Por Bruna Negreiros
E assim, naquele momento, mais uma vez ela me dizia o quanto acreditava em Deus, afirmando que confiava e sabia que tudo daria certo. Repetia.
- Há duas coisas que
me fazem seguir em frente, a fé e a esperança.
E eu me surpreendia,
aquilo parecia tão absurdo para mim. Custava-me acreditar e aceitar que alguém
que passava por situação tão dolorosa poderia ainda assim ter fé e crer na
existência de um ser bom, um ser supremo que cuidava de todos. Aquilo me
irritava, e como irritava! Logo eu que costumava respeitar a crença de todos,
tempos depois acabara me tornando alguém que sentia um tremendo desconforto ao
ouvir ela dizer. E ela repetia.
- Confio em Deus e em
Jesus Cristo e somente eles podem me ajudar nesse momento. O que seria de mim
sem a fé?
Aquilo continuava a
me irritar, ficava em silêncio, mas subjacente ao que demonstrava na
superfície, o meu corpo parecia até ter milhares de facas pontudas e cortantes
por dentro. E o que eu queria de verdade era gritar.
- Escuta, presta bem
atenção! Não há provas, não existem fatos que comprovem. Sabe esse Deus que
você tanto fala? Ele não existe! Nós o criamos. Foram humanóides há milhares de
anos que procuraram uma explicação para a vida, para as coisas, e sem
conhecimento científico justificaram tudo através de um ser divino!
Mas infelizmente eu
sabia, bem no fundo, e custava-me muito dizer, mas eu tinha conhecimento que
aquela fé e esperança que ela tanto falava, eram o alicerce que ainda a matinha
de pé. E por mais que eu quisesse, mesmo no ápice do desespero e da raiva, eu
sabia que não poderia dizê-lo. Afinal, aquilo era o que a motivava e fazia com
que mesmo com tanto sofrimento, um sorriso tímido e sincero ainda surgisse no
canto de sua boca.
Algumas vezes eu
tentava realizar uma espécie de brincadeira, tentando um tipo de regressão,
voltando a tempos que hoje me parecem tão distantes. Transportava-me aos meus
11, 12 anos de idade, aos tempos que os problemas eram poucos, as brincadeiras
eram muitas e eu ainda acreditava em Deus. Talvez eu nem acreditasse mesmo,
penso que só seguia a ideologia hegemônica da família, uma criança de 11 anos
de idade não pode questionar muita coisa. Nessa pequena viagem de volta ao
passado, tentava lembrar o que eu pensava sobre o assunto na época, e
infelizmente não recordo de muita coisa. Lembro-me vagamente do primeiro
contato na escola com a teoria do big bang. Confesso quão estática fiquei ao
tomar conhecimento desta teoria. Veio-me a epifania, tudo parecia ter sentido,
e por muito tempo me considerei diferente de todas as outras crianças na sala
de aula, lembro-me que por muito tempo a teoria criacionista e a do big bang
coexistiram dentro daquela pouco desenvolvida mente infantil.
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