Honório de Medeiros
Certo comensal
do Poder, da estirpe dos ratos escolados, percebendo que o barco
"Governo do Rio Grande do Norte" está fazendo água, e juntando os
cacarecos para cair fora - segundo ele - antes do naufrágio, denomina de "absurdamente
incompetente" o desempenho da tripulação.
Pondero-lhe
que desde o início a tripulação teve que lidar com sérias dificuldades
financeiras ao herdar uma imensa dívida da gestão anterior, agravadas pela
queda acentuada na arrecadação que mantém o barco.
O
comensal desdenhou de minha ponderação retrucando que "essa dívida
deveria ter sido escancarada em todos os portos e entregue
imediatamente à Justiça para as providências legais que evitariam tudo
quanto aconteceu; e as medidas para saneá-las deveriam ter sido tomadas
desde o início, quando a tripulação tinha credibilidade para fazê-lo".
"O
resultado disso tudo", continuou ele, "é que hoje a tripulação não
conta com ninguém: nem os passageiros, tampouco a Justiça, incluindo aí
Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e Ministério Público, sequer a
Assembleia Legislativa, por fim até mesmo seus parceiros nos negócios que
os levaram ao comando do barco a abandonou."
Pergunto-lhe
porque sabendo de tudo isso demorara tanto a cair fora. "Ainda havia algum
queijo no porão", respondeu.
"A
tripulação não tem como resolver todas essas dificuldades em um passe de
mágica", tento ainda.
"Então
que caia fora. Saia. Peça licença e se retire. Deixe o espaço para
outros."
E com
seu andar nervoso de rato escolado subiu a bordo do escaler e se foi, sem
sequer olhar para trás, para ver o banco adernando.
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