assoprei as quinze velas do meu bolo de aniversário.
Só sei que não consigo voltar a co-habitar os dois mundos paralelos em que vivia – o real e o imaginário.
Encaixotei meus amigos imaginários em uma estante empoeirada, e não temos mais o que conversar.
Esse mundo de concreto e pedra não é suficiente para mim, nunca foi.
Mas perdi meu passaporte para a floresta encantada, e, na falta, sento-me em frente ao computador e escrevo.
Talvez um dia me permitam voltar.
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