sábado, 14 de janeiro de 2017

A CAUSA DA EXISTÊNCIA DO PODER


Bertrand Russel

* Honório de Medeiros


Em “Power: A New Social Analysis”, Sir Bertrand Russel expõe a teoria de que os acontecimentos sociais somente são plenamente explicáveis a partir da idéia de Poder[1].

Não algum Poder específico, como o Econômico, ou o Militar, ou mesmo o Político[2], mas o Poder com “P” maiúsculo, do qual todas os tipos são decorrentes, irredutíveis entre si, mas de igual importância para compreender a Sociedade.

A causa da existência do Poder, segundo ele, é a ânsia infinita de glória, inerente a todos os seres humanos. Se o homem não ansiasse por glória, não buscaria o Poder.

Infinita posto que essa ânsia não conhece limites.

A busca pela glória dificulta a cooperação social, já que cada um de nós quer impor, aos outros, como esta deveria ocorrer, e nos torna relutantes em admitir limitações ao nosso poder individual.

Como isso não é possível, ou seja, se todos querem e são ações excludentes uma em relação à outra, surgem a instabilidade e a violência. 

A luta individual pela glória, cuja manifestação objetiva é o exercício do Poder, pode ser encontrada em qualquer ser humano, mais explicitamente nos guerreiros, santos, ou políticos, e implicitamente nos seus seguidores: Xerxes não precisava de alimentos, roupas ou mulheres quando invadiu Atenas; Newton não precisava lutar pela sobrevivência quando empreendeu escrever seus “Principia”; São Francisco de Assis e Santo Inácio de Loyola não precisavam criar ordens religiosas para difundir a palavra de Cristo.

Somente o amor ao Poder explicaria realizações tão singulares.

Portanto, para Russel, a força propulsora primeira, a "causa causarum" das transformações sociais se resume ao amor ao Poder glorioso, que é inerente a qualquer ser humano. 

Cabe agora indagar: o que leva o homem a ansiar pela glória, e em ansiando, lutar pelo Poder, posto que este é o instrumento, segundo se depreende da leitura de Russel, por meio do qual se obtém aquela?

Se Russel tem razão, é preciso ir mais fundo.

Freud explicaria? Sim, explicaria. Entretanto a psicanálise não é uma ciência, ou seja, suas teorias não são passíveis de serem submetidas a teste.

Ernst Becker escreveu um livro chamado "A Negação da Morte", que até lhe deu o prêmio Pulitzer, acerca do que ele considera o impulso psicológico primordial no homem. Tal impulso seria oriundo do medo da morte. Freud não tinha razão, segundo ele, quando apostava todas suas fichas no complexo de Édipo. Mas Otto Rank, que foi um seu discípulo não tão badalado, sim. E, para ele, o homem é um grande mentiroso - todas as suas lutas são ambições de imortalidade, tenham sido elas grandes ou pequenas. Ou seja, por exemplo, o desejo de procriar, ter filhos, nada mais é que uma aposta - perdida - contra a morte.

Becker foi mais além. Pegou o pensamento de Kiekergaard (não aquele que originou "O Diário de Um Sedutor") e extraiu-lhe a essência. Para Sorën Kiekergaard tudo isso que Rank disse é mais que verdade (lógico que não foram contemporâneos; este antecedeu aquele), embora visto dentro de uma perspectiva mística, ou seja, a única realidade neste mundo de ilusão seria a morte, companheira do homem desde seu nascimento e, a forma de enfrentá-la, criar um caminho para Deus.

Pois bem, no final sobrou algo assim: Becker acha que o impulso primordial psíquico do homem é originado pelo seu temor à morte; esse temor o leva a construir uma mentira vital para si - empreender uma ambiciosa história pessoal em busca da imortalidade seja qual seja ela (carreira política, etc.); mas o que conta, realmente, é a consciência do ato criador: criar é á única forma de transcender os limites da morte. Alguns têm consciência disso; outros, não.

E o marxismo-leninismo? Embora testáveis, suas teorias fracassaram.

E quanto a Darwin? Quanto à Teoria da Seleção Natural? Aqui temos teorias testáveis e que continuam resistindo, ao longo do tempo, a todas as verificações possíveis e imagináveis, embora ainda não tenha produzido uma explicação "definitiva" quanto a questões pontuais, como o homossexualismo ou o altruísmo, por exemplo.

"Se a homossexualidade masculina, por exemplo, é um traço genético, como teria perdurado ao longo do tempo se os indíviduos que carregam 'esses genes' não se reproduzem?", indaga o pesquisador Paul Vasey, da Universidade de Lethbridge, no Canadá. E continua: "Trata-se de um paradoxo do ponto de vista evolucionário." 

Em Darwin a obtenção da “glória” é apenas um dos meios por intermédio dos quais o homem amplia as possibilidades de sobrevivência dos seus genes, esse segmento de uma molécula de DNA responsável pelas nossas características herdadas geneticamente.

Outro seria, por exemplo, a obtenção de riqueza. E a glória pode catapultar a riqueza, ou vice-versa. Sempre existiu homens que ficaram ricos após a glória, e gloriosos após a riqueza.

Trocando em miúdos: quanto mais glória ou dinheiro eu obtiver, mais facilmente sobreviverão meus descendentes.

[1] Poder, segundo Bobbio, em "Teoria Geral da Política", no início do capítulo acerca de "Política e Direito", diz que Poder deve ser entendido como a capacidade de influenciar, condicionar, determinar a conduta de alguém.

[2] Bobbio, em obra já citada, abre o capítulo alusivo a "Política e Direito" expondo que o termo “Política” diz respeito às ações por meio das quais se conquista, mantém e exerce o Poder último ou soberano, tal e qual o dos governantes sobre os governados. 

LEIA AQUI, NESTE BLOG: 

http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2010/12/psicologia-evolutiva.html

http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2015/01/o-egoismo-dos-genes.html 

* Arte em hoovervamtol.blogspot.com

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