Ah, as mulheres da Serra, frescas, em flor, sem nada que as
enfeite exceto a simplicidade, exceto a alça da blusa que cai displicentemente,
deixando entrever e esconder um tanto que não se diz, porque ninguém sabe
dizer. Elas vestidas de simplicidade. Elas e seu olhar direto,
quando querem, e, quando não querem, ainda mais janelas da alma. “Uma carne sadia, abundante e rosada”, como as descreveu
Proust, em “No Caminho de Swann”. Nada artificial, em cada uma. Nada de astucioso em suas
atitudes com os homens. Há aquela malícia instintiva, que é seu dom de iludir. Beber, comer, amar, é tudo tão natural! Chorar também, seja pela posse desmedida ou abandono
definitivo. Swann “preferia infinitamente à beleza de Odette aquela de
uma pequena operária fresca e rechonchuda como uma rosa, de quem se
enamorara...” Em contraposição o universo urbano recheado de mulheres
excessivamente enfeitadas, com a mente tomada por articulações, e poses estudadas, no
afã infindável de seduzir: os óculos de sol, a roupa de grife, a mirada tecnicamente
distante, o celular através do qual são armados os lances do jogo. Por quem, no final, Vaumont, o conquistador impenitente, se
apaixona em “As Relações Perigosas”, de Chorderlos de Laclos, senão pela
inteireza de sentimentos e ações, distante de qualquer dissimulação, da mulher
que julgara tão fácil seduzir e descartar?
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