quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONTINUAÇÃO, ÚLTIMA PARTE DA SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO

SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO: O ATAQUE A MOSSORÓ RESULTOU DA PAIXÃO DE MASSILON POR JULIETA, FILHA DO CORONEL RODOLPHO FERNANDES (TERCEIRA E ÚLTIMA PARTE)
 
Honório de Medeiros
 
Pois bem, Massilon teria uma paixão por Julieta, filha do Coronel Rodolpho Fernandes. 
Temos, aqui, um entreato:  
Amarílio Gonçalves[1]: 
Em virtude da amizade com o ‘coronel’ Isaias Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o Rei do Cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez, no município de Aurora. Em suas incursões pelo município sul-cearense, o bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, sobrinho de Isaias. 
Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de Junho de 1927. Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava Massilon Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião foi incentivado a atacar a cidade norte-rio-grandense de Mossoró – um plano que o bandoleiro poria em prática no dia 13 do citado mês. Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do ‘coronel’ um alentado lote de munição de fuzil que, de mão beijada, Isaías havia recebido do Governo Federal (Artur Bernardes), quando este promoveu farta distribuição de armas a ‘coronéis’ ‘para alimentar o combate dos batalhões patrióticos à coluna Prestes’. 
Presente àquela negociação, que rendeu ao ‘coronel’ Isaías a considerável quantia de trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influência junto a Lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos tiveram lugar na fazenda Ipueiras. Consta que Massilon Leite – associado a Lampião no sinistro empreendimento – tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Brasil e seqüestrar uma filha do cel. Rodolfo Fernandes . 
Alexandro Gurgel conta que Pedro Dantas Filho, natural de São José do Brejo do Cruz e morto em 2002, aos 88 anos, conheceu Massilon, que comerciava gado na cidade, e este lhe informou que o cangaceiro nutria uma paixão platônica pela filha de Rodolpho Fernandes e via no ataque a Mossoró uma oportunidade de raptar a moça. 
Calazans Fernandes[2], no seu livro histórico “O Guerreiro do Yaco”, a vida romanceada do Coronel Childerico Fernandes, nos conta o seguinte: 
Do Alto da Conceição, na entrada de Mossoró, Lampião avaliou o tamanho da cidade que via pela frente. Ao contar as igrejas, sua reação imediata foi segurar Massilon pelo cangote: 
“Cidade de quatro torres é demais para cangaceiro atacar. Você ainda me paga”. 
Vinha contabilizando os insucessos da carreira do bandido e ainda ignorava completamente que, devido a ele, Mossoró recebia sinais de alerta através de Esther Fernandes, uma das filhas de Rufino, da Maniçoba, mulher de Ezequiel Fernandes de Souza, sócio de Alfredo Fernandes e Cia., da família de Rodolfo Fernandes. Ela fazia a ponte entre o irmão Zé Rufino, de Vitória, e o prefeito de Mossoró. 
Ao mesmo tempo em que Zé Rufino, então com 26 anos, conhecera Massilon, havia conhecido o jovem Virgulino, de 20. Tropeiros nos mesmos caminhos, os dois se cruzavam ao abrigo das oiticicas na travessia do rio nas cercanias de Apodi. Num desses encontros, nos tempos perversos de 1918, Zé Rufino assistiu a Virgulino surrar de chicote uma velha que roubava farinha para alimentar a penca de filhos. Desentenderam-se, trocaram advertências, mas o episódio encerrou-se aí. 
Nas mesmas sombras e lazer, desde essa época Massilon e Zé Rufino encontravam-se na lide dos comboios de algodão, de peles de oiticica, dos sertões para Mossoró, de onde, dos armazéns de Alfredo Fernandes & Cia., tiravam o sal para os varejos da Tromba do Elefante, as charqueadas do Cariri no Ceará e do Gurguéia no Piauí, de rotas mais curtas do que as de antigamente para o São Francisco e as Minas Gerais, porém mais freqüentes naqueles anos de expansão da carne de sol. 
Das estradas, a parceria dos dois chegou à mesa do café da manhã dos Fernandes, que Massilon associava a milhões e a mulheres perfumadas. Na casa de Esther, na intimidade da família, o cabra de olhar trigueiro deslumbrou-se no luxo do mobiliário e no jeito fortuito das moças orgulhosas nos seus vestidos de seda. 
Mesmo nas suas suspeitas, Lampião só desconfiou de que a obstinação de Massilon em atacar Mossoró escondia uma paixão quando já era tarde. Pelo resto da vida, aliás, ele nunca saberia que seu cabra alimentava a intenção única de se valer do chefe e seu bando como escudos, para raptar a irmã[3] do prefeito Rodolfo: 
“... que fiquem com todo o dinheiro. Eu só quero a minha Julieta”... 
Como se diz no Sertão: 
“é tudo “foquilore”!
 

 

Ou será verdade? Agreguemos aos depoimentos de Amarílio, Alexandro e Calazans o fato, que pode ter outra conotação, como será analisado mais adiante, de Massilon ter assumido para si a responsabilidade de atacar a casa do Coronel Rodolpho Fernandes enquanto Jararaca e seus parceiros distraiam os defensores pela frente. 
Por qual razão houve o ataque à residência do Intendente e, não, ao comércio? Por qual razão Massilon comandou o ataque? Por qual razão os cangaceiros, comandados por Jararaca, antes de se posicionarem para o ataque à residência do Intendente invadiram a residência de Joaquim Perdigão, seu genro, mas não atacaram seu vizinho?
 
 
 

CONTINUA... 

Leiam, anteriores a este texto, em www.honoriodemedeiros.blogspot.com:
4) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSÓRÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte);
6) SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO: O ATAQUE A MOSSORÓ RESULTOU DA PAIXÃO DE MASSILON POR JULIETA, FILHA DO CORONEL RODOLPHO FERNANDES (SEGUNDA PARTE).

[1] “AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE”; TAVARES, Amarílio Gonçalves; 2ª. Edição; Ceará.
 
 
[2] “O GUERREIRO DO YACO”; Fundação José Augusto; 2002; Natal, RN.
 
[3] Aqui o autor equivocou-se: é a filha do Coronel.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

POEMA DA DESPEDIDA




Mia Couto



Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

DE ELEIÇÃO

 
simplesmenteviane.blogspot.com
 
 
 
Honório de Medeiros
 
 
O BOM DA ELEIÇÃO, NÃO TENHAMOS DÚVIDA, É A ELEIÇÃO DO BOM!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

HÁ UM IPÊ AMARELO EM MEU CAMINHO




Honório de Medeiros
 
Há um ipê amarelo em meu caminho. Sim, em meu caminho diário há um ipê amarelo em flor.
 

Não que eu passe por ele com o vagar que sua beleza exige, a se derramar por sobre os olhos de quem vai e vem sem qualquer pudor. Ao contrário. Postado dentro de um jardim de Colégio, deixando ver apenas sua parte superior, mantém oculta sua plenitude, e se eu me aproximasse caminhando, o muro que o contém tomaria minha visão.
 

Posso vê-lo enquanto passo ao largo, reduzindo a velocidade do carro, e me contendo para não parar, descer, ir até o motorista que buzina impaciente atrás de mim e lhe perguntar se é insensível a tanta beleza. Melhor não, digo cá aos meus botões. Ele pensaria que sou louco.
 

Pensei em pedir ao porteiro para invadir a quietude do recanto onde reina, solitário, o ipê amarelo, e lhe levar minhas homenagens. Desisti. Primeiro por que eu teria que vencer a burocracia da identificação, o Colégio tem fama de muito rígido principalmente com visitas masculinas: “quem é o senhor? Deixe sua identidade, por favor”, ou coisa parecida.
 

Ele, o porteiro, não se quedaria vencido pela singularidade da minha proposta: “meu senhor, eu quero apenas cumprimentar o ipê amarelo!”.

Segundo porque, com certeza, o porteiro também não me consideraria, assim como o motorista que buzinava impaciente atrás do meu carro, completamente são, se eu mudasse o discurso e lhe dissesse: “olhe, eu vinha passando, e arrebatado pela beleza desse ipê amarelo, queria entrar no jardim, me aproximar dele, contemplá-lo, tocá-lo, ficar um bom pedaço de tempo em sua companhia...”
 

Claro que eu poderia envergar minha mais séria máscara de cidadão respeitável e dizer a esse porteiro-Cérbero sucintamente: “posso ver o ipê amarelo?” Mas não seria a mesma coisa. Não é correto, fere a ordem natural das coisas poéticas e românticas. Não podemos ver algo tão belo e tratá-lo como quem trata um mero jardim bem-feito.
 

Não é de outra forma que agimos quando queremos acariciar a criança que a mãe orgulhosamente exibe pelos cantos? Não lhe dizemos: “que criança linda!”, comentamos acerca da beleza dos seus olhos ou do cacheado dos seus cabelos, e lhe fazemos um carinho?
 

Como não fui até o ipê amarelo para render-lhe, qual fã incontrolável, minhas homenagens silenciosas e merecidas, bem diferentes daquelas que os homens atribuem uns aos outros em solenidades chatíssimas, pus-me a falar dele. A todos quanto eu julguei merecedor de participar de minha descoberta lhes falei do amarelo vivo tomando-o por inteiro, e o destacando contra o opaco do muro que o contém e o cinza urbano que lhe serve de entorno; falei-lhes em que ponto da cidade ele reina absoluto; falei-lhes de como ele desperta, em nós, tal sua presença, o senso de sua majestade.
 

Talvez não tenhamos merecido, eu e o ipê amarelo, a atenção devida. Não importa. Se somente um dos que me ouviram, dentre todos, se lembrar e quedar-se a contemplá-lo, quando passar por perto, me dou por satisfeito. Ele foi, então, verdadeiramente homenageado por mim.

sábado, 29 de setembro de 2012

LUTAR PELO CONTROLE. OBTER O CONTROLE. MANTER O CONTROLE.




Honório de Medeiros


Obter o controle. Estar no controle. Manter o controle. Faz parte da parafernália ideológica que é a tal da estratégia militar ou de combate. Está em Chomsky, basta lê-lo. Quem tem o controle tem o Poder, dizia, para um dos seus escravos, o extraterrestre que governava a terra no romance de L. Ron Hubbard, aquele autor americano de ficção científica que ficou mais famoso como criador da Cientologia, estranha seita preferida de 10 entre 10 atores famosos americanos.

O controle está para o Poder como a célula está para o tecido, o átomo para a matéria, digo eu. É através do controle que se estabelece a hierarquia, seja qual seja o ser vivo, parodiando Popper e sua Teoria Evolucionária do Conhecimento, ou seja, da ameba ao humano. Lula, que não é lido, mas não é burro, deixou bem claro ao analisar Pedro Simon e sua quixotesca candidatura a Presidente do Senado: “ele não é confiável”. Confiável ou controlável? Dá no mesmo nesse contexto sórdido da política.

Na raiz desse controle está a tendência inata do ser humano de explorar, absorver, extrair, para si, tudo quanto, naquilo que o cerca, amplie sua possibilidade de sobrevivência. Dawkins – esse mesmo que desencadeou uma cruzada contra Deus a partir de Darwin – afirmaria que fazemos isso manipulados pelos nossos genes. Para ele, nós somos nossos genes. O resto é invólucro. Ou seja, o resto é resto. Há controvérsias. Alguns acham muito radical essa teoria.

Trazer para o mais íntimo de nós, no aspecto físico, o que está por trás – mesmo que remotamente – das ações humanas deu um corpo de vantagem a Darwin sobre o velho Marx. Este, como se sabe, coloca a divisão do trabalho na raiz do problema do controle. Esta, a divisão do trabalho, vai fazer surgir a propriedade privada, ou vice-versa, as relações de produção, a infra-estrutura material, a superestrutura ideológica, enfim, ufa!, a luta de classes e a exploração do homem pelo homem.

Mas o que estaria por trás do surgimento da propriedade privada? O que está no começo da exploração do homem pelo homem? Marx não disse. Talvez seu companheiro Engels tenha esboçado algo a respeito a partir da análise dos estudos de Morgan, um antropólogo e etnólogo americano que andou estudando os nativos de seu país no final do século XIX, em uma obra que é muito citada nos meios acadêmicos e pouco lida. Pois Darwin disse. Disse claramente. E com ele, começou um novo capítulo das ciências sociais e, mais especificamente falando, da Psicologia Social Evolutiva.

Pois bem: voltamos ao ponto de partida. Somos levados, instintivamente, a controlar para explorar. Isso tanto em nível pessoal quanto social. Quem controla estabelece hierarquia. O povo, que não é besta, há muito denuncia, como pode, a arrogância da elite que põe o dedo em riste e pergunta ao Zé Mane: “você sabe com quem está falando?”, para tentá-lo controlar.

E não há limite para a intenção de controle. O céu é o limite. “Quanto mais temos, mais queremos ter.” O povo diz, o povo sabe. O senso comum é o ponto de partida para o conhecimento. Quanto mais queremos ter, mais nos tornamos predadores.

Claro que os controladores dão nomes bonitos a tudo isso. Faz parte do jogo, é uma estratégia de controle. Chamam a esse impulso predatório de ambição social, luta para deixar o legado na história, defender os interesses da sociedade, luta para ascender na escala social... Tudo lorota. Na essência, é o ruim e velho capitalismo de guerra e sua teia de argumentos justificatórios. No âmago do âmago, como diriam os exagerados, está esse egoísmo inato cujas vísceras Darwin expôs.

E os santos, alguém perguntaria. O altruísmo, diria eu, é sempre uma espécie do egoísmo.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DE KELSEN, GÖDEL E DA SOLIDÃO INTELECTUAL DOS ESPECIALISTAS

Kurt Gödel
www-history.mcs.st-and.ac.uk
 
 
Honório de Medeiros
 
Kelsen foi, sem dúvida, o mais fecundo e complexo dos filósofos que pensaram o Direito.
 
Mas os fatos,  destruidores de utopias filosóficas, e, no plano da lógica, Kurt Gödel, a quem Aristóteles não faz sombra, sepultaram o belo e ousado projeto de transplantar, para o entendimento, a compreensão, do universo jurídico, com a Teoria Pura do Direito, o ideário do positivismo lógico de Viena (Moritz Schlik) prenhe do ceticismo ontológico de Wittgenstein.
 
 Em sua última fase Kelsen rendera-se, muito embora o último e distorcido esgar do positivismo lógico, de forma oblíqua, fosse o funcionalismo sociológico americano. E, no mundo jurídico, Niklas Luhmann.
 
 O sistema jurídico não pode ser fechado,como Kelsen supunha, e isolado dos epifenômenos sociais com os quais ele constitui a trama social. Ao contrário, o sistema jurídico é aberto, eu diria mesmo escancarado, e fica reforçada, em assim sendo, a perspectiva que o considera, como o apontam os marxistas, um consequência do poder político.
 
Um engendramento, eu diria, mais que uma conseqüência, assim como a retórica e o terrorismo de Estado.
 
É de se lamentar que comentem Kelsen sem entender a filosofia da ciência de sua época. Sem entender Kant. Sem entender Marx.
 
Deus nos livre da solidão intelectual na qual vivem os especialistas em quase tudo acerca de quase nada. 
 
 
Hans Kelsen
darlanferreira.com.br
 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONTINUAÇÃO


Honório de Medeiros
SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO: O ATAQUE A MOSSORÓ RESULTOU DA PAIXÃO DE MASSILON POR JULIETA, FILHA DO CORONEL RODOLPHO FERNANDES (SEGUNDA PARTE)
CONTINUANDO A SAGA DE MASSILON:
6) INÍCIO DE JANEIRO DE 1927: Lampião retorna a Pernambuco; cruza Salgueiro, Leopoldina e Floresta.
7) 19 DE JANEIRO DE 1927: Lampião enfrenta, no lugar “Lagoa Queimada”, o Tenente Pedro Rodrigues.
8) COMEÇO DE FEVEREIRO DE 1927: Lampião enfrenta, no lugar “Umbuzeiro”, Termo de Lagoa do Monteiro, Pernambuco, os Tenentes João da Costa e Silva e Antônio Francisco.
9) ABRIL DE 1927: Décio Hollanda procura o Coronel Isaías Arruda para lhe pedir ajuda no ataque a Apodi, e lhe apresenta Massilon (fonte: depoimento de Mormaço e Bronzeado).
10) 10 DE MAIO DE 1927: Massilon ataca Apodi, Gavião e Itaú, no Rio Grande do Norte.
De Apodi os cangaceiros se retiraram pela manhã do mesmo dia 10, entre as nove e dez horas, rumo ao distrito de Itaú, RN.
Ali saquearam os estabelecimentos comerciais dos cidadãos Manuel Moreira Maia, Pedro Maia Pinheiro, João Alves Maia e as residências dos Senhores João Batista Maia e Paulino Pereira do Carmo (fontes: Raimundo Nonato da Silva, Raul Fernandes, Sérgio Dantas, Wálter Guerra, Marcos Pinto). Autores Intelectuais: Martiniano Porto, Décio Holanda, Benedito Saldanha, Quincas Saldanha, Tylon Gurgel. Executores: Massilon, Cajueiro, Cajazeiras, Calango, Lua Branca , Asa Branca, Rouxinol, Juriti, Limão, Júlio Porto , Miúdo, Gregório, João Pinheiro, Bronzeado , Luiz e Vicente Brilhante, José Coco, José Roque, José Pequeno e outros.
 
Tylon Gurgel, lider político em Pedra de Abelha, atual Felipe Guerra, e adversário do Coronel Chico Pinto, na época da invasão de Apodi por Massilon. Pedra de Abelha era distrito de Apodi.
 
11) DIA 12 DE MAIO DE 1927:– Lampião, que estava acampado em Porteiras, Ceará, segue viagem até a Serra do Diamante, terras do Coronel Isaías Arruda de Figueiredo.
12) DEPOIS DE 13 DE MAIO DE 1927: Massilon conhece Lampião.
Sérgio Dantas, em obra citada:
Em 11 de maio de 1927 Lampião penetrou no município de Jardim, Ceará, a légua e meia da vila de Porteiras. No dia 12 de maio segue viagem até a Serra do Diamante, terras do Coronel Isaías Arruda de Figueiredo, chefe político de Aurora e Missão Velha, no Ceará. Buscava refúgio e municiar-se. É o que nos contou o cangaceiro “Mormaço” quando interrogado em Pau dos Ferros, RN; Martins, RN; Mossoró, RN; e Crato, CE.
Em 10 de maio de 1927 Massilon tinha atacado Apodi, Gavião e Itaú. Como a empreitada fora toda orquestrada por Isaías Arruda, a pedido de Décio Hollanda, uma vez cumprido seu desiderato toma o rumo de Aurora, Ceará, aonde chega pelo dia 13 de maio para prestar contas de sua empreitada.
Cel. Chico Pinto, líder político e Prefeito de Apodi quando do ataque à cidade comandado por Massilon, a quem tinha sido encomendada sua morte
 
Aurora, penúltima semana de maio. Há dias Lampião já retornara da fracassada incursão à Paraíba. Finalmente – após longo périplo pontilhado de inúmeros percalços – alcançara o indevassável coito da Serra do Diamante, de Isaías Arruda.
Em dias subseqüentes, Lampião recebeu a visita de José Cardoso, parente do Coronel. Deslocara-se o fazendeiro até o valhacouto para apresentar-lhe o cangaceiro Massilon Leite.
O encontro de Lampião com Massilon deu-se em dias de maio, após o assalto a Apodi. Até aí, Lampião desconhecia completamente o novel bandoleiro. O cangaceiro Mormaço, em interrogatórios consignados nos processo-crime instaurados nas Comarcas de Martins e Pau dos Ferros, ambos em 1927, deixam claro esse particular. Também, nesse sentido, depoimento prestado por Jararaca à Polícia no mesmo ano. Todos são unânimes quanto à época do encontro.
13) 13 DE JUNHO DE 1927: Massilon ataca Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Em 10 de junho de 1927, pelas primeiras horas da manhã, Massilon entrou no Rio Grande do Norte junto com Lampião.
Dessa data até sua saída do Estado, em 14 de junho, à boca da noite, invadiu, junto com o bando, mais de vinte fazendas, quinze sítios, o Povoado Boa Esperança (hoje Município de Antônio Martins), o Povoado São Sebastião (hoje Município de Governador Dix-Sept Rosado), e o Município de Mossoró.
Em 12 de junho de 1927, passam ao lado de Caraúbas e Lampião é advertido : Por Caraúbas, não, Capitão. Lá se encontra o Gato Vermelho.
Dizem ter sido Massilon, velho conhecido de Quincas Saldanha , o Gato Vermelho, quem deu o aviso.
14) JULHO DE 1927: Comete homicídio em Aurora, Ceará. Episódio relatado pelo escritor Amarílio Gonçalves em “AURORA HISTÓRIA E FOLCLORE”.
15) 11 DE AGOSTO DE 1927: Ataca cercanias de Alto Santo, Ceará.
16) MARÇO DE 1928: Morre Massilon em Caxias, Maranhão .


CONTINUA...
Leiam, anteriores a este texto, em www.honoriodemedeiros.blogspot.com:
4) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSÓRÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte);

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DECLARAÇÃO DE VOTO PARA A OAB



 
Aldo Medeiros
 
 
Lúcia Jales
 
 
NÃO HÁ AVANÇO SEM MUDANÇA;
 
NÃO HÁ MUDANÇA SEM IDÉIA;
 
NÃO HÁ IDÉIA SEM CRÍTICA;
 
NÃO HÁ CRÍTICA SEM ATITUDE;
 
NÃO HÁ ATITUDE SEM CORAGEM;
 
NÃO HÁ CORAGEM SEM HISTÓRIA;
 
NÃO HÁ HISTÓRIA SEM REFERÊNCIAS.
 
Em assim sendo, declaro:
 
VOTO EM ALDO MEDEIROS E LÚCIA JALES PARA A OAB.

MOSSOROENSE FABRICA CERVEJA ARTESANAL

Por Erasmo Firmino
 
 
 
 
A "Maga" vem aí!!!

 
Muitos brasileiros estão fabricando a própria cerveja que consomem. É uma tendência que começou em Blumenau-SC, mas que está se estendendo por todo o país. São vários rótulos com vários tipos de cerveja.
 
Os cervejeiros artesanais preparam o líquido e reúnem os amigos para degustá-lo, oportunidade em que descrevem as fases da fabricação e as características da cerveja produzida.
 
Mossoró não poderia ficar de fora desta tendência.
O professor Gilson Pereira, da UERN, está fabricando em sua casa, no conjunto Urick Graff, a cerveja Maga, uma pale ale em alta fermentação com grau alcoólico de 5,4º.
 
O processo artesanal de fabricação leva aproximadamente 30 dias, resultando em 30 litros de cerveja. São várias fases: maltagem, brassagem, fermentação, maturação, filtragem e por fim o envase. São nestas fases que o cervejeiro artesanal define as características de sua bebida, como grau alcoólico, cor, aroma, sabor.
 
A cada nova produção um novo experimento. Vai valer sempre a criatividade de quem fabrica.
 
O professor Gilson Pereira começou a se interessar pela fabricação de cerveja caseira quando morou em Blumenau-SC por dez anos. Lá, bebeu muitas cervejas com características peculiares, produzidas artesanalmente por amigos.
 
Ao chegar em Mossoró decidiu que também seria uma cervejeiro artesanal. Fez um curso em São Paulo, comprou os equipamentos necessários, reservou um lugar em sua casa e então começou a produzir sua própria cerveja, denominada Maga.
 
Ontem, tive o prazer de degustar a cerveja produzida no primeiro lote. Durante a degustação o professor Gilson mostrou seus equipamentos e disse todas as fases do processo, que é mais trabalhoso do que complicado.
 
Quanto à cerveja, achei muito saborosa. É leve, mas com um sabor intenso, que deixa um gosto residual na boca, resultante da adição generosa de lúpulo. Assemelha-se as cervejas comerciais, mas tem um sabor mais marcante e peculiar.
 
O segundo lote já está em processo de fabricação. Nele, o cervejeiro Gilson Pereira está preparando uma cerveja mais encorpada, chamada de âmbar. A produção não tem fins comerciais. A intenção é apenas reunir os amigos e apreciar uma das bebidas mais antigas da humanidade, com registros desde 4 mil a.C.
 
OBS. Os petiscos feitos para acompanhar a degustação são todos feitos com cerveja.

DE UMA SEXTA FEIRA ENSOLARADA

 
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Honório de Medeiros
 
O carro parou ao lado da criança. Havia como que um assento de cimento – se é que se pode dizer assim – ao lado da banca de revistas, mas ela não deu muita atenção ao carro, nem mesmo quando seus ocupantes saíram e um deles lhe fez cócegas na cabeça e passou apressado.
 
A mãe, sentada, de cabeça baixa, cotovelo cravado nas pernas, tinha os olhos ocultos pela mão direita espalmada e não modificou sua postura para ver o que se passava ao seu redor. De relance se pôde perceber que parecia insensível ao tráfego barulhento, enquanto sua mão esquerda segurava firmemente o pulso da criança.
 
Entraram na banca. Compraram jornais. Separaram, de comum acordo, um chocolate para ser dado à criança. Saíram. Nada mudara. Ao se aproximarem perceberam as roupas de ambas – singelas, mas compostas. Ofereceram o chocolate sem dizerem qualquer palavra. A mãozinha frágil o pegou, ávida, enquanto um “oba!” despertava a atenção da mãe. Esta, tirando a mão dos olhos e encarando os dois homens que observavam sua filha deixou a descoberto um rosto ainda jovem, banhado em lágrimas.
 
- “Minha senhora”, perguntaram, “porque está chorando?”
 
 “Fome!”, respondeu.
 
A criança, de um louro amarelado que ressaltava sua ascendência negra, magrinha, magrinha, lambia, deliciada, o chocolate totalmente despido. Não se dava conta do que se passava ao seu lado.
 
- “Fome?”. Perguntaram novamente.
 
-  “É”. “Não tenho vergonha em dizer”. “Os senhores sabem se tem alguma Casa de Apoio aqui perto?”
 
- “Tem uma logo naquela rua”, responderam.
 
- “Está fechada”. “Tem o Albergue”, ela continuou, “na descida da ladeira, mas ele cobra vinte reais para o pernoite e refeições”.
 
Fez-se um silêncio incômodo, doloroso. Será que ali estava alguém querendo aplicar um golpe, explorando aquela infância comovente que agora brincava de lamber, um a um, os dedinhos sujos de chocolate, eles se perguntaram.
 
- “Vim do interior no carro da Prefeitura trazer meu marido para o hospital de emergência, mas não posso ficar lá e ele só sai segunda”
 
Era uma sexta-feira radiante, ensolarada...
 
- “Eu ia ficar na casa do meu pai. Ele mora aqui, mas se mudou e não mandou seu endereço novo. O carro da Prefeitura só vem na segunda, o que vou fazer para dar de comer a essa criança? Pedir eu não peço. Falei com o motorista da Besta para ele nos levar que eu pagava lá. Ele disse que não fazia fiado”.
 
Enquanto falava, as lágrimas pingavam uma a uma no regaço do vestido. As mãos torciam uma à outra. A bolsa, preta, de material ordinário, flácida, vazia, separava-a da criança que então olhava, atenta, um pequeno jorro de água que brotava da torneira mal fechada e originava um pequeno córrego a deslizar por entre o capim limitado por pedras de contenção. Os olhos da mãe já há muito não encaravam nada nem ninguém. Estavam perdidos no vazio. O desabafo era para o mundo que a cercava. Eles apenas o desencadearam. Parecia alheada de tudo.
 
- “Olhe”, disse um deles estendendo a mão que segurava a cédula.
 
Ela olhou durante algum tempo antes de pegá-la. Abriram as portas do carro.
 
- “Como é o nome dos senhores?” Levantara-se, puxando a menina.
 
- “Por quê?”
 
- “Eu quero rezar pelos senhores”.
 
Foram-se. Pelo vidro retrovisor era possível perceber a imagem que se distanciava. Continuavam no mesmo lugar, imóveis, as duas, olhando o carro. Mesmo pelo espelho era possível perceber uma mão segurando, firmemente, a cédula, enquanto a outra não largava a criança que dava adeus, em câmara lenta – tão pequena, tão frágil – destacando-se delicadamente contra o cinza da banca de revistas.