* Honório de Medeiros
Começo da noite do dia 18 de janeiro de 2017.
"Que fizemos nós deste País, meu Deus? Que tempos são estes? Como e quando começamos esse nosso fracasso coletivo?"
Ontem à noite minha filha Bárbara, e seus dezoito anos, olhava as ruas vazias, todo mundo recolhido enquanto carros e prédios públicos eram incendiados e a rede social anunciava novos confrontos nos presídios do Estado e seus rituais macabros de morte e degola, chorando.
"Eu somente quero ir trabalhar, papai. Sair. Quero minha liberdade. Então não vale a pena?"
Eu nada disse. Baixei a cabeça.
Depois de todos esses anos de vida, de trabalho, de luta, o legado que estávamos deixando para sua geração era aquele que ela não via, mas podia imaginar: labaredas, destruição, morte, uma cidade na qual nós, cidadãos pacíficos, estávamos prisioneiros, amedrontados, impotentes, enquanto a noite avançava lentamente.
Fracassamos.
* Arte em ano-zero.com/virus-do-fracasso
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