Bárbara de Medeiros
Quando você é criança, eles
te oferecem uma caixa cheia de hidrocor, lápis de cor e giz de cera de todas as
possíveis tonalidades. Te dão uma cartolina e dizem: “seja criativo!; o céu é o
limite!”, e, por um tempo, nem isso é.
Eu vi céus cor-de-rosa,
nuvens roxas e um sol azul sorrindo, lindo – porque naquele tempo, parecia
natural que mesmo ele tivesse sentimentos. Eu vi barcos voarem, melancias
nascerem em árvores imensas, chuvas de coração e sempre pensei “por que não?”.
O céu não era o limite.
Em algum momento os lápis se
perderam, os hidrocor falharam e eu tenho quase certeza que sentei em cima da
caixa-de-giz-de-cera, daí o porquê de estarem quebrados. Só sei que não me
oferecem mais a caixa, e eu me sinto um pouco patética por querer sentar no
chão e molhar meus dedos nas tintas.
Eles agora me forçam
crenças, me sufocam com verdades que somente os são para quem as oferece e me
rebaixam com um fervor que me faz questionar como pude acreditar que todas as
coisas tinham sentimentos. Não tenho mais o sonho de ser astronauta, mas, sim,
o de ganhar dinheiro em uma profissão que há de me custar a felicidade e a
paciência.
E aparentemente o céu nunca
foi nem será rosa (será que essa gente nunca assistiu a um pôr-do-sol?).
Eu olho ao redor, querendo
ver se alguém está tão desconfortável nessa situação quanto eu. Mas quem eu
vejo está tão desconfortável quanto eu nessa situação. E o que eu vejo me
assusta ainda mais: toda essa gente que um dia pensei conhecer já se conformou
com a vida de adultos, e agora age como se nunca tivesse estado na pele de uma
criança.
Eu me remexo na cadeira de
madeira (quem diria que o chão era tão confortável?) e rezo para que as horas
andem para trás e me levem com elas para um tempo em que minha maior frustação
era não conseguir construir um castelo de areia, e minha maior tristeza era
constatar que meu chocolate tinha acabado.
Onde está meu pincel? Onde
vocês colocaram meu vestido de princesa?
Afinal, quem raptou Peter
Pan?
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