* Honório de Medeiros
Teria
havido um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros,
sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça?
O
estudo dos autores e os indícios levam a crer que sim.
Houve
uma reunião em Recife, no dia 28 de dezembro de 1926, entre os chefes de
polícia dos estados do Nordeste, cujo teor não pôde ser vazado para a imprensa
em decorrência do seu caráter reservado e das medidas de ordem interna que
estavam sendo tomadas e não podiam ser reveladas. O Governador anfitrião, Estácio
Coimbra, na abertura do conclave, fizera críticas contundentes aos coronéis do
interior e sua complacência com o banditismo. E já havia tomado algumas medidas
radicais no combate ao cangaceirismo: nomeara, a 16 de novembro daquele ano, o
Major Teófanes Ferraz Torres para comando geral das unidades policiais de
cidades e vilas no interior do Estado e lhe dera “carta branca” para atacar o
principal suporte dos cangaceiros, através da eliminação ou redução drástica de
seus coiteiros, mesmo que para isso fosse necessário prender e torturar, como
de fato foi feito ao longo dos anos seguintes.
Frederico
Pernambucano de Mello
comenta o encontro:
Daí para a idéia da promoção de
novo encontro
ia apenas um leve passo. Ele é dado logo a 28 de dezembro desse ano com
a reunião, mais uma vez no Recife, de representantes dos Estados atingidos pela
ação do banditismo – os tradicionais, como os mais recentes – de modo especial
a que decorria do comando superiormente engenhoso de Lampião.
Da Paraíba, freguesa antiga do
bandido, chega o chefe de polícia, Júlio Lira; do Ceará, Paes de Carvalho; do
Rio Grande do Norte, Benício Filho.
Pernambuco se faz representar pelo chefe de polícia, Eurico de Souza Leão, e
pelo secretário de Justiça, Genaro Guimarães. (...) Alagoas, Ernande Teixeira
Bastos; (...) Madureira de Pinho, chefe de polícia da Bahia.
Vamos
aos indícios: no Rio Grande do Norte, Sérgio Dantas relata o episódio da morte
de Mormaço e Bronzeado:
Mossoró, 12 de março. A cadeia
pública passava por minuciosa revista. Prisioneiro recambiado para a cidade de
Apodi deu conta às autoridades de plano de fuga encabeçado pelos cangaceiros
Mormaço e Bronzeado. O objetivo da empreitada – segundo o delator – seria o
aprisionamento do carcereiro e a tomada das armas depositadas no paiol.
A polícia não titubeou e
investigou sumariamente a denúncia. Descobriu sinais de arrombamento em porão
localizado no setor norte do presídio. Sem maiores rodeiros, responsabilizou os
dois cangaceiros por tentativa de fuga e os imobilizou à força de algemas.
Na manhã seguinte decidiu-se pelo
encaminhamento dos prisioneiros para a capital. O tenente Laurentino ficou
encarregado de facilitar o transporte. Além de Mormaço e Bronzeado, seriam de
igual recambiados os criminosos Thomaz dos Santos e Waldemar Ramos, presos
comuns, detidos há meses na cidade salineira.
A ordem de transferência para
Natal – segundo insinuações surgidas no período subseqüente à eclosão do
movimento revolucionário de 1930 – partira do Governo do Estado, ainda na
véspera.
Fato concreto, imaculado de
dúvidas, é que a transferência em discussão foi efetivamente autorizada.
Entre Mossoró e Açu, no Sítio
Lagoa Cerrada, os bandoleiros encontraram a morte. Foram fuzilados.
Não se chegou, à época, a ser
apresentada à sociedade civil versão verossímil para o caso.
Durante o governo revolucionário
de 1930, entretanto, foi aberto Inquérito para apurar os extermínios de
criminosos, inclusive cangaceiros. O Tenente Abdon Nunes – não se sabe a que
pretexto – chamou para si toda a culpa pelos assassinatos. Isentou o Governo do
Estado de qualquer responsabilidade. Durante interrogatório, disse,
textualmente: ‘Não recebi ordens de ninguém. E diga ao Chefe de Polícia que
tive pena de não ter podido matar os outros’.
No Ceará a imprensa reagiu à
chacina, em tudo e por tudo realizada nos moldes utilizados para a morte de
Jararaca, Bronzeado e Mormaço, comandada pelo Sargento José Antônio do
Nascimento, do cangaceiro Lua Branca e quatro comparsas, remanescentes do bando
de João Vinte e Dois:
“Os grandes responsáveis são os
poderosos e tranqüilos mandantes dessas tropelias dos cangaceiros. São
vendedores de armas e munições. São os compradores solertes dos produtos de
cada assalto”.
O
que nos diz Fenelon Almeida
acerca da morte de Jararaca?
Não obstante as dores fortes que
sentia, Jararaca dava sinais evidentes de que iria sarar dos graves ferimentos
recebidos. Vinha aos poucos melhorando. Seu organismo resistia de maneira
surpreendente. E ISSO PASSOU A PREOCUPAR AS AUTORIDADES POLICIAIS DE MOSSORÓ.
POR TEMOR ou por simples espírito de vingança, preferiam que ele morresse de
vez, sem apelação. Que desaparecesse de Mossoró. Não queriam mais tê-lo ali nem
uma semana.
O TENENTE LAURENTINO DE MORAIS
TINHA IDO A NATAL, DE ONDE REGRESSOU NO DIA SEGUINTE (com quem teria estado
ele?). A partir de sexta-feira, dia 17, começou a circular pela cidade a
notícia de que o ainda temível cangaceiro seria transferido de Mossoró para
Natal – uma informação lacônica, desacompanhada de qualquer comentário ou
explicação da medida.
Sérgio
Dantas,
novamente:
Até hoje ignora-se de onde ou de
quem partiu a ordem para o extermínio do cangaceiro.
Importante,
para a compreensão da possibilidade desse pacto, é a leitura da carta publicada
por Manoel Alves do Nascimento,
enviada por Paulo Fernandes, filho de Rodolfo Fernandes, em 15 de setembro de
1963, ao escritor Nertan Macedo, que pela sua importância vai transcrita
integralmente, sem ser editada:
Limo. Sr.
Nertan Macedo
Rio de Janeiro (GB)
Na qualidade de filho de Rodolfo
Fernandes de Oliveira Martins, prefeito de Mossoró, RN, por ocasião do assalto
de Lampião àquela cidade, tendo deparado à página 213, linhas 20/21 do seu
livro ‘Capitão Virgulino Ferreira Lampião’ com uma afirmativa que não corresponde
a verdade, cumpro o dever de refutá-lo e solicitar de V. SA. as providências
que o caso requer.
De V. SA. referindo-se à
Jararaca, que ‘de madrugada, um conselho local, reunindo elementos de maior
destaque da municipalidade, decidiu pela morte do bandido’.
Jamais ouvira falar em tal
reunião nem também ouvira imputar a elementos da municipalidade a decisão de
eliminar o bandido Jararaca.
Quando ocorreu o assalto de
Lampião (13 de junho de 1927), encontrava-me no Rio cursando o 6° ano de
medicina. Menos de quatro meses depois meu pai veio a esta capital e aqui
faleceu a 10 de outubro, tendo conversado comigo sobre os dramáticos
acontecimentos e não me declarou entretanto ter mandado matar Jararaca.
Posteriormente ouvi pessoas de
minha família e também estranhos sobre os referidos acontecimentos e nunca ouvi
qualquer coisa que induzisse pelo menos a um indício de verdade na afirmação de
V. SA.
Deliberei entretanto em viajar
recentemente até Mossoró para investigar melhor o assunto. Falei a várias pessoas,
homens honrados, alguns dos quais tomaram parte na defesa da cidade e de nossa
residência e todos unanimemente repudiam a versão do seu livro.
Embora cumpra a V.SA. e não a mim
provar o alegado. Apresso-me em aduzir alguns comentários que esclarecem o
assunto. Vejamos alguns fatos e circunstâncias em que se desenrolaram os
acontecimentos em exame.
1 – As forças policiais, sediadas
em Mossoró, obedeciam ao comando do oficial Abdon Nunes;
2 – O Governador do Rio Grande do
Norte, Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros e o seu chefe de polícia,
Desembargador Manoel Benício de Melo, estavam à época, em franco dissídio com o
prefeito de Mossoró (meu pai);
3 – Segundo consta, as
autoridades estaduais não acreditavam que Lampião atacaria Mossoró e por isso
não enviaram, com antecedência, forças suficientes para defesa da cidade;
4 – O Sr. Mirabeau Melo, chefe da
repartição do telégrafo em Mossoró era irmão do chefe de polícia, e atuava como
informante das coisas locais e porta voz do governo era um medíocre intrigante,
inadequado para a missão que o destino lhe reservou pois tanto o governador do
estado e seu chefe de polícia como o prefeito de Mossoró eram homens de bem e
do mesmo partido político de modo só se compreende o dissídio entre eles em
torno do problema de interesse público em virtude da ação maléfica de
mexeriqueiros;
5 – As advertências à população e
providências tomadas por meu pai eram exploradas pela oposição até com o
ridículo. Chamavam-no por exemplo de velho medroso por se preocupar com um
possível ataque de Lampião à cidade;
6 – Quando porém se tornou certo
o ataque e o pânico dominou a cidade nossa casa foi procurada como refúgio por
alguns desses detratores. Segundo relato que me fez nosso motorista, José de
Paula, já falecido, que assistiu à cena, um comerciante de alta projecção
local, José Martins Fernandes ajoelhou-se aos pés de meu pai e lhe pediu perdão
da campanha que movera e lá ficou, em nossa casa, perdoado, inerte e inútil,
durante toda a luta;
7 – O telegráfo nem sempre foi
voraz.
Recordo-me ainda de ter lido os telegramas vindos de Mossoró e retransmitidos
de Natal para Juvenal Lamartine, governador eleito para o Rio Grande do Norte
por eles ficava-se com a impressão de que Lampião dominará a cidade;
8 – Jararaca, preso, recusou o
alimento que lhe fornecia o xadrez e declarou que só comeria comida da casa do
prefeito. Minha mãe enviou leite para sua alimentação. Houve censura e
comentários por essa atitude.
9 – Boatos, intrigas políticas
dominavam o ambiente apesar de que houvesse o real perigo de um novo assalto;
10 – Corriam porém ameaças de que
o governo cogitava de desarmar os civis que eram afeiçoados a meu pai embora
houvessem defendido à cidade e fossem todos homens pacatos em Mossoró não havia
nem nunca houve o hábito do rifle;
11 – Jararaca dissera ou mandara
dizer ao meu pai que desejava falar-lhe em particular. Até
hoje não se sabe o que ele pretendia dizer pois foi massacrado na noite que
seguiu;
12 – Pessoas fidedignas que
conviveram com meu pai disseram-me agora que ele na intimidade reprovou a morte
de Jararaca;
13 - Alega-se que se meu pai
tivesse tido conhecimento prévio do massacre projetado teria se apressado em ir
ao encontro solicitado por Jararaca pois no consenso de muitos, este desejava,
no mínimo, revelar onde estava escondido seu dinheiro ou fazer qualquer
revelação a respeito de Lampião, por vingança, pois ele não acudiu aos seus
rogos para que o levasse ferido, deixando à margem de um desvio ferroviário
rente aos fundos de nossa casa;
14 – Ainda está vivo um dos
soldados da escolta que abateu Jararaca. É o Sr. João Arcanjo, hoje funcionário
da prefeitura de Mossoró. Não o ouvi por escrúpulo. Deve ter sido um mero
instrumento a cumprir ordens de algum superior sem nada saber nem poder se insurgir
contra as mesmas;
15 – Sabe-se ainda que o Sr.
Amaro Silva, agrônomo, funcionário do Ministério da Agricultura, cortou as
orelhas de Jararaca e
levou-as para Natal para exibi-las às autoridades.
As circunstâncias e fatos
narrados induzem a conclusão de ser pura invencionice afirmativa de que ‘um
conselho local, reunindo elementos de maior destaque da municipalidade, decidiu
pela morte do bandido.’
Os fatos devem ter ocorrido de
outro modo.
Ouvi a respeito do Dr. José
Augusto Bezerra de Medeiros e ele me respondeu que o Jararaca morrera na luta.
É cedo para esclarecer o caso.
Ainda estão vivas pessoas envolvidas direta e indiretamente no assunto. Há
ainda descendentes próximos de outros.
Seria tarefa subversiva agitar
agora essa questão. Meu objetivo é apurar os fatos, senão a bem da verdade e da
memória de meu pai refutar a imputação que indiretamente lhe foi feita.
Assim
como é importante entender os “bastidores” da morte de Chico Pereira, através
da leitura de Adauto Guerra Filho:
Apesar de ser uma história longa
e complexa, não é difícil entender a razão de tanta contradição. Em primeiro
lugar, levemos em consideração uma informação do livro ‘Vingança, Não’ de F.
Pereira Nóbrega, o qual diz que os dois Presidentes de Província, Dr. Juvenal
Lamartine, então Presidente do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, Presidente
da Paraíba, fizeram um pacto de morte no dia 18.08.1928. Isto assim se explica:
O Presidente da Paraíba não queria entrar em choque com o recém-eleito Cel.
João Pessoa, que dera a Chico garantia de liberdade. Então idealizou uma forma
de condená-lo fora do Estado. Ele bem sabia que cangaceiro no Rio Grande do
Norte tinha vida curta e, por isso, oportunamente se aproveitou do assalto à
casa do Cel. Quincó para idealizar uma forma de incriminar Chico Pereira.
Isto aconteceria ao induzir o bandido principal, Antônio Jerônimo, conhecido
por Antônio Chofer, a dizer que Chico estava entre eles. Pessoas maliciosas vão
mais além, afirmando que o assalto fora programado, tanto é que, logo após a
ida de Chico para a detenção, em Natal, Antônio Chofer caiu no desinteresse da
Justiça, inclusive sendo solto e ficando no anonimato.
Outro fato curioso que nos induz
a pensar que o assalto foi programado é o excessivo interesse de Antônio
Suassuna – o Tonho, sobrinho do Presidente da Paraíba, pela ‘liberdade’ de
Chico Pereira. Ele próprio hospedou Chico em sua casa, na Fazenda Cajueiro, no
município de Catolé do Rocha. Ali chegando, Chico foi alvo de sua atenção,
havendo Tonho servido de mediador entre ele e João Pessoa, ao levá-lo à
presença do Presidente eleito. Naquela ocasião, Tonho convenceu Chico de que,
após o júri em Princesa, nada mais lhe aconteceria. Este fato, aliás, o demoveu
da idéia de se retirar para Goiás.
Em Acari, Chico Pereira, sentindo
o acre da traição, escreveu a Tonho, fazendo paralelos entre a cadeia e a
Fazenda Cajueiro e, na doce ilusão de que um dia seria solto, dizia ao traidor
que após ficar livre, não hesitaria em matá-lo.
Ainda com referência ao fato, o
Sr. Abdias Pereira Dantas, numa conversa com o autor em Nazarezinho, no dia
04.01.1985, assim falou:
“Só me queixo da morte do finado
Chico, de João Suassuna. Depois que Chico morreu, ele mandou me chamar para
conversar. Respondi que, com um bandido da qualidade dele, não queria conversa.
Quem fez o assalto à casa do Cel. Quincó foi o sobrinho dele”.
Ainda para tornar mais clara a
contradição da Justiça, o Pe. Francisco Pereira Nóbrega falou ao autor em João Pessoa, em
10.01.1985, que, no momento do assalto, seu pai se encontrava no município de
Pombal. Ele é também dos que acreditam na hipótese do assalto ter sido
programado naquele lugar.
Pelo menos uma coisa não se põe
em dúvida: a morte de Chico estava programada. Isto está confirmado no
depoimento de um soldado sobrevivente que reproduziu um diálogo entre Juvenal
Lamartine e o Ten. Joaquim de Moura. O Presidente solicitou a presença do
Tenente em seu gabinete e a ele assim se dirigiu:
- É verdade que aquele cangaceiro
da Paraíba vai voltar para Acari?
- É, sim.
- Olhe! Não quero esse homem
vivo.
Essa determinação, a priori, até
dispensa pesquisadores de fazer exames mais apurados sobre notas de jornais
diversos, tais como:
Correio de Campina – 17.12.1928.
‘Teria sido Chico Pereira vitimado mesmo de um desastre de carro? Pessoas
residentes no interior do Estado (Rio Grande do Norte) põem dúvida à afirmação.
O Presidente potiguar é acusado de mandar fuzilar sumariamente os sertanejos
acusados’ (Livro “Vingança, Não”, pág. 254).
Diário da Manhã, de Recife (PE) –
02.11.1928. “Chico Pereira, preso há pouco, ao ser transportado para a cidade
de Acari, onde devia ser julgado, foi morto de ordem superior pelos policiais
que o conduziam. Alegou-se que o carro que o conduzia capotou, verificando-se
terrível desastre.” (Livro “Vingança, Não”, pág. 254).
Continua,
mais a frente, Adauto Guerra Filho:
O Sr. José Pereira da Costa,
cidadão de Ouro Branco, tabelião da cidade e curioso das histórias da região,
assim detalhou o fato, em 09.07.1984:
“Chico Pereira chegou preso a Santa
Luzia na companhia do Ten. Manoel Arruda e alguns soldados. O Ten. Francisco
Honorato, de Serra Negra do Norte, foi indicado para recebê-lo. Chico vinha de
paletó e gravata e isso provocou censura da parte do Tenente:
- Como se conduz um bandido de paletó
e gravata? Isso é um cachorro de fila.
Em seguida, com arrebates, tirou
o paletó e a gravata de Chico e autorizou os soldados a lhe colocarem as
algemas. O Ten. Francisco Honorato esperava que o matador de Chico fosse ele.
Porém a ordem do governo veio para o Ten. Joaquim de Moura. Ele ficou revoltado”.
Quem
matou Chico Pereira: João Suassuna e Juvenal Lamartine? Teria sido Aproniano,
irmão de Chico Pereira, quem assassinara João Suassuna no Rio de Janeiro,
contratado pela família de João Pessoa ou unicamente para vingar Chico Pereira?
Corre essa lenda ou história no Sertão. Talvez não se saiba nunca a verdade. A
morte de Chico Pereira é a prova do Pacto dos Governadores?
Raimundo
Nonato como que referenda essa tese:
Em longo depoimento constante de
publicação oficial (A República de 22-10-1930) por determinação
‘post’-revolução do Chefe de Polícia, João Café Filho, e prestado perante o 1º
Juiz Distrital de Natal, D. Arnaldo Neto, declarou o Capitão Moura todos os
pormenores do plano delegado para a morte de Chico Pereira, em 29-10-1930, no
transporte do preso para julgamento, no Acari, de suposto processo.
E
publica também, em sua obra, a defesa de Juvenal Lamartine:
Quando morreram os
bandidos de “Lampião”, no município de Mossoró, e Chico Pereira,
num acidente de automóvel, no município de Currais Novos, o chefe de Polícia,
de acordo comigo, mandou proceder ao inquérito pelo Delegado especial, a fim de
que a verdade fosse apurada com rigor.
Vitoriosa a revolução, foi aberto
novo inquérito a fim de ser processado o presidente do Estado, o chefe de
polícia e os oficiais e soldados como responsáveis pelas mortes dos facínoras.
A medida deve ser completada pela ereção de um monumento comemorativo das
façanhas desses bandidos atacando cidades e fazendeiros honrados. É preciso
glorificar o crime e punir os que defendem a propriedade, a vida e a honra
ameaçadas por salteadores perigosíssimos.
Mesmo
assim Raimundo Nonato chega a ser irônico quando aborda o episódio da morte de
Mormaço e Bronzeado:
De todos, “Mormaço” foi o
bandoleiro que prestou declarações mais importantes, tendo dado nada menos que
quatro depoimentos: em Crato, CE., a Pau dos Ferros, Martins e Mossoró, RGN. Em
todas as referências e as acusações são mais ou menos semelhantes.
Juntamente com “Bronzeado” e
mais dois presos de justiça, que se encontravam na cadeia de Mossoró, foi
levado para a estrada de Natal e morto com os outros. Do ocorrido há um
processo, onde se fez prova de qualquer forma, que um dos bandidos pegou um fuzil,
atirou nos companheiros, e depois, suicidou-se com a mesma arma...
Gutemberg
Costa
noticia a reação do Tenente Abdon Nunes ao inquérito contra si aberto como
conseqüência da execução de Jararaca:
Dois anos e meio depois da morte
de Jararaca em Mossoró, o capitão Abdon Nunes de Carvalho, avocou para si toda
a responsabilidade do episódio. Assim, o processo tão desejado, contra os ex-governadores
José Augusto e Juvenal Lamartine não teve curso. Por causa disso a minúscula
facção política de oposição (daquela época) fez violenta carga, pela imprensa
contra o Governo, de acordo com comentário de Raul Fernandes na sua obra sobre
o assunto, citada neste capítulo.
Houve
ou não um pacto entre os governadores para a eliminação física dos cangaceiros,
sem que lhes fosse dado o direito de responderem processo ante a Justiça?
“JARARACA: O CANGACEIRO
QUE VIROU SANTO; ALMEIDA, Fenelon; Guararapes; Recife, Pe; 1981.
Clóvis Marcelo de Araújo que se
encontrava de guarda no Presídio onde estava Jararaca, afirmou a Raimundo
Soares de Brito: “A escolta era composta do Tenente Laurentino de Morais, então
Delegado e Comandante do destacamento; Tenente Abdon Nunes; Sargento Pedro
Silvio de Morais; um Sargento do destacamento de Macau, cujo nome não recordo;
Cabo Manoel de Tal e os Soldados Militão, Paulo e João Arcanjo (GURGEL, Antônio
e BRITO, Raimundo Soares de; “NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; Fundação Guimarães Duque;
Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; Volume 1513; 2ª. Edição.