quinta-feira, 9 de novembro de 2017

RUBENS LEMOS FILHO LANÇA LIVRO HOJE E FAZ GOL DE PLACA


O título já diz tudo. E foi escrito por um mestre da arte de escrever e profundo conhecedor do assunto.
Não é preciso dizer mais nada.
AABB, a partir das 18:00 horas.
Estarei lá! 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

GOVERNO ROBINSON DIVIDE OS SERVIDORES EM DUAS CATEGORIAS

* Honório de Medeiros
Emails para honoriodemedeiros@gmail.com

O Blog de Carlos Santos noticia que o Governo Robinson pretende pagar o mês de outubro aos servidores da ativa da Polícia Militar e Polícia Civil, bem como os agentes penitenciários, no próximo dia 13 de novembro.

Ficariam de fora, como sempre, os aposentados e pensionistas, que receberiam junto com os demais servidores da segunda categoria do Estado do Rio Grande do Norte, ou seja, quando houver receita.

Por outro lado leio na Rede que os líderes desses mesmos servidores não aceitam a exclusão dos inativos e pensionistas da Polícia Militar e Polícia Civil do pagamento de outubro no próximo dia 13 de novembro.

Querem ir para o tudo ou nada.

Cabe perguntar: os auditores fiscais do Estado, assim como os Procuradores, aceitarão essa situação?

O Governo de Robinson dividiu os servidores em duas categorias: aqueles que recebem em dia, e aqueles que recebem se e quando houver receita.

Acerca de tal "construção" da Governança, silêncio total do Tribunal de Contas do Estado, da Assembleia Legislativa, do Ministério Público e da Justiça.

Na primeira categoria temos os servidores da Secretaria de Educação, os servidores de órgãos com receita própria e, a partir de agora, os servidores do sistema de segurança do Estado.

Na segunda categoria, o restante, incluindo aí os auditores fiscais e os procuradores do Estado. O "resto", como dizem nas redes sociais.

É interessante notar que apesar do carão que o Governador ministrou à PM via twitter - leia em honoriodemedeiros.blogspot.com - tratou logo de lhes atender privadamente, colocando o caixa do tesouro à disposição para atender sua pretensão de receber o salário em dia.

Carão em público, afago no privado.

Se a moda pega...

terça-feira, 7 de novembro de 2017

TEMPOS DIFÍCEIS PARA O GOVERNO ROBINSON

* Honório de Medeiros

Se o carão que o Governador Robinson Faria deu na Polícia Militar do Rio Grande do Norte ontem, via twitter, funcionar, e o movimento dos policiais, marcado para o próximo dia 13, quando as viaturas serão recolhidas, a tropa em serviço aquartelada, e os demais se farão presente à Governadoria, a partir das oito da manhã, desaparecer, nem assim parecem sossegados os dias vindouros do resto do seu mandato.

Vamos supor que o Governador tenha escolhido a tática de bater em público, para mostrar autoridade, e falar manso no privado, assegurando o pagamento em dia da Polícia Militar. 

Surgirá uma outra questão a ser repercutida continuamente na famosa "Rede": se podia pagar em dia, por que não o fez antes? 

E se não pagar em dia, mesmo depois do carão ministrado na Polícia Militar, como controlar os ânimos exaltados de quem foi enquadrado e continua com os bolsos vazios?

Supondo que pague, como segurar os auditores fiscais? E os procuradores? Todos hão de querer o mesmo tratamento. 

E se pagar a todas essas categorias, usando-se sabe-se lá qual retórica, deixando de lado os demais servidores, bem como os aposentados e pensionistas, como lidar com a inevitável onda de ressentimento por esse tratamento que os iguala a material de segunda?

Poderia ter sido diferente.

Leia http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2017/11/o-caos-de-ha-muito-anunciado.html

De qualquer forma esse ressentimento já cresce avassalador, na Sociedade.

Os servidores são numerosos e sua área de influência é ampla, espraiando-se da base ao topo da pirâmide social, e estão todos os dias, o dia todo na Rede, dando conta do que acontece com seus bolsos e apontando culpados. 

Não há marketing que suporte isso.

Terrível.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O CAOS DE HÁ MUITO ANUNCIADO

* Honório de Medeiros
Emails para honoriodemedeiros@gmail.com

Em 12 de novembro de 2014, fiz a seguinte publicação aqui, neste blog: 
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2014/11/rn-de-pacto-social-e-reforma-de-estado.html

"Tendo em vista as informações que vão surgindo na mídia acerca da alarmante situação financeira do Estado, não enxergo outra alternativa, para o futuro Governador do Estado, a não ser liderar a construção de um novo Pacto Social no Rio Grande do Norte para alavancar a urgente, imprescindível, fundamental, Reforma do Estado.

Pacto Social, vez que todas as forças da Sociedade, representadas pelos poderes constituídos, precisam participar diretamente, sob a legítima liderança do futuro Governador do Estado, da elaboração de uma Carta de Princípios que nortearia a Reforma de Estado.

Reforma de Estado que permita a reconstrução do Rio Grande do Norte social, econômica e financeiramente, estabelecendo os parâmetros necessários a serem seguidos pelos poderes constituídos para assegurar o desenvolvimento do Estado.

Uma vez estabelecidos esses instrumentos fundantes da nova realidade política, social e econômica, todas as medidas necessárias a serem tomadas estarão naturalmente legitimadas e contarão com o apoio da Sociedade. 

É o que se espera de alguém que foi escolhido pelo povo para derrotar todas as forças políticas tradicionais do Estado." 

Em 3 de junho de 2015, voltei a abordar o tema do "pacto social":
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2015/06/por-um-novo-pacto-social-para-o-rio.html

"O problema fundamental do Rn, hoje, é antes de tudo, antes do social, do político, do econômico, de natureza orçamentária e financeira.

O Governo precisa de dinheiro e não tem de onde tirar. A entrada no Fundo Previdenciário prova isso. E a situação vai piorar, estamos beirando a recessão. Os repasses estão em queda livre. A arrecadação do Estado, com o declínio da atividade econômica, tende a diminuir lenta e inexoravelmente. As demandas dos servidores e da Sociedade tendem a crescer.

Se eu fosse o Governador Robinson convocaria os Poderes e a Sociedade para um novo Pacto Social.

Um pacto social no qual a renúncia e o trabalho de cada um, pensando no todo, fosse mais importante que qualquer demonstração de unilateralidade.

O Governador é o líder institucional apto a convocar e coordenar esse processo. Com os votos que recebeu, na situação em que isso aconteceu, é de se dizer, até mesmo, que deve assumir esse papel.

E com os pés firmemente fincados no presente, lançar as bases do futuro."

Hoje, 6 de novembro de 2017, a Polícia Militar decidiu parar geral no próximo dia 13, por falta de pagamento e condições de funcionamento. Ficará aquartelada. Quatorze coronéis participaram da assembléia que tomou a decisão. Veículos serão recolhidos. Os policiais estarão na Governadoria a partir das 8:00 hs.

A UERN já decidira por greve geral, pelo mesmo motivo.

Os auditores fiscais também estão indóceis.

Todo o funcionalismo estadual, excetuando a Secretaria de Educação, está com dois meses de salário atrasado.

Aproxima-se o final do ano e o Governo, além de não pagar em dia, deixa a todos em total ignorância acerca de qual é a perspectiva possível, qual é o plano "B", ou "C".

Caos.

No mais é rezar. E esperar juízo nos homens...

sábado, 4 de novembro de 2017

DE COMO AQUILO QUE VOCÊ VÊ PODE NÃO SER O QUE VOCÊ PENSA


*Honório de Medeiros
honoriodemedeiros@gmail.com

É divertido ler “A Elegância do Ouriço”, um romance de Muriel Barbery.

Recomendo.

Vou, aqui, editar um trecho do livro que fala acerca da fenomenologia de Husserl.

“O quê”, vocês devem ter se perguntado. "Fenomenologia? Em um romance?”

É. Em um romance. E esse trecho prova, para mim, por a + b, que somente a literatura salva a filosofia da chatice dos filósofos.

Leiam:

“Então, a segunda pergunta: (o) que conhecemos do mundo?

A essa pergunta os idealistas como Kant respondem.

O que respondem?

Respondem: pouca coisa.

(...)

(Respondem que ) Conhecemos do mundo o que nossa consciência pode dizer dele porque isso aparece assim – e não mais.

Vejamos um exemplo, ao acaso, um simpático gato chamado Leon. (...) E pergunto a vocês: como podem ter certeza de que se trata de verdade de um gato, e até mesmo saber que é um gato? (...) Mas a resposta idealista consiste em demonstrar a impossibilidade de saber se o que percebemos e concebemos do gato, se o que aparece como gato na nossa consciência é de fato conforme ao que é o gato em sua intimidade profunda.

(...)

Eis o idealismo kantiano. Só conhecemos do mundo a IDEIA que dele forma a nossa consciência.”

Agora vem a parte que eu considero hilariante:

“Mas existe uma teoria mais deprimente que essa (...)

Existe o idealismo de Edmund Husserl (...)

Nessa última teoria só existe a apreensão do gato. E o gato? Pois é, o dispensamos. Nenhuma necessidade do gato. Para fazer o quê, com ele? Que gato? (...) O mundo é uma realidade inacessível que seria inútil tentar conhecer. Que conhecemos do mundo? Nada. Como todo conhecimento é apenas a autoexploração da consciência reflexiva por si mesma, pode-se, portanto, mandar o mundo para os quintos dos infernos.

É isso a fenomenologia: a CIÊNCIA DO QUE APARECE À CONSCIÊNCIA. Como se passa o dia de um fenomenologista? Ele se levanta, tem consciência de ensaboar no chuveiro um corpo cuja existência é sem fundamento, de engolir o pão com manteiga inexistente, de enfiar roupas que são como parênteses vazios, ir para o escritório e pegar um gato.

Pouco se lhe dá que esse gato exista ou não exista, e o que ele seja na própria essência. O que é indecidível não lhe interessa. Em compensação, é inegável que na sua consciência aparece um gato, e é esse aparecer que preocupa o nosso homem.”

Aí está. 

Por isso digo para meus alunos que o idealismo radical é a loucura da razão.

Fica mais fácil para eles entenderem o grande mistificador que foi Platão.

Entender que não existe algo Justo-Em-Si-Mesmo.

Entender o uso manipulativo, retórico, das teorias filosóficas.

E entender por qual razão os professores de Direito, com algumas exceções, são como os gatos existencialistas...

(*) Arte em gatoexistencial.com.br

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

DE VOAR ALTO NAS COISAS DO ESPÍRITO

* Honório de Medeiros

Adolescente, recém-chegado a Natal, apaixonado por livros, não sabia por onde começar na biblioteca de minha tia, que me acolhera em seu apartamento lá pelos meados da década de 70.

Li muitos, ali. Alguns livros, várias vezes. Naquele tempo não havia celular, e a televisão engatinhava.

Dia desses me perguntei quais daqueles livros, alguns ainda em minha posse, hoje, me marcaram. Não precisei procurar tanto nos desvãos já meio empoeirados da memória. Foram três, não tenho dúvida.

Um deles é um clássico: "O Meio é a Mensagem", de Marshall McLuhan. Na época, quando o li, não compreendi quase nada. Mas o conceito de "Aldeia Global", um meme de McLuhan, fixou residência definitiva em meu cérebro.

Outro foi um romance de Rabindranath Tagore, "A Casa e o Mundo". Uma estória de amor vivida na Índia, escrito com uma sutileza incomum, e uma prosa densamente poética.

Mas o fundamental, aquele que me marcou para sempre, foi "A Negação da Morte", de Ernest Becker, que ao autor valeu o Prêmio Pulitzer de Não-Ficção Geral de 1974.

É traumatizante a leitura de "A Negação da Morte" para um adolescente. Muito do que li, quando o peguei pela primeira vez, também me era incompreensível. A custo, entretanto, de relê-lo muitas vezes, no período, e ir em busca na obra de Freud, que jazia completa, nas estantes de minha tia, à minha disposição, dos conceitos-chaves utilizados por Becker, terminei entendendo o núcleo de sua argumentação.

Para Becker  o que é há de fundamental no ser humano é o medo da morte.

Esse receio, temor, medo, que está em cada um de nós desde que construímos nossas primeiras noções, é o motor que nos impulsiona e a fonte de nossa permanente angústia. Agimos, em consequência, para reprimi-lo, construindo "mentiras vitais" que nos permitam enfrentar a morte sob a ilusão de permanência histórica e explicam, assim, a conduta do homem.

Uma delas, a mais importante, é a ânsia por heroísmo, que em acontecendo, nos permite sobreviver na memória dos outros.

Creio, mas posso estar enganado, que Becker bebeu na fonte instigante de Sir Bertrand Russel que mina do seu “Power: A New Social Analysis”, onde ele expõe a teoria de que os acontecimentos sociais somente são plenamente explicáveis a partir da ideia de Poder. Não algum Poder específico, como o Econômico, ou o Militar, ou mesmo o Político, mas o Poder com “P” maiúsculo, do qual todas os tipos são decorrentes, irredutíveis entre si, mas de igual importância para compreender a Sociedade.


A causa da existência do Poder, para Russel, é a ânsia infinita de glória, inerente a todos os seres humanos. Se o homem não ansiasse por glória, não buscaria o Poder. Infinita posto que o desejo humano não conhece limites. Essa ânsia de glória dificulta a cooperação social, já que cada um de nós anseia por impor, aos outros, como ela deveria ocorrer e nos torna relutantes em admitir limitações ao nosso poder individual. Como isso não é possível, surgem a instabilidade e a violência.

É possível ler mais em:
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2015/05/bertrand-russel-e-causa-da-existencia.html

Em tempos mais modernos, a incessante busca por notoriedade substituiu o impulso pelo heroísmo.

Talvez haja uma forte distinção entre um e outro calcada no caráter ético.

Enquanto no primeiro caso as ações parecem determinadas pelo narcisismo, no segundo pode haver a busca de passar para a história pelos feitos realizados em prol de uma ideia de Bem.

Ou será que a causa primeira nada mais seria que o narcisismo?

O certo é que Becker criou raízes fundas em mim, seja pelo impacto de uma teoria que tudo explicava mas nada devia a mitologias, seja pela angústia e prazer intensos que voar alto, nas coisas do espírito, ocasionam.

Nunca mais fui o mesmo.

* Emails para honoriodemedeiros@gmail.com

domingo, 29 de outubro de 2017

O ESCUDO ÉTICO DO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES

* Honório de Medeiros

A "Teoria do Escudo Ético", concebida e refinada por Frederico Pernambucano de Mello em "Guerreiros do Sol", a mais importante obra acerca do epifenômeno do cangaço, e que Câmara Cascudo intuíra em "Vaqueiros e Cantadores", explica a justificativa dada pelos cangaceiros a si mesmo e aos outros para sua vida de crimes.

Encaminho os leitores para o texto seguinte: http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2013/05/camara-cascudo-frederico-pernambucano.html

Para Cascudo, ao explicar por que a valentia, quanto aos cangaceiros, originava a “aura popular na poética” dos cantadores, necessário se fazia a existência, como pressuposto, do fator moral, que nada mais era que o “escudo ético”.

Disse Cascudo: 

“Para que a valentia justifique ainda melhor a aura popular na poética é preciso a existência do fator moral. Todos os cangaceiros são dados inicialmente como vítimas da injustiça. Seus pais foram mortos e a Justiça não puniu os responsáveis.” 

A "Teoria do Escudo Ético" não se aplica somente ao estudo do cangaço. Também pode ser utilizada para explicar a forma como fugimos da obrigação de assumir a responsabilidade pelos nossos atos. Ou como nos contrapomos aos nossos críticos.

Recentemente o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afirmou o seguinte: "Se quer fazer populismo, não seja juiz". E criticou juízes e procuradores que buscam popularidade. 

Provavelmente foi uma alfinetada em seu colega Gilmar Mendes, que busca incessantemente gerar fatos que o coloquem na mídia.

Entretanto o fundo da questão, na verdade, é outro. Alvo de críticas em relação aos seus votos na Suprema Corte, Moraes lançou mão do escudo ético.

Implicitamente justificou suas decisões como sendo corretas, do ponto de vista legal e de legitimidade, e de populistas aquelas que não são semelhantes as suas, mas são respeitadas pelo seus críticos.

Ou seja: suas decisões são impopulares mas legais e legítimas; a dos outros são populares, mas ilegais, ou ilegítimas, ou inferiores. 

É indiscutível que o Ministro deva e possa julgar como quiser; já não o é quando, julgando como julga, ao invés de respeitar a opinião alheia, trata de desqualificá-la. 

Pois em se tratando de Direito, um universo de valores, não há certo ou errado, há opiniões contrárias, e mecanismos (o uso da força, por exemplo) que fazem com que uma delas prepondere sobre as outras. 

Parece mais um mecanismo de defesa. Um escudo ético.

Ruim, por sinal.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

OS JOVENS ESTÃO OLHANDO

* Honório de Medeiros

O Senador republicano pelo Arizona Jeff Flakes anunciou, esta semana, em duro discurso contra Donald Trump, que não disputará a reeleição em 2018.

Disse ele: "Hoje me ergo para dizer: já basta". “Tenho filhos e netos. Não serei cúmplice de Trump”.

E continuou:

“A permanência contínua no posto não é a razão para se candidatar a um cargo. E há momentos em que devemos arriscar nossas carreiras para defender nossos princípios.”

“Lamento o estado de nossa desunião, lamento o caráter destrutivo de nossa política, a indecência de nosso discurso, a vulgaridade de nossa liderança, lamento que se ceda em nossa autoridade moral (...)”.

“Temos de deixar de fingir que a degradação de nossa política e as ações de alguns de nosso Executivo são normais. Não são. Quando esse comportamento emana do mais alto de nosso Governo, é perigoso para nossa democracia. Projeta uma corrupção do espírito e fraqueza. Os jovens estão olhando. Que faremos quando nos perguntarem ‘por que você não fez nada?’"

(...)

“Tenho filhos e netos ante os quais responder senhor presidente, e, portanto, não serei cúmplice.”

Aí está. 

Ao Senador Jeff Flakes, as minhas homenagens.

Quanto a Temer, segundo pesquisas da Consultoria Eurasia, fartamente veiculadas na mídia, com aprovação de apenas 3% da população, tem rejeição maior que Maduro, Trump e o presidente acusado de corrupção da África do Sul (*).

E gastou uma fábula para se manter no poder, conforme reportagem do jornal “O Globo” intitulada “Antes de votação, Temer distribuiu R$ 15 bilhões em programas e emendas”, publicada na edição deste domingo (16) de outubro, em matéria assinada pelos repórteres Leonardo Barretto, Letícia Fernandes, Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro. 

Por fim Temer tem, contra si, duas acusações por corrupção passiva, que irão lhe perseguir tão logo desocupe a cadeira de Presidente da República.

Estes são tempos mais que sombrios.

Talvez não sejam inéditos: alguém há de recordar que na história de nossa civilização não foram poucas às vezes nas quais nossos líderes insistiram em deixar o Homem comum órfão de esperança.

Entretanto nunca estivemos tão desiludidos. 

Tomemos o exemplo do Brasil de hoje. O que podemos ensinar aos nossos filhos, quando tudo quanto eles vêm dos nossos líderes, em todos os poderes é a desagregação do nosso legado comum moral?

Resistir? Ir embora? Alienar-se ainda mais?

São jovens, mas não somente eles, que se perguntam, estupefatos, como é possível termos um Presidente da República que enfrenta pesadas acusações de corrupção, usa a máquina do Estado para se manter no cargo, e chafurda no mais baixo índice de popularidade de nossa história, e, quem sabe, do próprio mundo, e continua no poder!

O senhor tem razão, Senador Jeff Flakes: os jovens estão olhando.

São jovens cujo sonho maior, percebe-se facilmente, é irem embora, deixaram para trás o pesadelo que é o Brasil hoje.

Como lhes negar um "sigam em frente"?

(*) Fonte: Último Segundo - iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2017-10-26/michel-temer-rejeicao.html

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

COMEÇAM A FALAR EM IMPEACHMENT

* Honório de Medeiros

Uma administração considerada desastrosa, principalmente quanto a segurança pública e a gestão das finanças estaduais, a aproximação do fim do mandato, a falta de perspectiva, esses e outros fatores estão levando os potiguares a falarem, nas redes sociais, mesmo que ainda timidamente, em possibilidade de impeachment.

A gota d'água, estes dias, foi o índice de homicídios cometidos no Rio Grande do Norte, ao longo dos dez primeiros meses do ano, e mais recentemente o envio do pagamento da remuneração do mês de outubro, dos servidores do estado, para sabe-se lá quando, muito menos quanto, além da divulgação de que o repasse do duodécimo constitucional do Tribunal de Justiça está atrasado há três meses.

Comentam à boca pequena que o Governo não se encontra sequer no que diz respeito às explicações em relação às causas de sua impopularidade, esta exposta de forma visível e indiscutível na última pesquisa de opinião da qual se tomou conhecimento, e que colocou o Governador do Estado em situação próxima da ridicularia.

Quanto à segurança pública, por exemplo, dizem uns e outros, as explicações começaram por apontar o quadro geral do País como causa principal. Ocorre que o confronto com dados de outros estados da federação fez essa hipótese desmoronar. Depois atribuiu-se o quadro caótico a uma suposta "briga de facções criminosas". Também tal explicação não durou muito tempo. Na verdade o que se comenta é que a questão é mesmo de gerenciamento, de gestão, de governança. Simples assim.

Quanto às finanças públicas, a primeira explicação foi a trivial: herança maldita da gestão anterior. Mas como o próprio Governador, em sua campanha, dizia que dinheiro não faltava, e que o problema era de gestão, tal bordão não seguiu à frente. Depois vieram outras explicações, dentre elas a de que a causa, a verdadeira causa, era o dinheiro despendido com o pagamento dos aposentados e pensionistas.

Publicações do Sindicato dos Auditores Fiscais do Rio Grande do Norte, mostrando o crescimento da receita própria, bem como dos repasses da União, jogaram no chão a comunicação governamental. 

Entretanto nenhuma dessas tentativas de explicação suportou mesmo foi o ônus da comparação do Rio Grande do Norte com a Paraíba, lembram os críticos do Governador. 

A Governadora Wilma de Faria tinha uma observação muito peculiar - e verdadeira - acerca das comparações entre Rio Grande do Norte e outros estados do Nordeste: "Não é justo comparar o Rio Grande do Norte com Pernambuco e Ceará. Se querem comparar, que comparem com a Paraíba."

E assim têm feito muitos no Rio Grande do Norte. Comparam o Rio Grande do Norte com a Paraíba.

Comparam aqueles que para lá viajam e observam diferenças cruciais a partir do asfaltamento e limpeza das estradas. O ritmo frenético de obras implantado pelo Governador Ricardo Coutinho.

Comparam os servidores públicos que não esquecem que a Paraíba nunca atrasou a remuneração dos seus servidores e até mesmo já pagou metade do 13º do corrente ano, em julho passado, como manda a tradição.

E agora, como não, comparam com a Paraíba os integrantes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Assembléia Legislativa, Ministério Público e Tribunal de Contas, receando o futuro imediato.

Quem era mesmo que dizia que "é comparando que se conhece?"

E, por compararem, e incomodados com a situação, alguns começam a se perguntar se não é o caso de impeachment. Algo rápido e imediato, em um grande pacto pela sobrevivência.

Afinal, por muito menos que isso Dilma foi defenestrada...

sábado, 21 de outubro de 2017

CHEGOU A HORA DE VOAR A SÓS

Meu amor,

Pela primeira vez vou estar longe de você por muito tempo, e isso dói em mim de forma inesperada.

Como viver sem sua forma tão peculiar de ser, sua alegria irradiante, sua inteligência aguda, sua moral tão sólida?

Chegou a hora de você voar sozinha. É o momento no qual nós, delicadamente, lhe empurramos do galho e você cai, bate as asas, voa, sobe, percebe que o céu é o limite!

Deus foi muito bom para mim, se é que posso dizer isso. Tenho uma família maravilhosa. Você, Diogo, Michaela, Emília, Maria. O quê mais um homem pode desejar? 

Claro, o pão nosso de cada dia, conseguido de forma honesta, com o suor do nosso rosto. Também muito agradeço a Ele, por mais essa dádiva.

Este bilhete é uma pequena despedida, porque creio que quando lhe abraçar, antes do trem partir, vou embargar a voz e esconder o rosto para você não ver as lágrimas que eu pensava não possuir mais. 

As mesmas que escondi de Diogo, quando ele foi em busca de realizar seus sonhos no Canadá.

Agora é você que fica, cá na França. Nós, lá, no Brasil, teremos o consolo das lembranças, e o silêncio do seu quarto como companheiros.

Saiba que meu amor por você é infinito - lembra das nossas brincadeiras? Eu sempre estarei ao seu lado; desejo sua felicidade e a de Diogo acima de tudo; sua caminhada, mesmo que seja preciso andar alguma vez para trás, é a minha, a nossa caminhada.

Cuide bem de você, ajude seu anjo-da-guarda, louve Deus, fuja daquilo que sua sólida moral condena.

Mas viva intensamente essa oportunidade única que surgiu agora, no começo de sua vida adulta. 

Lembre-se que seus passos, hoje, são o alicerce do futuro. Você está construindo a si, para si, e para o mundo.

Entretanto se for o caso, se sentir necessidade, se precisar, volte. Ninguém se perde no caminho da volta. 

Em voltando estaremos lá, de braços abertos e o coração cheio de amor. Seu quarto sempre terá seu perfume, e sua caneca para beber água estará pendurada no mesmo canto.

Amo você,

Honório de Medeiros. 

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SENADO ENQUADRA STF E CÂMARA QUER ENQUADRAR JUSTIÇA DO TRABALHO

* Honório de Medeiros

Uns tantos quantos senadores da atual legislatura enquadraram o supremo tribunal federal.

Está tudo em minúsculo porque nem os senadores, tampouco o supremo merecem letras maiúsculas.

Eles são mesmo minúsculos. Enquadraram a instituição em episódio vergonhoso para a história do stf.

Nunca tive tanta vergonha do stf antes. Nem mesmo a cada derrapada de gilmar mendes.

Pois bem, agora a câmara federal pretende enquadrar a Justiça do Trabalho.

Isso mesmo.

Querem enquadra-la extinguindo-a. Os deputados federais querem extinguir a Justiça do Trabalho. 

É o que leio em cláudio humberto, aquele mesmo de tantas e quantas aventuras na época de collor de mello:

"COM BOICOTE, JUSTIÇA DO TRABALHO PODE SER EXTINTA

A Câmara vai reagir duramente à articulação de entidades de juízes do Trabalho para boicotar a reforma trabalhista, que entra em vigor no dia 11. A ideia é votar projeto que extingue a Justiça do Trabalho, “justiça jabuticaba” que só existe no Brasil. A reação à desobediência de juízes recebeu o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em reunião com deputados que atuaram na Comissão da Reforma Trabalhista."

Os caras são profissionais! P-r-o-f-i-s-s-i-o-n-a-i-s!

domingo, 15 de outubro de 2017

NORTERIOGRANDENSE VISITA A PARAÍBA E...

... POSTA O SEGUINTE NAS REDES SOCIAIS:

"Bom dia!

É impressionante: a BR 101 até a fronteira com a PB está cheia de buracos, mal sinalizada, acostamento sujo e tomado de mato.

Passa-se a fronteira e como por mágica os buracos desaparecem, as placas surgem e o acostamento fica limpo.

Estou em Cabedelo curtindo o fim de semana.

Já vi várias viaturas da polícia e comboios de policiais em motos.

As vias são sinalizadas e em bom estado, mas em João Pessoa é melhor.

Não há o pânico pela insegurança. 

E interessante: as pessoas falam a nossa língua e o sotaque é quase o mesmo.

Mas já é outro mundo.

A propósito, a nossa anfitriã é funcionária do Estado: está recebendo seu salário em dia e a metade do 13° foi depositado em julho."

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

TURISTAS

* Bárbara de Medeiros

"Somos todos turistas na vida dos outros".

Li certa vez um artigo na aula de francês que dizia, em um determinando momento, que “turistas são os outros”. Houve uma breve discussão na aula sobre a definição de “outro”, ao que todo mundo prontamente concordou que se tratava daquele que vinha de outro país, de outro estado, as vezes até de outra cidade.

Seguindo aquela linha lógica, poderíamos chegar até o que minha mente automaticamente entendeu ao ler essa frase: o outro é aquele que vem de outro bairro, outra rua, outra casa, outra cama… O outro é outra pessoa que não eu.

Talvez por isso seja tão difícil entender os outros. Nós os olhamos como se fossem nós mesmos, como se eles fossem capazes de compreender tudo o que somos, fomos e fazemos simplesmente porque são humanos. Mas e se olhássemos como olhamos outros países? Países radicalmente diferente dos nossos? Ou simplesmente como habitantes desse país radicalmente diferente do nosso? Chineses, coreanos, egípcios, libaneses? Poderíamos então perdoar suas atitudes diferentes? Aquelas que não entendemos, e por isso julgamos?

Talvez.

Talvez.

Mas talvez seja romântico da minha parte acreditar que, ao atribuir ao outro o título de estrangeiro, fôssemos todos mais tolerantes. Não é isso que a realidade nos mostra.

Somos tão rápidos em julgar aquele de uma nação vizinha quanto aquele da casa ao lado, mas por quê? Simplesmente porque o outro não sou eu? E se percebêssemos que, por mais que aqui no nosso país, falemos o português, não falamos a mesma língua?

Eu falo “eu te amo” pra todo mundo por quem sinto forte admiração, em quem encontro prazer na companhia. Muitos me consideram estranha.

Meu pai não entende o que é crush, apesar de todos na minha faculdade saberem o que significa (um coração desesperado), apesar de todas as vezes que já o disse que era quando um coração acelera em direção ao outro que se mantém parado, tornando inevitável o confronto.

Minha melhor amiga, que mora no sul há mais de dez anos, gosta muito de me chamar de guria e de dizer que me acha “querida”. Guria é menina aqui no nordeste, “boy” aqui em Natal, mas querida não é a mesma coisa?

Não.

Pelo que entendo, onde ela mora se usa “querida” pra falar de uma pessoa que é muito amada, muito admirada, enquanto por aqui o pessoal só usa como vocativo. E ainda tem mais essa – eu adoro chamar aqueles que gosto de querido ou querida, mas pra muitos conhecidos essa palavra significa uma afastamento, um certo desprezo e condescendência.

Como pode que uma mesma palavra tenha um significado tão diverso para pessoas que se criaram do mesmo jeito, no mesmo lugar que eu? O tempo, talvez, que insiste em mudar as palavras, as pessoas e os lugares.

Mas eu reitero que a explicação é ainda mais interessante: somos todos turistas nas vidas alheias, estranhos para aqueles que não são nós mesmos, mesmo que compartilhemos genes ou cultura.

Os outros falam uma língua diferente da minha. Os outros têm hábitos peculiares, crenças estranhas, gostos excêntricos. Os outros me julgam e eu os julgo, e ao permitirem que eu adentre o território da sua existência eu sou inevitavelmente mudada, influenciada pra melhor ou pior pelo que aprendo em campo alheio.

Os países são reflexos de seus cidadãos. Quem faz de nós o que somos são os turistas.

Somos todos turistas na vida dos outros.

* Bárbara de Medeiros atualmente estuda Direito Internacional na cidade de Poitiers, França

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

DO ILEGAL E MORALMENTE INCORRETO

* Honório de Medeiros

Algo não é moralmente correto porque é legal. Tampouco algo não é legal porque é moralmente correto. Mas se for ilegal é moralmente incorreto. E se incorreto moralmente, é ilegal.
 Ilegal e imoral.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O GOVERNO DO RN TEM RECEITA PARA COLOCAR EM DIA O PAGAMENTO DOS SERVIDORES

* Honório de Medeiros

O Portal da Transparência do Rio Grande do Norte nos informa o seguinte, em relação ao pagamento de DESPESAS, no período janeiro a setembro de 2016:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2016: R$ 4.472.647.102,52.

Quanto ao pagamento de DESPESAS no período janeiro a setembro de 2017:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2017 R$ 5.106.559.826,55.

Ou seja, a DESPESA do Governo do Rio Grande do Norte cresceu:

R$ 633.912.724,03 (seiscentos e trinta e três milhões, novecentos e doze milhões, setecentos e vinte e quatro mil reais e três centavos).

O Portal também nos informa a RECEITA REALIZADA, no mesmo período de janeiro a setembro de 2016:

Realizada até Set/2016: R$ 7.085.696.647,62.

Quanto à RECEITA REALIZADA no período janeiro a setembro de 2017:

Realizada até Set/2017: R$ 7.606.562.257,47

Ou seja, a RECEITA REALIZADA cresceu:

R$ 520.865.609,85 (quinhentos e vinte milhões, oitocentos e sessenta e cinco mil, seiscentos e nove reais e oitenta e cinco centavos).

O que esses dados nos permitem inferir?

Tais dados nos permitem inferir que o Governo do Estado do Rio Grande do Norte aumentou seu gasto MAIS que sua RECEITA REALIZADA.

Trocando em miúdos: a RECEITA cresceu, mas o Governo resolveu gastar sabe-se lá com que, e deixou de lado, deliberadamente, o pagamento em dia do Servidor Público.

O "sabe-se lá com que" pode ser identificado, claro. É fácil fazê-lo. Fica para outra oportunidade.

O certo é que o gasto do Governo, como demonstrado anteriormente em http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2017/09/o-rn-nao-paga-em-dia-por-conta-do.html, não foi para cobrir o "déficit da previdência".

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

CAMUS PERCEBEU POR OLHAR, OU OLHOU POR PERCEBER?

* Honório de Medeiros

Camus, em seu "Diário de Viagem" (Record), lá para as tantas escreve o seguinte acerca de uma cena por ele presenciada no navio em que viajava para o Rio de Janeiro:

"Mais uma vez observo entre eles uma mulher já grisalha, mas de uma classe soberba, um belo rosto altivo e suave, (...) e uma postura sem par. Sempre seguida pelo marido, homem alto e louro, taciturno. Colho algumas informações, ela está fugindo da Polônia e dos russos para exilar-se na América do Sul. É pobre. Mas, ao vê-la, penso nas matronas bem vestidas que ocupam alguns camarotes de primeira classe."

Fico fascinado com esse olhar que distingue, o olhar de Camus, mas não me deixo seduzir pelo fascínio da primeira sensação, a da constatação da percepção de um estranhamento que coloca, de um lado, a soberba elegância de uma imigrante e, do outro, o trivial, o comum, o banal: as matronas da primeira classe.

Deixo-me seduzir, isso sim, ao constatar que o olhar é o instrumento que permite as ideias apreenderem essa distinção. A ideia é anterior ao olhar. Se assim não fosse o olhar nada constataria dessa distinção que Camus percebeu.

Em outro lugar (*), escrevi:

"Na Retórica dos Objetos é fundamental a noção de “estranhamento”. É por intermédio do “estranhamento” que decodificamos os objetos.

E o que seria o “estranhamento”? É algo difícil de conceituar, tal como a liberdade. Sabemos o que esta é, mas não sabemos dizer com propriedade o que ela é.

Em certo sentido “estranhamento” é uma desarmonia em relação ao padrão comum. Tal qual uma arte marcial, tornar-se hábil em captar essa desarmonia demanda contínuo exercitar-se até o limite do possível.

Recordemos o exemplo acima. Para alguém acostumado a perceber o que lhe cerca, a organização limpa e meticulosa da biblioteca do cliente chama a atenção por fugir do padrão comum. Ao conectar essa constatação com a que resulta do “ver” os restantes dos objetos espalhados pelo ambiente, torna-se possível fazer alguma inferência, ou elaborar alguma hipótese, para sermos mais precisos, acerca da personalidade do seu proprietário.

Em episódio bastante interessante da série norte americana “The Mentalist”, agentes do FBI buscam, em uma sala, uma câmera de vídeo escondida. As outras já foram encontradas e estavam postadas em lugares óbvios. O personagem principal, Patrick Jane, ao ser introduzido na sala, observa que um determinado espelho estava colocado em uma altura um pouco acima do normal. Levanta-se o espelho e lá está a câmera procurada. Mas como essa câmera filmava através do espelho? Patrick sabia que os ilusionistas usam muito um tipo de espelho que permite a quem está por trás visualizar através dele. A noção de “estranhamento” permitiu a localização imediata da câmera procurada.

Em outro episódio, esse bastante conhecido na literatura policial, Sherlock Holmes chama a atenção de Dr. Watson para o cão da propriedade onde acontece a investigação. Dr. Watson retruca informando que o cão não latiu. Sherlock pondera, então: “por isso mesmo”.

Ou seja, Sherlock vivenciou, ali, essa sensação de estranhamento."

Essa capacidade de sentir a sensação de "estranhamento", e, em seguida, abstraí-la, racionaliza-la, é, penso eu, a base do trabalho dos artistas, filósofos e cientistas.

(*) http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016/11/a-retorica-dos-objetos.html

domingo, 1 de outubro de 2017

INATO OU ADQUIRIDO?



Honório de Medeiros

Quem leu "A Tempestade", de Shakespeare, ou a assistiu, conhece o célebre jogo de palavras:

"É um demônio, um demônio de nascença, / em cuja natureza jamais pôde atuar a educação."

O solilóquio completo de Próspero é o seguinte:

"É um demônio, um demônio de nascença, em cuja natureza jamais pôde atuar a educação. Foram perdidos todos os meus esforços; sim, perdido completamente, sempre, quanto hei feito a ele por amor à humanidade. Seu corpo com a idade fica hediondo e cada vez mais ulcerado o espírito. Atormentá-los vou até que rujam."

Eis como a arte antecede a ciência. 

A essência desse solilóquio é aquela da filosofia: "inato ou adquirido?"

Richard Dawkins a descreve assim, em "Fome de Saber", o volume 1 de suas memórias: "Os filósofos vêm pelos séculos afora refletindo sobre essa questão. Quando do que sabemos é embutido de forma inata, e até que ponto a mente é uma tábula rasa, à espera de que algo seja escrito nela, como acreditava John Locke?"

Karl Popper encaminhou seu gênio para resolver essa questão. É a medula de sua epistemologia. Aliás, até onde sei, o termo "tábula rasa" foi criação dele.

Muito interessante esse jogo de conectar idéias oriundas de diversas fontes. Shakespeare, Locke, Popper, Dawkins...

* Arte: www.mallarmargens.com

DE IRONIA

* Honório de Medeiros

Não gosto de ironias.

Pressupõem uma superioridade inexistente.


Com os fracos é covardia; com os iguais, desrespeito; com os fortes, temeridade.


A auto-ironia é condescendência, algo perigoso: incompreensível para os ignorantes e brecha por onde entra o raciocínio dos inteligentes.


A polidez, que não se confunde com a gentileza, é bem mais correta e eficaz.


Não destrata e mantém a distância. 

sábado, 30 de setembro de 2017

O RN NÃO PAGA EM DIA POR CONTA DO "DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO"?

* Honório de Medeiros

Li atentamente o que a mídia publicou das declarações do Secretário de Estado de Planejamento e Finanças, Gustavo Nogueira, em entrevista coletiva nessa sexta-feira próxima passada, dia 29, quando afirmou que o principal motivo da dificuldade em fechar a folha de pagamento dos servidores do poder Executivo é o "déficit da previdência".

Esse discurso de culpar a previdência é relativamente novo: basta acompanhar o histórico de declarações do Secretário desde que começou o atraso no pagamento dos servidores do executivo potiguar.

Logo que dados reiteradamente publicados por entidades de classe, dentre elas o Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado, começaram a apontar um crescimento na Receita do Estado, o discurso do Secretário mudou para culpar o aquilo que ele nominou de “déficit da previdência”.

O que nos leva a supor que a estratégia governamental é encontrar meios de tentar inibir a pressão por aumentos salariais ou pagamentos de atrasados. Funciona assim: antes o culpado era a queda na arrecadação; agora é “como posso atender sua reivindicação, se os salários estão atrasados, e estão atrasados em decorrência do déficit da previdência”?

Vamos aos fatos, pois.

Para questionar esse discurso do Secretário, basta comparar alguns dados do vizinho Estado da Paraíba com outros nossos. Saliente-se que a Paraíba está absolutamente em dia com o pagamento dos seus servidores do Poder Executivo.

A Paraíba tem 118.230 servidores no Poder Executivo; o Rio Grande do Norte, 102.000; a PB tem 72.267 ativos; o RN, 54.000; a PB, 33.954 inativos; o RN, 38.000; a PB, 12.009 pensionistas; o RN, 10.000.

Os dados da Paraíba foram coletados no https://portal.tce.pb.gov.br/aplicativos/sagres/. Os do Rio Grande do Norte foram fornecidos pelo próprio Secretário de Planejamento do Estado do Rn.

Embora a PB tenha menos inativos que o RN, tem mais pensionistas. E a PB tem muito mais servidores na ativa que o RN.

Podemos ver que, no geral, é semelhante a situação da Paraíba e Rio Grande do Norte quanto ao número de servidores do Poder Executivo e relação entre ativos/inativos nos dois Estados.

Entretanto o “déficit da previdência” de lá não impede o pagamento em dia dos seus servidores.

Observo que está sendo analisada a causa apontada pelo Secretário do Rio Grande do Norte para o não pagamento em dia dos salários (remuneração) dos nossos servidores públicos. Como a causa anterior por ele apontada, que era a queda na arrecadação, não se sustenta mais, fico esperando discursos novos.