segunda-feira, 3 de outubro de 2016

UMA GERAÇÃO SEM CULTURA GERAL

* Victor

Sou de uma geração sem cultura geral. Mas ela não sabe desse fato. Pior ainda: nem se importa.

Esses dias houve um debate na minha universidade: argumentos furados dos dois lados, paixões à flor da pele, aquele fla-flu de sempre (triste como as pessoas defendem coisas como poliamor ou pluriorientações sexuais mas são completamente maniqueístas no que toca a opiniões político-socias). Na parte de fora do ginásio, conversavam dois amigos meus: um da minha sala e um veterano, junto a outro cara de uma engenharia. Eu disse: a melhor parte do debate é brincar de "onde está o wally" no ginásio, procurando conhecidos.

Uma pessoa riu.

Os outros dois fizeram cara de paisagem.

Um era um veterano que conseguiu a proeza de jamais reprovar uma matéria, mesmo estando já na reta final de engenharia química. Uma pessoa inteligente e esforçada, sem dúvida. O outro era um colega de sala, que passa longe de ser burro. Ambos têm acesso a informações.

Quando confirmaram que não faziam ideia do que era "where's Wally", o cara falou: "como assim? Isso chega a ser falta de cultura geral."

Esse termo estalou em minha cabeça.

Eu comecei a pensar em algumas situações. Duas delas ilustrarão bem meu ponto: naquele mesmo semestre, meu professor de francês e eu falávamos sobre o ursinho Misha, ele comentava sobre a beleza do encerramento das olimpíadas e do que ele representou. Ninguém mais na sala sabia qual era um dos maiores símbolos do esporte de todos os tempos. Havia estudantes de engenharia, uma pós-graduanda em filosofia e uma professora secundária de biologia. Num país onde grande parte da população é analfabeta funcional, não considero exagero dizer que graduandos e graduados de uma das melhores universidades brasileira são a elite intelectual da nação.

Essa elite não sabe quem são Athos, Porthos e Aramis.

Esta mesma sala não fazia ideia de que existia um quarto mosqueteiro chamado D'Artagnan, e provavelmente jamais leu mais que um ou dois livros clássicos da literatura mundial (sendo realistas? Provavelmente não leem nada além das matérias acadêmicas e das mensagens que veem no whatsapp).

Minha teoria: isso decorre de principalmente dois fatores: a total falta de incentivo à leitura neste país e pela "acomodação cerebral".

Explico: com o facebook mostrando no nosso feed apenas o que costumamos gostar, ideias parecidas com nossas próprias (ou que inconscientemente copiamos dos outros, achando que são nossas), paramos de questionar. Somos jovens de vinte e poucos anos com mais verdades absolutas que anciões. Não nos interessamos em nos informar sobre nada que nos afete/interesse diretamente, mesmo tendo o acesso à informação praticamente ilimitado. No google cabem milhões de bibliotecas de Alexandria. Foi-se o tempo que o conhecimento era de posse de uns poucos.

Mas, ainda assim, nos negamos a saber. Cremos com veemência que de nada isso nos servirá. Estamos felizes em simplesmente falar sobre um jogo de futebol, uma música nova e a vida alheia, sem ligar para crescimentos espiritual ou intelectual.

O maior desperdício da história do saber humano está acontecendo agora.

E, sinceramente, isto me deixa triste.

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