terça-feira, 4 de setembro de 2012
ACERCA DE TROGLODITAS E COVARDES
Marcelo Dieb
A tipologia é imutável: possuem bíceps, tríceps, retos abdominais, deltóides e trapézios hipertrofiados que ficam à mostra em camisetas justas e vitrinais.
Andam sempre em bando e ao contrário das andorinhas, são algozes.
Sem exceção, são microcéfalos e incapazes de uma sustentação oral sobre outro e qualquer assunto que não seja anabolizantes, carros, relógios, bebidas e mulheres. Sentem-se irresistíveis e ai de quem contrariá-los.
Não há perdão para a rejeição. Agridem, machucam, dilaceram e até matam.
Geralmente oriundo de lares onde a violência velada ou não dá o tom do dia a dia, projetam o que presenciam em suas casas nos lugares públicos que frequentam.
Acham-se machos, superiores, mas na hora do pega pra capar, se mijam e até imploram pela vida. Consomem regularmente muita bebida alcoólica, drogas ilegais, viagras e levitras para que a possibilidade de falhar no momento supremo, seja, a todo custo, afastada.
Humilham suas namoradas e fazem-nas passar por situações de profundo constrangimento o que lhes proporciona sensação de prazer e indiferença típica dos psicopatas.
São esses "fortinhos" que hoje infestam as casas noturnas de Natal. São esses seres abjetos que podem, tranquilamente, agredir uma filha criada com esmero, zelo e dedicação e que saiu de casa com o único objetivo de se divertir.
São eles que tiram a tranquilidade dos homens de bem que confiam nas suas filhas mas temem que a ineficácia do Estado permita ser acordado, um dia, na madrugada, com a notícia de uma filha agredida. São eles que dão o tom da violência gratuita e desmedida em nome de um status fajuto e oco.
Para que se sintam "in", perante a corja que os acompanham, é necessário o emprego da força que estimula um ego distorcido, atrofiado e carente de valores dignos dos homens e mulheres de bem.
Tive uma filha agredida, sim.
Covardemente.
Fico a matutar o que aconteceria com esses animais, se a agredida fosse filha de um deputado, senador, prefeita ou governadora.
Como sou tão somente um cidadão comum, resta-me tão somente a resignação e o conforto dos amigos que sofrem junto e tentar encontrar uma maneira de mostrar à minha filha que apesar do seu sofrimento, vale a pena a caminhada.
Afinal estamos aqui pra isso.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
POEMAS INOCENTES
Bárbara de Medeiros
Pesadelos de criança
Na esquina dos meus sonhos,
Tem um monstro que me assusta.
Por causa dele, ainda sou criança.
Seria mesmo um monstro?
Quando, na verdade,
me ajuda?
Tem um monstro que me assusta.
Por causa dele, ainda sou criança.
Seria mesmo um monstro?
Quando, na verdade,
me ajuda?
Classificado básico
Perdi-me.
Em algum lugar aí.
Quem me encontrar,
Favor me dizer.
Pois não sou ninguém sem mim.
Em algum lugar aí.
Quem me encontrar,
Favor me dizer.
Pois não sou ninguém sem mim.
sábado, 1 de setembro de 2012
A CRÍTICA É O PRESSUPOSTO DO CONHECIMENTO CONSCIENTE
A Árvore do Conhecimento
Leia mais em: http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2010/02/arvore-do-conhecimento.html
Honório de Medeiros
Um
dos maiores, senão o maior, males do qual padece a Educação, é a crença – o termo
correto é esse – no aprendizado por informação.
Por
essa crença nosso cérebro é como um recipiente vazio que deve ser preenchido
com o conhecimento que nos for fornecido.
Popper
denomina essa crença de “Teoria do Balde Vazio”, e ela depende,
fundamentalmente, da suposição de que conhecemos por que observamos, o que nos
conduz a um empirismo ingênuo, no qual a observação do que somos e do que nos
cerca é possível graças ao raciocínio indutivo.
Este não é o
espaço apropriado para analises acerca dessas teorias. Convém lembrar, de forma
parafraseada, entretanto, um “blague” que Popper, em tom irônico, apresenta em
uma de suas obras dedicadas à Teoria do Conhecimento: se solicitarmos a algumas
pessoas que durante certo tempo cronometrado apenas observem, e, em seguida,
nos digam o que aprenderam com essa observação, provavelmente todas elas
indagarão: “em relação ao quê?”
Pois parece
óbvio que somente é possível o conhecimento de algo a partir de um conhecimento
já existente, o que situa a observação no seu devido lugar, qual seja o de
comprovar, ou negar, uma teoria já existente.
Não por outra
razão a informação (conhecimento) que não é precedida de um conhecimento real,
concreto, indiscutível, que nos permita aceitar de forma crítica, e, portanto,
entender aquilo acerca do qual que se está sendo informado, resulta em nada.
E, também, não
por outra razão, lê-se sem que se compreenda, participa-se dos fatos sem que se
aquilatem suas causas, essência, e consequências, fala-se e escreve-se o que
não tem sentido, concretizando a imagem fiel da alienação intelectual que
descreve tão bem os habitantes do mundo em que vivemos.
Para que se
estabeleça o processo de aquisição do conhecimento é preciso que algo deflagre,
em nós, a angústia criativa de sobreviver a uma realidade que não mais é
apreendida pelo que sabíamos até então. Ocorre em situações críticas, e
independentes de nossa vontade. O senso comum diz isso de forma brilhante: “a
necessidade é a mãe da invenção”.
Podemos,
entretanto, gerar esse processo de conhecimento. Se formos estimulados a
criticar (no sentido de buscar falhas, contradições, desarmonias) na informação
que nos é fornecida, com certeza avançaremos. A crítica, portanto, é o
pressuposto do conhecimento consciente. Não por outra razão Bachelard, o
poeta/filósofo, afirmou: “O conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão”.
E não por outra razão Kiekergaard nos impeliu
a “duvidar de tudo”.
Muito mais
recentemente Karl Popper propôs que o conhecimento novo – não apenas a
filosofia – começasse por problemas. Esses problemas surgiriam do contraste
entre o conhecimento antigo, a expectativa de que regularidades, padrões, se
mantivessem, inclusive em relação a nós mesmos. Ao nos depararmos com algo que
o nosso conhecimento antigo não explica, há uma fragmentação nas nossas
expectativas e surge, então, o problema a ser solucionado. Observe-se que tal
teoria pressupõe a existência do conhecimento inato adquirido geneticamente, no
que é referendada pela teoria da seleção natural de Darwin.
A técnica mais
banal para o exercício da crítica é o uso do contra-argumento (contraexemplo).
Uma vez tendo recebido alguma informação, submetamo-la à crítica, argumentando
na medida de nossas possibilidades, contra ela. Nada teremos a perder, muito
teremos a ganhar em utilizando tal técnica. Outra técnica simples é indagar,
dialogar com a informação. Para tanto cabe usar o que nos ensina a técnica
jornalística, indagando a nós mesmos e também respondendo: Quem? Quando? Como?
Onde? O quê? Por quê?
Uma vez que o
espírito da crítica pedagógica, a vigilância epistemológica que pode conduzir à
ruptura epistemológica, à “reforma das ilusões”, se estabeleça como “Paidéia”, padrão
cultural, ideal civilizatório, o avanço será inexorável, e a nossa Educação
somente ganhará com essa opção.
Para que se tenha
ideia de como não evoluímos ao longo desses anos, em discurso na solenidade de
formatura de todas as turmas concluintes do ano de 1982, representando os
alunos, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tive a oportunidade de
dizer:
“Como entender, por exemplo, que no âmbito
da Universidade, onde o sonho e a crítica deveriam caminhar de mãos dadas,
permeando a efígie do futuro de esperança e conhecimento, nada mais se encontre
do que o imediatismo, o pragmatismo solerte e a mera repetição anacrônica de
informações? Como aceitar a inacreditável relação professor-aluno,
completamente abstraída da consciência do saber, que conjuntamente com a
preocupação de suscitar dialéticas, referendar críticas e debates livres, numa
ontologia da ideia ensinada e na aplicação do racionalismo docente, constitui a
preocupação básica de Gaston Bachelard, exposta em sua obra “Racionalismo
Aplicado”, onde nos lembra: “De fato, numa educação de racionalismo aplicado,
de racionalismo em ação de cultura, o mestre apresenta-se como negador de
aparências, como freio a convicções rápidas. Ele deve tornar mediato o que a
percepção proporciona imediatamente. De modo geral, ele deve entrosar o aluno
na luta das ideias e dos fatos, fazendo-o observar bem a inadequação primitiva
de ideia com o fato”.
Se na
observação do problema limitamo-nos ao componente psicológico da relação
professor-aluno, necessário se faz observar os próprios problemas estruturais
em torno dos quais gravitam os específicos. Precisamos ir ao encontro do
espírito mais geral que preside os fatos e as idéias no âmbito da Universidade.
Fundamental é retornar à consciência crítica e política no sentido
socrático-aristotélico, que é seu pressuposto maior. Fundamental é acreditar
que quimera e contestação, a discussão, a livre manifestação de idéias -
alicerce do conhecimento - caminham ou caminharão nos corredores da
Universidade.”
Portanto
precisamos ensinar a criticar, para que seja possível o conhecer, afastando, de
vez, essa perspectiva ideologicamente equivocada e intelectualmente
ultrapassada de informar para formar.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
CD NOVO DE KHRYSTAL É UMA OBRA DE ARTE!
CD de Khystal: do outro mundo, de tão bom!
Honório de Medeiros
Encantado com "Dois Tempos", CD novinho, novinho, dessa jóia da música brasileira chamada Khristal, mandei um e-mail para Zé Dias, seu Produtor Executivo, e "o cara" que é "a cara" da música no nosso RN:
ZÉ
Que CD lindo, lindo, Zé.
Gostei demais, como sempre gostei de tudo em que vc e Khrystal põem o talento para render...
Mas lhe confesso que minha predileta é "De Contente".
Perfeita: letra e música. Arranjos impecáveis.
Parabéns!
Um abração.
Honório.
Zé respondeu:
Meu Tarik de Souza do Alto Oeste,
QUERER DE GENTE POBRE: Ontem de dia, ALCEU LIGA DO GALEÃO querendo ir almoçar com KHRYSTAL e após o almoço, refazer uma fala do FILME dele que ela participa, pois a mesma não ficou boa. Fiquei feliz pela Lembrança.
A Noite, o NOVO JORNAL do DOMINGO que sai no SABADO, dá UMA PAGINA falando bem do CD, a exemplo do JORNAL DE HOJE e de TARIK DE SOUZA.
Fiquei muito feliz. A noite eu e Khrystal fomos ao Show e ALCEU se tranca com ela no CAMARIM e haja papo que em nenhum momento teve o convite para uma participação dela no Show. Sem sabermos, a PRODUÇÃO MANDOU preparar um MICROFONE a parte para alguma necessidade. No começo do show, ele a cita, dedicando a noite a ela e já no final a convida para dividir o palco. O publico foi a loucura. AUTO ESTIMA POTIGUAR, lá em CIMA. A menina que deu a cara para bater, cantando as COISAS do RN e do Nordeste, tinha o aval popular de um dos ícones da MODERNA MÚSICA NORDESTINA. No Domingo pela manhã, um AMIGO querido que é voce, AVALIZA o novo trabalho de KHRYSTAL. Querer o que? FUI PRA GALERA.
A Noite, o NOVO JORNAL do DOMINGO que sai no SABADO, dá UMA PAGINA falando bem do CD, a exemplo do JORNAL DE HOJE e de TARIK DE SOUZA.
Fiquei muito feliz. A noite eu e Khrystal fomos ao Show e ALCEU se tranca com ela no CAMARIM e haja papo que em nenhum momento teve o convite para uma participação dela no Show. Sem sabermos, a PRODUÇÃO MANDOU preparar um MICROFONE a parte para alguma necessidade. No começo do show, ele a cita, dedicando a noite a ela e já no final a convida para dividir o palco. O publico foi a loucura. AUTO ESTIMA POTIGUAR, lá em CIMA. A menina que deu a cara para bater, cantando as COISAS do RN e do Nordeste, tinha o aval popular de um dos ícones da MODERNA MÚSICA NORDESTINA. No Domingo pela manhã, um AMIGO querido que é voce, AVALIZA o novo trabalho de KHRYSTAL. Querer o que? FUI PRA GALERA.
Grato, MEU TARIK DE SOUZA do ALTO OESTE.
Zé.
O CD não para de rodar aqui em casa e eu, embevecido, começo e termino escutando "DE CONTENTE", letra e música de Khrystal! Mas desde já adianto: todas são lindas...
DIREITOS FUNDAMENTAIS, PACTO SOCIAL, CORRELAÇÃO DE FORÇAS POLÍTICO-SOCIAIS E RETÓRICA
O entendimento do que sejam direitos fundamentais é um pacto social construído historicamente pelos homens, dentre eles, obviamente, com maior expressão, os integrantes do "campo jurídico". Tal construção resulta da correlação de forças político-sociais existente em cada circunstância, e é pensada e expressa via Retórica.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
TOFFOLI ENVERGONHA O STF
O aluno reprovado Toffoli tentou dar aula ao professor
emérito Luiz Fux
Por Carlos Newton
Foi uma aula de direito às avessas. Todo enrolado, sem saber
o que dizer, fazendo pausas intermináveis, o ministro Dias Toffoli deu um voto
destinado a ficar na História, mas às avessas, para que os alunos de Direito
assistam diversas vezes e aprendam como não se deve proceder ao ocupar uma
caderia na mais alta corte de Justiça.
Ficou mal para ele e pior ainda para quem o conduziu até
essa investidura. Sua nomeação para o Supremo mostra que, em seu permanente
delírio de grandeza, Lula acabou perdendo a noção das coisas. Fez um bom
governo, foi o primeiro operário a chegar à presidência da República de um país
realmente importante, pelo voto poder, tornou-se uma festejada personalidade
mundial, mas o sucesso lhe subiu à cabeça, começou a fazer bobagens, uma após a
outra.
Lula poderia ficar na História como um dos mais destacados
líderes da Humanidade, mas não tem a humildade de um Nelson Mandela nem o
brilho de um Martim Luther King. Suas
tiradas acabam soando em falso e os erros cometidos vão se avolumando.
Dias Toffoli foi um dos maiores equívocos cometidos pelo
então presidente, que sempre se orgulhou de jamais ter lido um só livro.
Desprezando o sábio preceito constitucional que exige notório saber jurídico,
Lula nomeou para o Supremo um advogado de poucos livros, que por duas vezes já
tinha sido reprovado em concursos para juiz.
O resultado se viu no julgamento de segunda-feira. Todo
atrapalhado, Toffoli não sabia quando estava lendo alguma citação ou falando
por si próprio. O mal estar no plenário
foi num crescendo. Os outros ministros já não aguentavam mais tamanha
incompetência. Toffoli não se comportava como um magistrado, que
necessariamente tem de examinar os argumentos de ambas as partes. Limitava-se a
citar as razões dos advogados de defesa dos réus, sem abordar nenhuma das
justificativas da Procuradoria Geral da República ou do relator.
Ainda não satisfeito com essas demonstrações de
inaptidão e de parcialidade, Dias
Toffoli resolveu inovar. De repente, para justificar seu papel grotesco,
proclamou que a defesa não precisa provar nada, quem tem de apresentar provas é
a acusação. Fez essa afirmação absurda e olhou em volta, para os demais
ministros, cheio de orgulho, como se tivesse descoberto a pólvora em versão
jurídica.
Os demais ministros se entreolharam, estupefactos, e Luiz Fux não se conteve. Pediu a palavra e
interpelou Toffoli, que repetiu a burrice, dizendo que não cabe à defesa
apresentar provas, isso é problema da acusação.
Infelizmente, a TV não mostrou a risada de Fux, considerado
um dos maiores especialistas em Processo
Civil, um professor emérito e realmente de notório saber.
Até os contínuos do Supremo sabem que as provas devem ser
apresentadas tanto pela defesa quanto pela acusação, mas na faculdade Toffoli
não conseguiu aprender nem mesmo esta simples lição. É um rábula fantasiado de
ministro, uma figura patética.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO
Mercado Público de Mossoró, poucos anos após o ataque de Lampião
Em
1926, com mandato previsto até 1928, era Presidente da Intendência[1]
de Mossoró, Rodolpho Fernandes de Oliveira Martins, tendo como Vice seu parente
próximo Hemetério Fernandes de Queiroz. Os outros intendentes eram Luís Colombo
Ferreira Pinto, Francisco Clemente Freire, Antonio Teodoro Soares Frota, Manuel
Amâncio Leite e Francisco Borges de Andrade.
Mossoró,
segundo Raul Fernandes[2],
em 1927 competia com Natal, a capital do Estado. Enquanto esta tinha 30.600
habitantes, aquela possuía 20.300.
A
denominada “Capital do Oeste” era ligada ao litoral por uma estrada de ferro
que se estendia até o povoado de São Sebastião, atual Dix-Sept Rosado, na
direção Oeste, percorrendo quarenta e dois quilômetros, enquanto, por ela, estradas
de rodagem convergiam de vários recantos, percorridas por caminhões que, aos
poucos, substituíam o transporte animal.
Possuía
a cidade o maior parque salineiro do país. Três empresas descaroçavam e
prensavam algodão, produto denominado, na época, e por muito tempo ainda, de
“ouro branco[3]”.
Centro comercial importante,
em Mossoró se comprava peles, algodão e cera de carnaúba. Exportava-se, pelo
porto de Areia Branca, tudo quanto era trazido pelos longos comboios de
mercadorias chegados do interior da Paraíba e do Ceará, que voltavam levando
sal e produtos oriundos de centros mais avançados.
Havia
energia elétrica, que alimentava várias indústrias nascentes, assim como repartições
públicas federais e estaduais, além da agência do Banco do Brasil, que era o
único estabelecimento de crédito da região.
Na
cidade circulavam três jornais: ‘O Correio do Povo’, o ‘Nordeste’, e ‘O
Mossoroense’, este o mais antigo do Município, e um dos mais antigos do Brasil,
fundado em 1872. O ensino era ministrado por intermédio de estabelecimentos
para ensino secundário – a Escola Normal e a de Comércio, e em dois colégios
com internato – o Diocesano Santa Luzia para rapazes, e o Sagrado Coração de
Maria, dirigido por religiosas franciscanas, portuguesas, para moças.
PERFIS
Dona
Bernadete – Maria Bernadete Leite Duarte – guardava, aos oitenta e cinco anos,
a beleza dos traços que a fotografia – tirada no verdor de sua mocidade –
pousada em cima da cristaleira antiga, muito bem conservada, revelava.
Ela
nos recebeu a mim, Carlos Duarte e Cleilma Fernandes, estes do jornal
mossoroense “Página Certa”, e Paulo Gastão, fundador da Sociedade Brasileira de
Estudo do Cangaço – SBEC, em sua residência, no dia 18 de dezembro de 2006, em
um final de tarde tipicamente sertanejo, tornado mais fresco pela presença do
vento Nordeste e mais agradável pelo lanche com o qual nos brindou após a entrevista.
Dona
Bernadete é filha de Manoel Duarte, um dos heróis da resistência a Lampião em
Mossoró.
“Nasci em Mossoró”,
diz-nos ela, “em 1921, e aqui morei até
1950.
Quando completei quinze anos fui
estudar na Escola Doméstica em Natal. Minha mais antiga lembrança de Mossoró é
dos meus pais. Minha infância foi igual à de todas as crianças daquela época:
pulei corda, brinquei de roda, de boneca, gostava de bonecas de pano, fazia
teatrinhos, aperreava o pavão de Dona Filomena de Seu João Carrilho...
Dormíamos cedo, às 19h00min.
Tomávamos café da manhã às 07h00min, almoçávamos às 11h00min e jantávamos às
17h00min. Comíamos pão, biscoito, leite de vaca, ovos, cuscuz, coalhada no café
da manhã; feijão de arranque temperado com carne, cebola, alho, coentro,
cominho, arroz, farofa no almoço; mugunzá, cuscuz, coalhada no jantar. Comíamos
frutas e bolachas pretas.
Já mocinha, escutávamos, enquanto
arrodeávamos a Praça do Pax, a banda no coreto. Os rapazes ficavam em pé, de
frente para a parte interior da praça. Às 21h00min todo mundo ia embora.
Freqüentávamos o Clube Ipiranga e
íamos ao cinema diariamente com meu pai, Manoel Duarte. Eu adorava os musicais.
Gostava também muito de ler historinhas, o "Tesouro da Juventude".
Quando eu estudei em Natal, na
Escola Doméstica, saia nos finais-de-semana para a casa da esposa de Rodolpho
Fernandes. Lembro-me da passagem do Zeppelin e do Hindenburgo por Natal. O
Hindenburgo, que era mais grosso, ficava parado, suspenso no ar e soltava malas
para o pessoal da terra.
Quando da invasão de Mossoró
papai levou a família para Tibau e voltou para participar da resistência.
Rodolpho Fernandes era compadre de papai, padrinho de meu irmão Antônio Leite
Duarte.
Nunca ouvi falar na história de
Massilon ser apaixonado por Julieta, filha de Rodolpho.
Papai ficou na casa de Rodolpho, na parte de
cá (que dava para a Igreja de São Vicente) e havia outros na Igreja. Estes não
alcançavam os cangaceiros postados na parede lateral da casa de Alfredo
Fernandes, esquina com a Avenida Alberto Maranhão, mas apontaram Colchete que
já estava com uma garrafa de querosene na mão para jogar nos fardos de algodão.
Papai atirou em Colchete e Jararaca. Muita gente correu da luta.”
Dona
Iracema – Iracema de Assis Duarte – com seus oitenta e poucos anos, magra,
espigada, alerta, faz coro ao depoimento de Dona Bernadete.
Estamos
na calçada em frente à casa na qual ela mora sozinha. Não quer sair de lá, em
hipótese alguma, e se render ao chamado dos filhos.
É
o dia 19 de dezembro de 2006 e estamos quase ao lado da histórica sede da
Prefeitura Municipal de Mossoró, antiga residência de Rodolpho Fernandes, na
Avenida Alberto Maranhão, cujo tráfego, mesmo àquela hora crepuscular, não
esmorece. Passantes vão e vêm. Não se dão conta de que há setenta e nove anos
atrás o movimento, naquela avenida, se deu por motivos bem diferentes dos
habituais.
“A casa em frente à de Alfredo
Fernandes era de João Hollanda”, lembra Dona Iracema. “Os fundos davam para a casa de João
Marcelino – o médico que cuidou de Jararaca.
Naquele tempo, no entorno
da Igreja de São Vicente havia a casa da esquina da Rua Francisco Ramalho com a
Alberto Maranhão do lado de cá (no alinhamento da Igreja); havia a minha casa
(várias geminadas vizinhas ao palacete de Rodolpho), a de seu Artur Paula
(palacete cuja frente dava para a lateral da casa em frente aos fundos da
Igreja)[1], a casa onde hoje funciona a
Escola 13 de Junho, outra de umas catequistas...
Não havia pudim, bolo, doces na
minha infância. Era rapadura, cocada, pão doce, bolacha preta. Galinha aos
domingos. Coalhada de manhã para o pai. Não havia o hábito da verdura. A hora
das refeições era essa mesma que Bernadete falou. E as brincadeiras também.
Meninos não participavam. As brincadeiras: escravos de Jó, tique, esconde-esconde,
teatro infantil (representavam contos de fadas).
O cinema era o Almeida Castro, no
Grande Hotel. Esse Grande Hotel concentrava a nata da sociedade nos grandes
eventos. Os filmes eram mudos.
Manoel Duarte, um homem muito
sério, achava graça com os retratos dos heróis nas trincheiras. Dizia que a
máquina fotográfica era muito boa, pegava fulano e sicrano em Areia Branca...
Zé Otávio – o que fotografou as trincheiras – era o fotógrafo da época. Os
Fernandes[2] eram os ricos de Mossoró.
Dizia-se que Tertuliano era o mais rico.”
É
dezembro de 2006. Irmã Aparecida nos recebe, a mim e a Carlos Duarte, em seu
gabinete no Colégio Sagrado Coração de Maria – o Colégio das Freiras, onde estudaram
e estudam as filhas das elites de Mossoró, geração após geração.
Irmã
Aparecida tem o mesmo tipo físico de Dona Bernadete e Dona Iracema. Nela,
entretanto, o hábito de comandar se deixa perceber através das frases pontuadas
de forma mais incisiva, como a evitar contestações. Irmã Aparecida, apesar da
idade, ainda comanda o Colégio. Nada leva a crer, observando-se sua agilidade
física e mental, que a aposentadoria esteja próxima.
“Merendávamos às 09h00min:
coalhada, copo de leite, ovos batidos, fubá de milho com mel, ou gema de ovo
com mel de abelha. Almoçávamos às 11h00min. Não se conhecia feijão preto e não
se comia bode porque fedia. Comia-se melhor no campo que na cidade. Nas
refeições, silêncio: era preciso manter-se o respeito.
À mãe competia a educação. O pai
quase nunca se metia. Os castigos: ficar atrás do guarda-roupa e a palmatória.
A educação era feita através da tradição oral: não mentir, por exemplo.
Rezava-se o ofício, particularmente, todos os sábados. Mas não se misturava
moral com religião.
A diversão dos homens era jogar
sueca. A dos meninos irem para o terreiro. Líamos, quando muito, os livros
didáticos. Assistíamos filmes mudos pelo menos duas vezes por semana.
As grandes famílias de Mossoró
eram os Fernandes, os Leite, os Duarte. Ainda não havia Rosado. Não se sabia
quem eles eram. Os ricos eram Costinha Fernandes, João Marcelino, Miguel
Faustino, Tertuliano Fernandes...
Entretanto
tão instigante quanto essas entrevistas a respeito da Mossoró da década de
20 do século passado é a leitura das “Memórias” de Sebastião Gurgel[3].
Em
seu diário, no qual começa, no ano da invasão de Mossoró, portanto escrevendo
em março de 1927, alude, desde logo, à inauguração, em 1º de novembro de 1926,
do serviço da estrada de ferro Mossoró/São Sebastião (atual Governador Dix-Sept
Rosado).
Informa
que o inverno está sendo bom e que a estrada de ferro progride até Caraúbas.
Em
julho noticia a invasão de Apodi por Massilon, a 10 de maio, e a de Mossoró, a
13 de junho, por Lampião e seu bando.
É
avaro nas informações e mais ainda na análise do fato.
“Convém”,
escreve ele em seu diário, “consignar um
voto de louvor aos Srs. Cel. Rodolfo
Fernandes, prefeito da cidade, Julio Maia, que melhor que outro qualquer
dirigiu a defesa, Mirabeau Melo[4] que como encarregado do
telégrafo, prestou enormíssimo serviço, Dr. Gilberto Studard Gurgel, tenente
Abdon Nunes, Cornélio Mendes, João Fernandes, etc.”
E
acrescenta, irônico: “Eu, já se sabe,
nestas ocasiões, sou sempre o herói da retirada”.
Ainda
em julho relata um acontecimento “sensacional
– o casamento de Monsenhor Almeida Barreto com a senhorita Maria Nazareth de
Oliveira.”
Imaginemos o impacto que tal acontecimento
deve ter suscitado na provinciana Mossoró do início do século XX!
Somente
em outubro de 1927 Tião Fernandes volta a escrever em seu diário. Critica o
governo do Ceará por não tomar providências contra o cangaço. Registra ter
deixado suas duas filhas em Natal, para estudarem na Escola Doméstica. Em
dezembro, no dia 4, lembra que
“Em virtude de uma lei séria que
garante o voto à mulher, nesta semana (passada) requereu o título de eleitora
do município, a professora dona Celina Viana, sendo ela a primeira eleitora do
Brasil.”
E, também, que
“Em substituição do presidente da intendência Rodolfo Fernandes que
morreu no dia 10 de setembro, foi eleito para o mesmo lugar Luiz Colombo
Ferreira Pinto.”
[1] A casa onde residia Joaquim Perdigão, casado com
Julieta Fernandes, filha de Rodolpho Fernandes.
[2] Em curiosa crônica escrita para “O Mossoroense”, em
12 de março de 1950, assim se refere aos Fernandes, ao aludir a Mossoró e seus
capitalistas, Djalma Maranhão: “Fortunas imensas cimentadas no comércio do
algodão e na indústria do sal. Vicente
Fernandes e Alfredo Fernandes,
capitães de indústria, legando aos seus descendentes Paulo, Pedro, Ezequiel,
Xavier, Ademir e mais uma dúzia de jovens milionários, uma organização que é um
verdadeiro estado dentro do Estado do Rio Grande do Norte;” (“NOVAS IMAGENS DE MOSSORÓ”; MAIA, Jerônimo
Vingt-um Rosado; Coleção Mossoroense; Volume CVIII;
1980; Mossoró, Rn).
[3] “MEMÓRIAS DE UM COMERCIANTE E BANQUEIRO (DIÁRIO)”; GURGEL, Sebastião; Coleção Mossoroense; Série “C”; volume 1293; novembro de 2002; livro III; Mossoró, Rn.
[4] A quem se refere Paulo Fernandes, filho de Rodolpho
Fernandes e ex-Prefeito de Mossoró, de forma acrimoniosa, em carta transcrita
neste livro endereçada a Nertan Macedo.
[1] Prefeito, à época.
[3] “No Rio Grande do Norte, a produção algodoeira do
século XX refletiu todos os momentos de favorabilidade ou não das conjunturas.
Confiantes na
crescente demanda do produto e na consequente elevação dos preços, os grandes e
pequenos proprietários do Seridó, Oeste e Trairi encheram suas terras com a
lucrativa malvácea. Por causa dos seu alto valor, o algodão passou a ser
chamado de ‘ouro branco’. Um município seridoense recebeu essa denominação, em
1918, para homenagear a planta tão valorosa (SOUZA, Itamar de; “A REPÚBLICA VELHA NO RIO GRANDE DO NORTE”; EDUFURN – Editora da UFRN; 1ª edição; Natal;
2008).
terça-feira, 28 de agosto de 2012
OS MERCADORES DA MORTE
EUA ficaram com quase 80% das vendas de armas em 2011
O Globo
Os Estados Unidos venderam em 2011 o maior número de armas em sua história,
gerando R$ 134,26 bilhões, o que representou 77,7% do mercado mundial, segundo
um estudo do Serviço de Pesquisas do Congresso (CRS, siglas em inglês) divulgado
nesta segunda-feira. As vendas de armas americanas alcançaram um “crescimento
extraordinário” em 2011, triplicando os números do ano anterior, ressalta o
estudo. Em 2010, Washington obteve R$ 4,27 bilhões em exportações de armas, ou
seja, 48% do mercado mundial.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
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