sábado, 9 de junho de 2012

DUAS COISAS ME FAZEM SEGUIR EM FRENTE





Por Bruna Negreiros

E assim, naquele momento, mais uma vez ela me dizia o quanto acreditava em Deus, afirmando que confiava e sabia que tudo daria certo. Repetia.

 
- Há duas coisas que me fazem seguir em frente, a fé e a esperança.
 
E eu me surpreendia, aquilo parecia tão absurdo para mim. Custava-me acreditar e aceitar que alguém que passava por situação tão dolorosa poderia ainda assim ter fé e crer na existência de um ser bom, um ser supremo que cuidava de todos. Aquilo me irritava, e como irritava! Logo eu que costumava respeitar a crença de todos, tempos depois acabara me tornando alguém que sentia um tremendo desconforto ao ouvir ela dizer. E ela repetia.
 
- Confio em Deus e em Jesus Cristo e somente eles podem me ajudar nesse momento. O que seria de mim sem a fé?
 
Aquilo continuava a me irritar, ficava em silêncio, mas subjacente ao que demonstrava na superfície, o meu corpo parecia até ter milhares de facas pontudas e cortantes por dentro. E o que eu queria de verdade era gritar.
 
- Escuta, presta bem atenção! Não há provas, não existem fatos que comprovem. Sabe esse Deus que você tanto fala? Ele não existe! Nós o criamos. Foram humanóides há milhares de anos que procuraram uma explicação para a vida, para as coisas, e sem conhecimento científico justificaram tudo através de um ser divino!
 
Mas infelizmente eu sabia, bem no fundo, e custava-me muito dizer, mas eu tinha conhecimento que aquela fé e esperança que ela tanto falava, eram o alicerce que ainda a matinha de pé. E por mais que eu quisesse, mesmo no ápice do desespero e da raiva, eu sabia que não poderia dizê-lo. Afinal, aquilo era o que a motivava e fazia com que mesmo com tanto sofrimento, um sorriso tímido e sincero ainda surgisse no canto de sua boca.
 
Algumas vezes eu tentava realizar uma espécie de brincadeira, tentando um tipo de regressão, voltando a tempos que hoje me parecem tão distantes. Transportava-me aos meus 11, 12 anos de idade, aos tempos que os problemas eram poucos, as brincadeiras eram muitas e eu ainda acreditava em Deus. Talvez eu nem acreditasse mesmo, penso que só seguia a ideologia hegemônica da família, uma criança de 11 anos de idade não pode questionar muita coisa. Nessa pequena viagem de volta ao passado, tentava lembrar o que eu pensava sobre o assunto na época, e infelizmente não recordo de muita coisa. Lembro-me vagamente do primeiro contato na escola com a teoria do big bang. Confesso quão estática fiquei ao tomar conhecimento desta teoria. Veio-me a epifania, tudo parecia ter sentido, e por muito tempo me considerei diferente de todas as outras crianças na sala de aula, lembro-me que por muito tempo a teoria criacionista e a do big bang coexistiram dentro daquela pouco desenvolvida mente infantil.

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