quinta-feira, 2 de abril de 2020

AS MULHERES DA SERRA




Ah, as mulheres da Serra, frescas, em flor, sem nada que as enfeite exceto a simplicidade, exceto a alça da blusa que cai displicentemente, deixando entrever e esconder um tanto que não se diz, porque ninguém sabe dizer. Elas vestidas de simplicidade. Elas e seu olhar direto, quando querem, e, quando não querem, ainda mais janelas da alma. “Uma carne sadia, abundante e rosada”, como as descreveu Proust, em “No Caminho de Swann”. Nada artificial, em cada uma. Nada de astucioso em suas atitudes  com os homens. Há aquela malícia instintiva, que é seu dom de iludir. Beber, comer, amar, é tudo tão natural! Chorar também, seja pela posse desmedida ou abandono definitivo. Swann “preferia infinitamente à beleza de Odette aquela de uma pequena operária fresca e rechonchuda como uma rosa, de quem se enamorara...” Em contraposição o universo urbano recheado de mulheres excessivamente enfeitadas, com a mente tomada por articulações, e poses estudadas, no afã infindável de seduzir: os óculos de sol, a roupa de grife, a mirada tecnicamente distante, o celular através do qual são armados os lances do jogo. Por quem, no final, Vaumont, o conquistador impenitente, se apaixona em “As Relações Perigosas”, de Chorderlos de Laclos, senão pela inteireza de sentimentos e ações, distante de qualquer dissimulação, da mulher que julgara tão fácil seduzir e descartar?

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